Diniz analisa derrota do Vasco contra o Corinthians; veja a entrevista coletiva
O técnico Fernando Diniz afirmou que atuação do Vasco diante do Corinthians foi uma das piores sob seu comando.

O Vasco voltou a perder no Campeonato Brasileiro, neste domingo, e não se desgarrou da zona de rebaixamento. O time de Fernando Diniz foi derrotado pelo Corinthians por 3 a 2, em São Januário, e se manteve com 19 pontos, na 16ª colocação. O técnico analisou o desempenho, que foi contrastante com o apresentado na goleada sobre o Santos, há uma semana:
— Eu não vou fugir da responsabilidade do jogo. Em uma semana era um céu sem limite e agora é um sentimento de depressão muito grande. Ganhar como a gente ganhou do Santos e, depois, fazer as duas partidas que fizemos, foram as duas piores sob meu comando. Eu tenho responsabilidade máxima nisso. Se o time joga mal como jogou hoje e lá em Caxias. Lá muito mais pela questão anímica: corremos menos, nos dedicamos menos, estávamos menos concentrados e merecemos perder para o Juventude. O Corinthians também correu mais, foi taticamente melhor e mereceu vencer. A gente não é aquilo que aconteceu contra o Santos, fez um mal que não deveria fazer. Aquela vitória tinha que se encerrar ali.
Nos minutos finais da derrota, torcedores do Vasco xingaram Fernando Diniz e o presidente Pedrinho. Jogadores ouviram gritos de “time sem vergonha”. O técnico concordou com as vaias:
— O torcedor está certo de tudo. De vaiar, me xingar, extravasar. Do mesmo jeito que esteve certo de extravasar positivamente contra o Santos. O time quer o que? Jogar assim e ser aplaudido? Contra o Bragantino a gente não foi vaiado. Perdeu de 2 a 0. O time lutou, se entregou, tentou daqui, de lá. Hoje o time foi digno de vaia. Tem que ser vaiado. O que fazer? Trabalhar muito e voltar a fazer o que a gente estava fazendo, marcar bem e produzir chance de gol. Jogar de forma coesa, estar próximo, não só fisicamente, mas também em termos de pensamento e conexão. Para a gente poder fazer as coisas que vinha fazendo e os resultados voltarem a acontecer.
Diniz defendeu seu estilo de jogo durante a entrevista, quando perguntado se o modelo estaria previsível para os adversários:
— Você fez uma pergunta bem legal para mim, querendo me colocar em uma situação que não vai conseguir. Esse tipo de pergunta eu ouço há 15 anos. Posso pegar um recorte maior e dizer que peguei o Fluminense na zona de rebaixamento e foi terceiro colocado, o São Paulo as duas últimas Libertadores diretas foram comigo. Por aí vai. Naquela época eu já estava na praça há muito tempo. Mas toda vez que acontece algum declínio essa pergunta é feita. Tudo bem, ela é legítima, mas ela carece de sentido. Só no número. Se você quer só o número, a pergunta está legal. Mas te falo que estamos em direção muito opostas. Igual contra o Santos. Foi 6 a 0 o jogo e eu tive a mesma entrevista.
— O desempenho levou a isso. O desempenho que o Vasco estava tendo dava muita segurança que a gente teria chance de sair da zona de rebaixamento e desempenhar na Copa do Brasil. Se a gente desempenhar assim a chance diminui muito. O desempenho é uma coisa que eu vou buscar sempre. Você pode jogar muito bem, criar dez chances de gol, o seu adversário uma e perder por um a zero. Não foi o caso de hoje, mas é o que estava acontecendo. Hoje a gente poderia ter vencido o jogo, foi 3 a 2. Poderia ter ganhado de 2 a 1, mas não ia mudar muita coisa para mim. Ia mudar obviamente a coisa que importa muito que é a pontuação, mas não o que aconteceu no jogo. A gente ia ter que melhorar, porque se fica desempenhando desse jeito a chance de perder é muito grande.
O time de Diniz corre risco de ser ultrapassado por duas equipes ainda nesta rodada: Vitória (19 pontos) e Juventude (18). O time baiano enfrenta o Flamengo no Maracanã, nesta segunda, e a equipe gaúcha joga neste momento contra o Botafogo.
Outras declarações de Diniz
Jogadores improvisados – Nuno como volante
— O Nuno jogou algumas partidas como ponta, mas não tem característica de ponta, nem o Garré. São jogadores que jogam muito mais por dentro do que pela ponta. Não são jogadores de velocidade, não são jogadores de drible. São jogadores com boa condição técnica e tem um jogo de aproximação. Pelo menos é assim que enxergo o Nuno, pode jogar de ponta, mas vindo jogar por dentro, como ele fez e tem feito comigo constantemente. Em algumas situações ele fica aberto na ponta, como jogou contra o Santos, de falso 9. Não acho que foi improvisação. Nuno pode jogar de 8, de 10, aberto, mas o jeito dele jogar não modifica. A gente precisa ganhar o jogo. Empatamos com essa mudança, Nuno passou a render mais de 8. O Cauã Barros joga mais de 5 do que de 8. Se a gente quer ganhar, a modificação tem justificativa.
Sistema defensivo
— Não acho que foi porque o PH não jogou. A gente tomou gol em outros jogos com ele. Sistema defensivo é o sistema defensivo. Jogar como a gente joga, com a linha mais alta, o sistema defensivo começa com a marcação dos atacantes. Hoje a gente falhou três vezes para tomar o primeiro gol. Não pressiona a bola, não fecha o centro, toma uma bola longa e não preenche a área. Um monte de falha. Falar que o Hugo Moura está jogando improvisado de zagueiro, na minha opinião ele jogou bem todos os jogos. Ele não falha na marcação e entrega muito na saída. O Hugo Moura ali é um acerto. O sistema defensivo está falho, mas ele é um acerto. A gente falhou em muitas coisas para tomar o primeiro, segundo e o terceiro também, que foi uma bola parada que tomamos quando estávamos com o time mais alto, com o GB em campo. Não é por conta do PH que a gente sofreu dois gols em Caxias e três hoje.
Precisa mudar estilo?
— Vou falar o mesmo que falei no 6a 0 do Santos. Para mim, não muda. Eu vou então desfocar do desempenho por causa do resultado. Não tem lógica nenhuma. A gente tem que desempenhar bem. O time jogou mal e perdeu. Se o time tivesse tido desempenho, provavelmente teria vencido ou empatado, tanto em Caxias como hoje. Não dá para pegar um recorte de uma semana, sete dias, e achar que está tudo errado. Não está tudo errado. Esteve muito errado na quarta e hoje, e sou o responsável máximo. Se o jogador está faltando, de alguma forma o comando tem que dar conta. Mas não tem como falar que vou focar no resultado. É uma conversa que não tem lógica. Gostaria que vocês entendesse um pouco melhor. Como vou focar no resultado sem focar no desempenho? Para eu ter resultado vou jogar pior? O desempenho foi ruim e a gente nunca esteve perto de ganhar. Tem que voltar a desempenhar bem, jogar bem e marcar bem. A gente não estava só jogando bem, estava oferecendo pouca chance para o adversário. Contra o Juventude e Corinthians, não teve muita chance clara. De toda forma, jogaram melhor que a gente.
São Januário
— São cenários diferentes. Antes, a gente não tinha como explicar quando jogava bem e não vencia. Hoje faltou tudo. Ter mais vontade, coragem, brio, disposição tática, voltar mais rápido para marcar, chegar mais gente na frente com fome de fazer gol. Faltou muita coisa, tanto hoje como quarta. Ao mesmo tempo colhemos resultado fora de casa. O maior trunfo do Vasco é São Januário. A torcida deu um show hoje e o time não correspondeu. Isso também é uma frustração para mim. A torcida merece coisa melhor. Vencer e que o time jogue bem. As duas coisas.
Sobre um possível time mais defensivo
— Se pegar um recorte de hoje, sua análise até faz sentido. Mas estava jogando esse time e não tinha problema. O Rayan tem que voltar rápido, o Rayan tem saúde. Ele voltou muitas vezes para ajudar a marcar, assim como o David e o Nuno. Se ele fizer isso e a gente não ganhar é porque tem muito volante e falta gente para ganhar. Depois que acontece o jogo tem uma análise que é possível de ser feita. Mas faria sentido se estivesse acontecendo desde que eu cheguei aqui. No jogo de Caxias foi por motivos diferentes. No jogo de hoje, as coisas não aconteceram por falta de ter um jogador de posição. Se faz isso, você vai querer guarnecer, mas vai ficar mais contido. Vai faltar jogadores técnicos. Esses dois jogos não servem como referência da minha estada aqui. A gente precisa melhorar em todas as fases do jogo, na fase tática e no aspecto anímico. A gente poderia ter corrido muito mais, poderia ter se dedicado mais e ser mais forte, poderia ter representado melhor nossa torcida.
Gerenciamento de elenco com Copa do Brasil e briga no Z-4
— Estou gerenciando desde que cheguei aqui. É ver o que a gente está fazendo de errado, analisar o vídeo de novo, conversar internamente e preparar da melhor forma para enfrentar o Botafogo na quarta-feira. Seguir jogo a jogo fazendo melhor. A gente tem uma margem boa para melhorar em relação ao que foram esses dois jogos.
Tchê Tchê
— Preocupa. Saiu aparentemente com uma lesão muscular e preocupa bastante para o jogo contra o Botafogo e não só esse, mas na sequência mais curta. É um jogador que estamos preocupados. Vamos esperar o exame de imagem para dar informações mais precisas.
Mudanças no elenco
— Minha relação com a diretoria, as coisas são conduzidas de comum acordo. Alguns jogadores são indicação da diretoria, oportunidades. E outros jogadores, como o Robert Renan, são uma coisa mais consensual. Embora seja jovem, já tem uma experiência. É um jogador que gosto e quis vir para o Vasco. A situação do João Victor, ele não tinha pedido, mas no dia seguinte pediu para sair. É um jogador que estava performando comigo. A gente está atrás de pelo menos mais um zagueiro com condição de chegar, um ou dois zagueiros. Se a gente conseguir, não adianta trazer um jogador que a gente acha que não vai performar. Tem algumas apostas. O Andrés Gomez é um jovem, as informações são pertinentes. É uma aposta do Vasco, não teve um desembolso grande de dinheiro.
— A gente foi criterioso, assistiu vídeo, pegou informação e espero que a gente consiga acertar. É um jogador que promete e obviamente vai levar um tempo para se adaptar. A gente está atrás de mais alguns jogadores antes de fechar a janela, mas de maneira pontual. Não é fácil fazer futebol e contratar jogadores com carência de dinheiro. A venda do Luiz Gustavo foi porque a gente precisava de recursos para tocar o clube, pagar salário. Não é um jogador que eu gostaria que saísse. Pelo contrário. É um jovem que acho que tem um futuro brilhante. A gente estava preparando o Luiz para voltar mais forte. Ele teve seis partidas comigo e teve uma proposta, uma boa proposta financeira. A tendência era que ele conseguisse jogar mais jogos e conseguisse performar e que essa proposta fosse até maior. Mas por uma questão de fluxo de caixa foi realizada a venda do Luiz.
Erro no primeiro gol
— Pergunta muito inteligente. O que aconteceu ali é que a linha tinha que ficar mais aberta. Era para o Puma saltar e o Rayan ficar mais próximo. Foi um erro coletivo. A gente tomou um gol de inversão. Teve umas duas ou três no primeiro tempo, mas essa saiu o gol. E tomamos outro gol de inversão, o segundo foi um lance parecido. Não foi só nas costas do Puma. Quando a bola entra, a gente joga com a linha mais alta, então fica mais aberta, o lateral tem que salta mais rápido, a linha tem que correr, o Rayan tem que estar mais próximo para voltar e os volantes fechar o funil na área. Não fizemos nada disso. Erramos três vezes para tomar o gol. E o que fazemos de melhor, que é pressionar a bola. Então foram quatro erros no sistema defensivo. Então não é porque tem zagueiro ou não. Os zagueiros nesses dois gols não têm culpa de nada. Estavam na posição que tinham que estar. Os dois gols foram deixar cruzar e não fechar o funil na entrada da área. O sistema defensivo falhou como um todo.
Nino será contratado?
— Acho difícil o Nino vir para algum time do Brasil. Era um desejo meu. Não sou um treinador de indicar muitos jogadores. Acho que é muito difícil acertar em contratações. Os nomes vão sendo mapeados e vou avaliando junto de um conjunto de pessoas no Vasco. Mas o Nino é uma indicação pessoal minha. É um jogador que conheço e tenho condições de saber o que ele pode entregar, o Robert Renan também. É uma indicação que participei. E mais um ou outro. O resto a gente vai buscando, a gente está mapeando. Só que os jogadores que eu quero, o Flamengo quer, o Fluminense quer, o Palmeiras quer. E a gente não tem o dinheiro para contratar. O jogador que a gente tem condição de trazer dá mais trabalho. A gente precisa mapear bem, pegar informação, ver jogo. Tem chance de errar e acertar. Contratar não é uma coisa fácil quando não tem dinheiro. Com dinheiro, vai com mais segurança, em jogador com idade boa e serviço prestado. Tem mais chance de acertar. Procuro ser muito criterioso na hora de contratar para aumentar a chance de acerto.
Paulo Henrique joga contra o Botafogo?
— O PH, em princípio, não preocupa para a sequência. Ele poderia até jogar hoje se a gente forçasse. Mas ele tinha um desconforto e tinha uma sinalização de imagem que o departamento médico, eu e o PH decidimos que era melhor ele não ir para esse jogo que ele corria um risco desnecessário, e na quarta-feira ele teria mais chance de iniciar o jogo. Mas ele não tem nada importante.
Pressão por resultados
— Eu lido muito bem. A pressão existe no futebol brasileiro quando você trabalha em instituições de massa como o Vasco. Eu gosto de estar aqui, mesmo em momentos como esse. Quero ajudar o Vasco a sair disso e conquistar coisas boas. Assumo as responsabilidades de estar aqui. Eu gosto e escolhi estar aqui. Quero que dê certo e vou fazer de tudo para dar certo. Não me faltam coisas importantes da vida, trabalho, coragem, determinação, desejo de fazer com que a torcida volte a sorrir. São coisas que não me faltam e eu acredito muito na força do trabalho. A gente foi mal nos dois últimos jogos e não deveria ter ido. Porque a gente carrega uma torcida sofrida e muito importante. Quando vem e se manifesta dessa forma, com crítica, temos que saber aceitar porque a torcida está certa. Temos que saber reconhecer, trabalhar mais e entregar mais para a torcida.
Como o torcedor pode acreditar que esse elenco é capaz de se livrar do rebaixamento?
— Claro que é possível. Esse último recorte, de quatro dias para cá, está tudo muito ruim mesmo. Mas quatro dias para lá não estava ruim. Os resultados não estavam vindo, mas o time estava jogando bem e com um cheiro muito forte de que iam começar a acontecer. Aí veio uma vitória muito contundente e fora dos padrões. Talvez a maior do Vasco em Brasileiros fora de casa, contra o Santos do Neymar, e a gente não soube digerir isso de maneira adequada. Eu acredito muito no time. Agora tem que saber lidar com essas duas derrotas que a gente teve, aprender e reagir rápido.
Assista à entrevista
Fonte: Globo Esporte