A dívida do Vasco

Texto que explica sobre a dívida do Vasco da Gama.

A Dívida

Após a desqualificação do atual vice-presidente de finanças, Sr. Nelson Monteiro da Rocha, quanto à apresentação das contas do Club de Regatas Vasco da Gama, bem como de seu “presidente” que coonestou com tal obra – mesmo sabedor de que preceitos estatutários de sua responsabilidade e de seu par, neste caso, foram postos de lado – cabe-nos aqui voltar a um tema usado como pano de fundo para ações contrárias à instituição, desde sua caracterização como maior devedora do país, até sua suposta recuperação em fabricação de números e exacerbação do conceito de que a idiotice impera entre os vascaínos.

Vamos inicialmente tornar claras e evidentes as circunstâncias que levaram o clube a dever cerca de 190 milhões de reais no sexto mês de 2008, após dever cerca de um sexto disso onze anos antes, segundo informações do MUV, também datadas daquela época.

Entre o acordo com o Nations Bank e o fim da era Calçada no Vasco, algumas dívidas foram pagas, outras postergadas, mas o uso do dinheiro recebido com a parceria trouxe, sem a menor sombra de dúvida, um período de absoluto destaque do clube em plano nacional e internacional, visibilidade incomum e conquistas de várias ordens, desde as patrimoniais até as esportivas.

Com ou sem banco, com muito ou pouco dinheiro, com ou sem apoio da mídia com uma oposição forte ou fraca, com times ótimos ou medianos, com boas ou más opções de gestão, uma pessoa inequivocamente mudou a história do Vasco atuando como seu representante, ou popularmente dizendo, dando a cara, para transformar o Vasco num clube absolutamente diferente dos 25 anos anteriores à sua chegada – em posição decisória e ligada diretamente ao futebol – o que ocorreu em 1986. Uma Taça Guanabara conquistada após nove anos, um bi dela após uma década, um Campeonato Carioca após cinco anos, um Bi, após 38 anos, um Brasileiro após 15 anos, um Carioca Invicto após 43 anos e um Tri Campeonato Carioca inédito na história do clube se juntaram a um reconhecimento do Sul-Americano de 1948, com status de Libertadores e a inclusão do clube na Supercopa Libertadores de 1997. Naquele mesmo ano e nos quatro subsequentes mais um Brasileiro, o Carioca no ano do Centenário, o Bi Sul-Americano, um Rio-SP isolado após 41 anos ou 11 disputas se assim preferirem, além da inigualável conquista da Copa Mercosul, devida as circunstâncias, já obtida com Eurico Miranda eleito presidente do clube, dado o fato de ter sua chapa feito as 150 cadeiras do Conselho Deliberativo na eleição de novembro daquele ano.

O Vasco, de fato, ganhou e ganhou muito. Tais vitórias diminuíram rivais, enervaram a mídia, tendo em vista a óbvia superioridade do clube quanto ao seu mais queridinho e – algo pouco notado à época – atiçaram a fogueira de vaidades presente em São Januário, composta por gente que esteve no clube e pouco produziu em favor dele sendo aniquilada politicamente por Eurico Miranda – que extinguiu a seu modo engenheiros de obras feitas e eminências pardas inúteis ao Vasco – tendo reiterada sua mediocridade ou pequeneza após o golpe perpetrado contra a instituição em junho de 2008.

O que poderia fazer a oposição do Vasco no decorrer de todos aqueles mandatos desde 1986 até 2000? Falar de dívidas, obviamente. No campo esportivo alguns tentavam desqualificar o Vasco e sua gestão fazendo coro à mídia na falsa e cínica estória do vice, mas isso era muito pouco para convencer o vascaíno a trocar o certo pelo duvidoso.

O Vasco dentre os clubes grandes do Rio de Janeiro sempre se manteve em situação patrimonial e financeira melhor que os demais, mas já nos anos noventa havia lupa para qualquer mazela do clube e discursos dos mais coniventes com exacerbação de gastos, principalmente do mais queridinho e já falidão da mídia.

No ano 2000 o parceiro do Vasco, Nations Bank, quis ingerir nos destinos do clube e aí bateu de frente com Eurico Miranda. O contrato feito não comprometia um centímetro do patrimônio do Vasco, sendo este infinitamente mais vantajoso do que os assinados com Palmeiras (Parmalat) e Corínthians (Hicks Muse). Junto a Calçada a turma do banco via entrada, mas Eurico fechava as portas. Assim, a partir de julho daquele ano o banco resolveu parar de cumprir sua obrigação contratual e em meio à discussão o Vasco precisou trabalhar com recebíveis das cotas que tinha direito, por contrato, junto à Rede Globo, a fim de pagar seus compromissos.

Supondo que a necessidade financeira do clube o envergaria a ponto deste “entregar” os dois títulos que disputava, ou quem sabe ao menos um deles (o Brasileiro) a Globo sugeriu após a disputa de sete jogos de mata-mata em 16 dias que o Gigante da Colina se dispusesse a entrar em campo mais seis vezes em 11 dias, a fim de que não se atrapalhasse a grade global de fim de ano. Surpreendidos foram com a não aquiescência de Eurico Miranda, que não só gritou a favor do Vasco como foi em busca de seus direitos proporcionando a conquista dos dois títulos, o último deles já em 2001.

A Rede Globo, desde a atitude do Vasco, não mais aceitou fazer a antecipação das cotas e, com isso, tal fonte de receita ficou bloqueda. Eram 38 milhões de reais que segundo engenharia da própria empresa se transformariam com descontos e juros no valor de 45 milhões até o acordo feito em 2002, decorrente de uma necessidade da própria Globo em ter o Vasco como aliado na ocasião.

Enquanto isso, o parceiro passava de seis meses sem satisfazer seu débito para com o Vasco. O clube denunciou o contrato e teve uma demonstração de que a razão lhe pertencia após declaração de Luís Barbosa, executivo do próprio banco afirmando haver a pendência, algo na época em torno de 36 milhões de reais, mas o que, na prática, não definia a ação em favor do Vasco.

Não havia banco, não havia possibilidade de recebimento das cotas e pior: havia a Lei Pelé. O Vasco tinha em seu balanço, considerando ativos envolvendo atletas com passe pertencente ao clube algo em torno de 55 milhões de reais.

Em meio a essa situação Eurico Miranda assumiu o Club de Regatas Vasco da Gama no início de 2001. Convenhamos, assumiu para que? Com um mandato de deputado federal em pleno andamento, uma CPI contra o Vasco que cairia toda no colo do ex-presidente Antonio Soares Calçada, sem dinheiro para cumprir os compromissos firmados pela gestão anterior e sem condições de pagar as contas mais comezinhas do clube, além de um massacre midiático contra a sua pessoa regido pelas Organizações Globo, com eco em praticamente toda a imprensa. Por que alguém tão vencedor e incontestável junto aos sócios vascaínos (vencera as eleições em novembro, antes das conquistas da Copa Mercosul e Brasileiro de 2000 com quase 90% dos votos) iria jogar tudo isso num governo fadado ao fracasso, diante do quadro caótico que o clube se encontrava naquele instante? Quantos fariam isso sem se vitimizarem, ao menos? Eurico Miranda se viu como que cumprindo uma missão. Tinha que dar satisfação a todos os vascaínos que nele confiaram. Que haviam votado nele nas eleições do clube e que contavam com ele como seu representante na defesa intransigente do Vasco.

O clube passou por todo o tipo de pressão e tentativa de se derrubá-lo, mas não sucumbiu. Naqueles 18 meses recorreu-se a empréstimos, vendas possíveis de alguns atletas. O sangramento financeiro, que ao mesmo tempo machucava o coração dos verdadeiros vascaínos dava algo ao grupo de oposição a Eurico Miranda pelo que se babava por anos. Uma junção de invejosos, despeitados, néscios, “quens” e claro, como sempre, incautos prontos a aproveitar o momento para não só alimentar o discurso da mídia, notadamente contrário aos interesses do Vasco, como sustentar quem fazia mal ao Vasco com todo o aparato necessário para tal execução.

Para desespero dos inimigos do Vasco (carapuças ao ar) o clube suplantou o torniquete covardemente declarado e sordidamente perpetrado contra a instituição. Após turbulentos 2001 e 2002 o Vasco voltava a ser campeão estadual no ano seguinte escrevendo a mais bela letra contra o ódio alheio, numa decisão transformada em vergonha pelos sem vergonha que trataram o título como tal.

O Vasco superara o torniquete financeiro, sobrevivera, apesar de tantas dores pelas perdas daquele tempo e já se encontrava desimpedido para assinar contratos, trabalhar com recebíveis e até mesmo reinventar-se. Hora de sair? Campeão novamente, com status de ter enfrentado e superado os maiores poderes econômicos do país, tendo brigado pelo Vasco diante de tribunais e até mesmo da Polícia Federal na ação despropositada, desmedida, desrespeitosa e inaceitável quanto ao clube, proporcionada por ordem de algum dos irresponsáveis que fizeram da CPI palco para candidaturas futuras. Nada mais a provar para ninguém. Treze títulos em dezoito anos de Vasco, mais o reconhecimento de talvez o principal deles todos, junto à Taça Libertadores (com valor similar a ela): o Sul-Americano invicto de 1948. Não. Sair àquela altura – sabedor que muitas pendências advindas de outras gestões, mais os compromissos assumidos diante do torniquete financeiro tanto para pagá-las, como para fazer o Vasco se manter em pé –seria uma irresponsabilidade. Entregar o Vasco a quem se propunha a assumi-lo, ou seja, um ex-atleta, néscio em termos administrativos e zero à esquerda dentro da vida vascaína para além das quatro linhas, seria não só temeroso como fatal para o clube, necessitado de uma engenharia financeira, de fato, sem pompa e com muito trabalho.

Eurico Miranda participou das eleições de 2003, as venceu e partiu para a labuta mais expositiva de si para toda a nação cruzmaltina. Por alguns anos o clube não teria mais os times de ponta de outrora. Havia de ser feito um equacionamento das dívidas. A aposta de investimento seria na base, a partir de profissionais contratados para tal, junto ao pioneiríssimo – entre os grandes clubes – Colégio Vasco da Gama. A base nortearia o futuro do Vasco. Ao invés de um atleta caro com luvas, o saneamento de impostos, entre aquele centroavante em moda no mercado, o cumprimento de um acordo firmado, diante da possibilidade de algum vascainíssimo empresário oportunista, a opção pela manutenção incólume da base nas mãos do clube.

Os balanços anuais passaram a ser publicados em jornais de grande circulação por força de lei. O clube se mostrava com um quadro preocupante diante dos números quanto às dívidas, mas se observava a cada ano um equacionamento dos principais débitos. Valores a serem pagos, ou retirados do que se tinha a receber, caso das cotas de TV, ou do acordo junto ao TRT. Eurico Miranda deu atenção especial aos impostos recuperando praticamente 30 milhões em créditos tributários, Quando o Vasco adentrou na Timemania solucionou-se de vez mais esse problema e os impostos dali para frente foram todos pagos, conforme devido. Romário, Globo, Vasco-Barra, entre outros acordos foram equacionados normalmente, com uma forma de pagamento que não onerasse o clube a ponto deste não ter como cumprir suas obrigações.

Com crédito no mercado e a fama nele próprio de bom pagador, o Vasco trabalhava de forma tranquila e continuada com recebíveis; apesar das sabotagens conseguia fechar acordos com marcas de primeira linha para patrocínio e serviços e, já no início de 2008, apresentava os frutos colhidos na base com a franca possibilidade de se transformarem em negócios rentáveis para o clube em curto espaço de tempo.

Por ter uma conduta administrativa exemplar, organização, comando e p-l-a-n-e-j-a-m-e-n-t-o o Vasco também no futebol, apesar da limitação dos times, chegava a finais e à possibilidade de alcançar novos títulos. Em cinco oportunidades na disputa de pênaltis, pelas mãos da arbitragens, ou ambos o time de futebol não chegou a decisões de turnos ou campeonato, tendo obtido isso de forma inédita, na Copa do Brasil de 2006 e na tentativa do bi-carioca em 2004. No Brasileiro, após anos fracos, entre 2003 e 2004, o time chegou, a partir de 2005, sempre classificado para a Copa Sul-Americana, condição que desfrutava quando se deu o golpe de 2008, além de ter frequentado a zona da Libertadores em 23 das 84 rodadas entre os Brasileiros de 2006, 2007 e 2008, não frequentando a zona de rebaixamento em nenhuma delas.

Quanto aos esportes amadores, o Vasco não perdeu a supremacia no Remo, mesmo com o golpe, chegou já em 2007 ao vice-campeonato estadual de basquete, manteve esportes de referência como o Karatê, bem como estrutura nos mais variados esportes olímpicos, fundamentalmente, a partir das divisões de base.

Em relação às sedes, estas se encontravam conservadas e em obras permanentes de estrutura, acabamento, pintura, etc.. O Vasco cuidava de seu patrimônio gastando algo em torno de 150 mil reais mês para isso.

O clube foi deixado com salários em dia, tanto de atletas como de funcionários (desde 2004); impostos em dia; acordos pagos (Globo, TRT, Romário, Vasco-Barra, etc…); sem nenhum título protestado; 10 milhões de reais a serem trabalhados, fruto da venda dos direitos econômicos de Phillippe Coutinho; mais um contrato de TV assinado até 2011 (com o Vasco recebedor das maiores cotas em nível estadual e nacional) podendo este ser usufruído com recebíveis, a partir do segundo semestre de 2009 até o fim do compromisso, mais metade do valor referente ao primeiro semestre de 2009; com rendas sem qualquer tipo de penhora; valores a receber de patrocínios e parceiros das mais variadas ordens; atletas da base 100% vinculados ao clube ou quase isso; em nono lugar no Campeonato Brasileiro já tendo enfrentado Grêmio, Inter-RS, Cruzeiro, Palmeiras e Botafogo (no Engenhão e com 10 reservas); ocupando a cadeira de vice-presidente do Clube dos 13, entidade que entre outras atribuições faz a divisão das cotas de TV entre os clubes) e desfrutando de uma posição de independência e respeito junto às entidades dirigentes do desporto nacional.

A assunção de uma trupe composta, em termos de Vasco, por desqualificados, desinteressados, politiqueiros, incapazes, despreparados, caloteiros, cínicos, irresponsáveis, interesseiros, desatualizados, insensíveis ou desapegados do que representa o Club de Regatas Vasco da Gama, sua história, tradições e preceitos deu no que deu.

O Vasco parou de pagar impostos; atrasa salários de forma continuada no decorrer dos últimos dois anos; dá calote a torto e a direito; fabricou uma dívida na canetada e quis tentar com a borracha apagá-la, objetivando obter ganhos políticos pessoais, como se tornou óbvio neste período eleitoral; caiu de divisão; desrespeitou poderes, estatuto; postou-se na política externa de bruços; abriu sua base para vascainíssimos lucrarem com ela por troca de negócios bons para eles e péssimos para o clube; destruiu a estrutura administrativa com a demissão de quase 100 funcionários, com 10, 20, 30, 40 anos ou mais de casa, em desacordo com as leis trabalhistas; abandonou os esportes olímpicos, desde a base, como o fez com relação ao Remo, entre outras modalidades; tratou o Colégio Vasco da Gama por cerca de um ano e meio com desprezo aos professores e inadequação alimentar dos alunos; tem hoje vários títulos protestados contra si e penhoras fruto de inadimplências quanto a acordos firmados ou indolência (desídia se preferirem) quanto a supostas dívidas surgidas em meio à própria administração com carimbo do passado; foi despejado do Vasco-Barra por falta de pagamento; fechou uma série de contratos lesivos contra o clube, a se destacar o programa de sócios no qual ilude incautos com números mentirosos e põe no mesmo patamar adimplentes e inadimplentes, sócios e não sócios; terceirizou uma série de serviços já tendo sido cobrado na Justiça por falta de pagamento quanto a isso; caiu de divisão no futebol e hoje vive de uma realidade absolutamente fantasiosa, na qual contrata sem ter como cobrir os gastos, já pedindo dinheiro emprestado para vascainíssimos quanto ao pagamento da inscrição e ressarcimento das pendências com os atletas e os clubes de onde vieram; e, evidentemente com isso tudo não só aumentou a dívida do Vasco, como a passos largos pôs e põe o clube em situação financeira, econômica e institucional, além de delicada, realmente preocupante. Agora, de fato, sem discursos vazios, falsas verdades ditas através da mídia, teorias do caos e falácias que escutamos por quase oito anos a fio.

Não havia fila, não havia preparo, não havia investidores, não havia projetos, para além dos pessoais, não havia verdade nos discursos, não havia preocupação institucional, não havia vascainismo correndo nas veias em proporção maior ao ódio. Por outro lado, antes, não havia caos, não havia insolvência (na prática), não havia ladrões, roubo, falcatruas, mas pouco dinheiro disponível, muito trabalho, dedicação, espírito de colaboração, vascainismo e preocupação não só com o presente, mas com o futuro da instituição.

Sobraram desculpas, sobrou palanque pós-eleitoral, sobraram desvios (do foco principal que era o Club de Regatas Vasco da Gama) sobrou demagogia, sobrou cinismo, sobrou o Vasco para os que fizeram de uma oportunidade um monte de lama.

O Parecer do Conselho Fiscal nada mais é do que a manifestação clara, inequívoca, por extenso do quão se fez mal ao Club de Regatas Vasco da Gama no decorrer dos últimos 25 meses.

Sérgio Frias

Fonte: CASACA!

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