Dodô faz curso para ser técnico e cita gol mais bonito que marcou pelo Vasco

No início de 2015 Dodô fez um curso ministrado por profissionais da CBF e voltará aos gramados em breve, agora como treinador.

Um dos últimos centroavantes técnicos, Dodô garante ter priorizado a simplicidade para chegar aos gols. Mas a verdade é que o futebol refinado do ex-jogador sempre pesou na hora de empurrar a bola para a rede, e o resultado disso foi uma coleção de obras-primas. Apaixonado pelo esporte, voltará aos gramados em breve, agora como treinador. No início de 2015 fez um curso ministrado por profissionais da CBF, na Granja Comary, com duração de dez dias e aulas divididas em dois períodos. Aprendeu ao lado de ex-atletas como Athirson e deixou claro um objetivo: brigar por condições ideais de trabalho. Tem a consciência de que nem sempre será possível montar times insinuantes, todavia promete batalhar pela volta do “jogo bem jogado”.

– Falando de Brasil, não dá para dizer que vou jogar no meu esquema. Isso é impossível no Brasil hoje, pois a parte financeira não permite isso. Não tem como escolher jogador. Na Europa, os caras chegam com um orçamento que possibilita a contratação de jogadores que atendem o esquema que o treinador quer jogar. Aqui no Brasil há clubes de maior investimento em que você pode se dar ao luxo de fazer isso, mas não é fácil. O Brasil vive um período de entrar na realidade de que o futebol não está fácil. É muito de acordo com o que time te oferece, com o seu financeiro. Aí sim dá para se moldar e jogar de acordo o que você tem à mão. Mas é claro que vou privilegiar o futebol bem jogado, de muita qualidade. Isso é o que todo mundo sonha – afirmou Dodô.

Dodô, o Artilheiro dos Gols Bonitos, riu ao ser perguntado se logo será apelidado como o “técnico dos times bonitos” e admitiu que a cobrança pela armação de equipes insinuantes será grande. E, embora confesse que nem sempre terá um time adequado às suas preferências à disposição, lança mão de estratégia favorável ao futebol arte: repelir a afobação na hora de escolher o local certo para se trabalhar. Acredita que procedendo assim, ele e outros recém-aposentados poderão mudar os rumos do esporte no Brasil.

– Já trabalhei com treinadores que sabiam privilegiar isso (o bom futebol), mas por influências extracampo, por parte financeira, deixavam isso em segundo plano. Eu sempre vou privilegiar o cara que tem qualidade. Ainda mais na posição em que joguei, onde é fundamental o cara saber jogar. Depende muito do que você vai encontrar. Às vezes se está num clube onde você não vai encontrar a condição ideal. Vai muito do treinador aceitar condições que privilegiem o estilo dele, até porque quem decide no final os rumos do time é o jogador. A gente vê treinadores aceitando trabalhos em que as condições não são boas e os mesmos depois saem reclamando, falando de estrutura e da falta de jogadores. Às vezes é melhor esperar, penso o futebol assim. Se me convidarem para ir a lugares em que não é possível trabalhar direito, que não tenham estrutura ou não tenham salário (em dia), não vale a pena. É muito prudente ver esse lado, principalmente nós que paramos há pouco tempo. Podemos melhorar muita coisa – observou.

O Artilheiro dos Gols Bonitos segue tendo a rede adversária como obsessão, é algo inerente à sua personalidade. Prudente e humilde, está ciente de que nem sempre poderá se lançar ao ataque, porém também não titubeia quando questionado a respeito de suas preferências em relação à postura de suas futuras equipes.

– A prioridade é sempre jogar mais ofensivamente. Assisto muitos jogos, vejo que dá para fazer times mais ofensivos, que joguem com toques rápidos e chegadas à frente. É minha prioridade, mas como já disse, vai depender do material.

Durante o papo, Dodô mostrou-se avesso a receitas do time ideal. Para ele, isso não existe. Comunga do jargão que “futebol não é ciência exata” e evita apontar um treinador em especial para inspirá-lo em seu próximo ofício.

– Trabalhei com treinadores vitoriosos com Abel, Muricy, Autuori, Cuca, o Parreira e um pouco com o Vanderlei. São vários conceitos distintos de caras vencedores e que pensam diferente. Aprendi bastante no curso que os caras estudam muito e isso é muito legal. Na verdade, quem vai decidir o método e o conceito é o treinador. Não tem ciência exata.

Ideais expostos, preferências declaradas e um curso exaustivo concluído. O que falta, então, para Dodô começar a nova carreira? Ele não faz projeções, mas vê um horizonte interessante em sua frente.

– Não dá para fazer previsão. Aprendi muito no curso sobre gerir clubes, categorias de base. Minha intenção de verdade é trabalhar em times profissionais. Já recebi sondagens para trabalhar em comissões técnicas. Estou pensando com carinho para entrar de vez no mercado. Sei que tenho condição, gosto muito e me dá prazer de estar em campo. Espero passar isso para os atletas. Estou no caminho certo. Preparado acho que ninguém está, porque sempre há coisa para se aprender no futebol, que é muito dinâmico. Mas estou no caminho certo para fazer coisas legais – garantiu. 

Dodô e Athirson fazem curso de treinadores

GloboEsporte.com:O Artilheiro dos Gols Bonitos vai virar o “Técnico dos times bonitos”?

Dodô: (Risos) Sei que a cobrança em cima disso vai ser grande, mas o Dodô jogador já foi, ficou para trás. É uma nova carreira. Adoro futebol bem jogado, sempre tentei fazer um jogo bem jogado, sempre gostei de jogar em times de bom futebol. Claro que vou privilegiar o jogador técnico, o que joga bem. Sei que isso pode acontecer. Estou conversando com você e vendo Arsenal x Leicester (terminou em 2 a 1 para o Arsenal, na última terça-feira). Adoro ver o Arsenal jogar. O Arsene Wenger (técnico do Arsenal) é muito inteligente, joga com saída rápida. Se meu time jogar igual ao dele (risos)…

Teremos o técnico Dodô ou o “professor Ricardo Lucas”, mais formal?

Até o pessoal no curso perguntou isso, mas não tem como (risos). É Dodô. Ricardo Lucas é começar do zero.

Falando no curso, como foi o funcionamento dele?

Tem uma abrangência muito legal. Fala de gestão, categoria de base, formação, fisioterapia, parte tática, física. É bem legal, interessante. Durou 10 dias. Chegávamos às 8h30 e íamos até 12h30, 13h. Voltávamos às 14h30 e íamos até 18h30. A pegada era pesada (risos).

Pretende dialogar individualmente com os mais jovens ou será mais abrangente em suas palestras?

Vai muito do dia a dia, do grupo que você tem, mas com certeza isso vai acontecer (conversas individuais). Vou procurar dar atenção, sim. Às vezes você vê um jogador bom tecnicamente chegando no time de cima muito rapidamente, ainda sem estar pronto. Temos que tentar melhorar isso e melhorar o jogador.

Embora tenha jogado em seis dos oito grandes do eixo Rio-São Paulo (São Paulo, Botafogo, Fluminense, Santos, Palmeiras e Vasco), você acabou não ficando ligado demais a nenhuma deles, apesar da grande identificação com o Botafogo. Acha que isso facilitará seu trabalho para, por exemplo, dirigir Flamengo ou Corinthians, os únicos dois grandes do eixo em que não atuou?

Apesar de ter mais tempo em São Paulo e Botafogo, nunca dei trabalho com polêmicas com outros clubes. Acho legal isso, acredito que tenho muitas portas abertas. Vejo que as pessoas me respeitam por eu sempre ter tentado fazer um bom futebol.

Deixando o assunto treinador de lado, vamos lembrar dos gols. São muitos, então eleja, por favor, cinco dos mais bonitos. Vamos exibi-los aos internautas do GloboEsporte.com (confira acima das perguntas).

Vou colocar um dos cinco (pelos quais mais atuou, São Paulo, Botafogo, Santos, Vasco e Fluminense). Pelo Fluminense é o contra o Arsenal (pela Libertadores de 2008). No São Paulo, fiz gols maravilhosos, mas tem um contra o Grêmio em que peguei a bola do meio-campo e saí driblando todo mundo. Pelo Santos também fiz gols lindos, mas pega aquele do chapéu em Porto Alegre, contra o Internacional. Pelo Botafogo tem um monte, gols de bicicleta, um lindo contra o Vasco, mas deixa aquele da final contra o Madureira, de muito longe. E pelo Vascão pego o terceiro dos 6 a 0 contra o Botafogo.

Globo Esporte

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