Destaque no futsal do Vasco, Marcelo Cabo volta ao Clube agora como treinador

Ex-jogador de futsal, Marcelo Cabo foi decisivo em jogo do Vasco da Gama contra o Flamengo na quadra de São Januário, em 1997.

Marcelo Cabo ao lado do filho quando defenda o futsal do Vasco
Marcelo Cabo ao lado do filho quando defenda o futsal do Vasco

Falar em fase semifinal do Brasileiro de 1997 adoça a boca de todo vascaíno. Logo vêm à cabeça as lembranças do 4 a 1 sobre o Flamengo, com três gols de Edmundo e muito “qual é, qual é, qual é” na arquibancada. Mas no mesmo ano e em outra semi com o arquirrival não foi o rebolado de um animal endiabrado que resolveu, mas sim um zagueirão de cadeira dura.

Quem decidiu a parada no salão, com a quadra de São Januário lotada, foi Marcelo Cabo. Não com dribles e golaços porque se tratava de um beque que chegava firme, mas por uma visão de treinador que talvez nem ele soubesse que já possuía. Conheça a história por trás da foto que viralizou nas redes sociais vascaínas pouco depois do anúncio do técnico para comandar o Gigante da Colina.

Contratado no início da temporada em um time de orçamento enxuto por conta das dificuldades financeiras que o Vasco enfrentava, Cabo chegava aos 30 anos, já em fim de carreira, para reforçar o time dirigido por Marco Bruno, que também acumulava a gerência do futebol de salão vascaíno.

Com um elenco barato, chegar à final do estadual contra o dominante Tio Sam, àquela época tetracampeão, era considerado um título. Para avançar à decisão, o Vasco tinha pela frente o rival Flamengo. Venceu por 5 a 3 na Gávea e no jogo de volta, com São Januário lotado, perdeu por 4 a 2 no tempo normal. Vieram duas prorrogações, e o Rubro-Negro chegou a pular na frente. Aí foi a hora de o beque Marcelo Cabo atacar de treinador e convencer seu comandante a repetir uma substituição que não havia dado certo minutos antes.

– Na quadra do Vasco, que era muito pequena em relação à que reformamos em 2000 para aquele timaço do Manoel Tobias, era impossível jogar pelo empate. E eu nunca tinha visto a quadra de São Januário tão cheia, abarrotada de gente. Não cabia ninguém. Foi para a prorrogação, mas na prorrogação a vantagem do empate era do Vasco. O Flamengo tinha um beque que chutava muito, o Ricardo Touro. Naquela quadrinha, era um terror – contou Marco Bruno, completando:

– O Touro virou goleiro-linha. Ficava difícil marcá-lo, e aí eu peguei um dos beques do meu time. Era um jogador que ainda era novo, o Luizinho. Peguei o Luizinho para marcar o goleiro-linha. Se a gente perde para o Flamengo, não saía vivo dali. Luizinho entrou, mas não adiantou. O Touro deu uma cacetada e fez o gol. Tirei Luizinho, botei um pivô e nós empatamos de novo. Eram dois tempos de três minutos.

Já veterano, Marcelo Cabo já não costumava mais jogar as partidas até o fim e estava no banco. Líder daquele grupo, chegou perto de Marco Bruno e sugeriu a repetição da estratégia que não havia prosperado: “Bota o Luizinho de novo, Marco”. A resposta não foi das mais gentis.

– Com a vantagem no segundo tempo, o Flamengo colocou o Touro de novo, e o Marcelo, que estava no banco, chegou em mim e falou “bota de novo o Luizinho”. Falei: “Marcelo, vai tomar no c…, vou botar p… nenhuma”. Ele respondeu: “Bota porque vai dar certo”. Chamei Luizinho e disse: “Olha o que ele (Marcelo) está falando aqui, entrar lá e não vai dar mole”.

Com desarme decisivo e o dedo de Cabo, Luizinho decretou a vitória por 2 a 1 do Vasco na prorrogação.

– O Luizinho entrou, não só marcou o cara como tomou a bola do Touro e fez o gol. Nós ganhamos e classificamos para a final (risos). Decidimos com o Tio Sam, que ganhava tudo, e o vice-campeonato estadual foi como um título. Marcelo era muito importante já no final de carreira, sempre foi muito líder, inteligente taticamente e muito disciplinado em todos os sentidos. Embora ele estivesse terminando a carreira, aquela campanha foi muito importante para ele e para mim – resumiu Marco Bruno.

Marco e Marcelo Cabo se reencontraram no Flamengo em 2003, ano em que conquistou o estadual e o metropolitano no salão. Na ocasião, já se dividia como treinador do futsal do Fla e de categorias inferiores do Madureira no campo. Com os horários conflitantes, Marcelo teve de deixar o Rubro-Negro, e Marco mais uma vez acumulou as funções de gerente e técnico.

– Até hoje ele brinca comigo que eu o derrubei lá (risos). Marcelo é um cara muito querido, ele foi em uma das “lives” que fiz recentemente.

Apesar de ter ficado apenas um ano na Colina, Marcelo Cabo tem muitas histórias interessantes naquele ano de 97. Por exemplo: complementava renda vendendo computadores. Essa e outras passagens são lembradas por Marco Bruno abaixo. Confira:

Nascia em São Januário o “Marcelo Cabo treinador”

– Nessa época que jogou comigo, já tinha uma visão muito profissional. Jogador que já encostava em mim, dava opinião. Futsal é muito dinâmico, mexe toda hora, bota o goleiro-linha… Ele já se aproximava e me fazia perguntas quando estava no banco. Ele tinha essa moral, esse prestígio e bom senso. O jogador que vai no banco para falar com um treinador tem que até tomar cuidado para não atrapalhar.

Marcelo Cabo, o vendedor

– Marcelo, na época de jogador do Vasco, passou a vender computador no final da década de 90 para completar a renda. O meu primeiro computador, daqueles grandes e com teclado, comprei com ele. Desde aquela época ele estava com a Jaque, a esposa dele.

Características de Cabo como jogador

– Era um beque muito tático e chegava junto. Jogava sério, dava porrada, mas também era muito técnico. Tinha sobretudo uma leitura de jogo muito grande, se posicionava muito bem. Era um líder e todo mundo gostava dele.

– A nossa quadra do Vasco em São Januário antes da reforma era muito pequena, o que facilitava o jogo dele porque ele já estava sem mobilidade. Era muito bom marcador, se antecipava e chegava junto. Não era muito de fazer gol, não.

Dedicação e trabalho integral para entrar em forma

– Nesse ano de 97, eu era gerente e treinador. Eu trabalhava o dia inteiro, chegava no Vasco às 8h e saía umas 23h, 23h30. Eu dava o treino à noite. Ele chegou completamente fora de forma para mim, gordo mesmo e me pediu para fazer um trabalho.

– Ele ia todo dia de manhã sozinho porque o time treinava à noite. Chegava por volta de 10 e pouco. Eu ia com ele para a quadra de camisa social, encostava na beira da trave, e falava: “Marcelo faz isso, faz aquilo”. Botava cone. Treinava todo dia sozinho, fez isso por dois meses até que entrou em forma.

Futsal levado por Cabo para o campo

– Marcelo teve grandes treinadores ao longo da carreira de jogador. Ferreti, que é um dos grandes treinadores, Cid Escarlate… Ele cita até hoje. Aprendeu muito. Usa até hoje muita coisa do futsal.

Jean, do Atlético-GO, com características de goleiro-linha

– Esse goleiro Jean tinha umas manobras de futsal porque o goleiro também joga com o pé. Em cima dessa facilidade do Jean, ele usou muita essa coisa do goleiro-linha do futsal em questão de posicionamento.

Mais conceitos do salão empregados

– Ele sempre usou conceitos de futsal. Os zagueiros dele gostavam de jogar antecipando muito, que é característica do futsal. Marcelo gosta muito de jogar com jogador de perna trocada, o canhoto pela direita como exemplo. O ala no futsal joga muito com perna trocada.

– Pegou um goleiro que sabia jogar com o pé, então ele não se limitou a deixá-lo como goleiro. Trabalhou algumas situações. No lateral, os dois zagueiros abriam mesmo, e puxava os laterais para entrarem como meias. O goleiro sabia jogar, ele tinha opção de jogar com zagueiros que sabiam jogar. Fez mais ou menos o que o Rogério Ceni fez com o Willian Arão guardadas as proporções de investimento.

Marco Bruno destaca volantes de Cabo tabelando até a área adversária

– Eu não vi nenhum time fazer isso. Os volantes dele entravam tabelando na defesa adversária. Nunca vi ninguém fazer isso. Os dois volantes trabalhando em velocidade com troca de passes pelo meio. É difícil o volante mesmo construir as jogadas, e isso são manobras do futsal, como manobra de aproximação e trabalho em espaço curto.

Início de Cabo no Olaria

– Jogou no Olaria, no Social Ramos Clube, no Flamengo, no Vasco, no Fluminense. Se não me engano, ele passou pelo futebol espanhol. Jogou no Rocha Miranda, que foi um grande time de futsal. Foi campeão metropolitano como treinador do Olaria. Ele jogou comigo em 97 e acho que ele jogou em 98, se não me engano, pelo Fluminense. Ele também começou no campo do Olaria. Família tinha muita ligação com o Olaria. O Pintinho, que o era o presidente, morreu, e ele sentiu muito.

Feliz pela chegada de Cabo ao time profissional do Vasco em 2021: “Vai dar certo”

– Estou muito feliz que ele está indo para o Vasco. Isso foi uma passagem minha com ele no Vasco, mas eu tenho uma ligação muito forte com o clube. Foram quase 30 anos como profissional do Vasco. Fui gerente, treinador e meu último trabalho foi na coordenação da transição entre salão e o campo, em 2018, no primeiro ano do Campello. Tenho muito carinho e estamos muito tristes com a atual situação. Disse que ele tinha a carreira consolidada já, mas que ele precisava de uma oportunidade num gigante. E acho que vai dar certo.

Fonte: Globo Esporte

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