De cria da Barreira a joia do Vasco: Rayan exalta benção de Dinamite
Um dos principais nomes do Vasco da Gama em 2025, Rayan relembra infância na Barreira e fala sobre Roberto Dinamite.

A música “De todos os amores”, uma das mais cantadas pelos vascaínos, tem um trecho que define bem a vida de muitos torcedores: “o Vasco é a minha vida, minha história, meu primeiro amigo”. Mas a canção também pode contar a história de um jogador que nasceu e foi criado na Barreira do Vasco, chegou a São Januário aos seis anos e recebeu a benção de Roberto Dinamite. Rayan é um diamante lapidado desde cedo para ser o destaque que é hoje. E é só o começo.
O atacante também é um fruto de um amor que nasceu graças ao Vasco. Mais especificamente nos arredores de São Januário, na Barreira do Vasco. O pai Valkmar foi jogador do clube no fim dos anos 90 e início dos anos 2000. A mãe Vanessa, vascaína e moradora da região, frequentava o entorno do estádio assiduamente. Não demorou muito para que se encontrassem.
– Na época que meu pai era jogador, ele saía muito pela Barreira. Ele sempre ficou por ali. Depois, ele levou ela para o mundo do futebol. Eles fizeram minha irmã e eu… (risos). Deu tudo certo. Ter os dois dentro de casa, que são vascaínos, que trabalharam dentro do Vasco, é muito importante. Meu avô também é vascaíno. A família toda é vascaína.
O atacante hoje tem 19 anos, mas chegou ao clube apenas aos seis. E praticamente cresceu dentro de São Januário. Quando não estava no estádio treinando, era uma das crianças que brincavam na rua da Barreira do Vasco. Atrevido, o garoto já ficou escondido no clube várias vezes para aproveitar a piscina e as áreas abertas no entorno do estádio para soltar pipa.
– Soltava pipa, jogava bola. Às vezes, a gente ficava escondido (em São Januário) para dar um pulo na piscina. Foi legal (crescer lá).
– Minha família inteira é da Barreira. Estou no Vasco desde os seis anos. Praticamente cresci lá dentro, quase nasci lá dentro. É muito gratificante estar jogando, fazendo parte disso. Sair da Barreira e estar no Vasco, onde meu pai jogou, teve uma história. Agora está dando tudo certo — disse a joia do clube.
Estrela desde cedo e benção de Dinamite
Rayan nunca foi uma joia qualquer de São Januário. Aos 11 anos, segundo números do próprio clube, o atacante já tinha 280 gols em competições pelo Vasco entre o campo e o futsal. Ao chegar nessa idade, Rayan teve um encontro inesquecível com Roberto Dinamite, maior ídolo da história do clube. O atual atacante do clube reassistiu ao vídeo que viralizou nas redes sociais na semana passada, gravado por Valkmar, no qual Dinamite dá conselhos ao jovem sobre a carreira.
– Foi uma lembrança muito legal. Eu tinha 11 anos de idade, não tinha muito noção de onde eu poderia chegar. Ele me passou uns conselhos. Queria que ele estivesse vivo para ver esse momento agora, como ele falou no vídeo. Queria que ele estivesse vendo esse momento que estou vivendo. Me sinto um garoto especial (carregando esse legado). Sinto orgulho — disse o atacante, que se recordou do vídeo emocionado:
– (Uma) Coisa linda. Ele tinha razão, com certeza. Foi um momento muito especial que meu pai gravou, (um momento) de Deus. Tem dado tudo certo, e esse momento vai continuar.
E o momento especial de Rayan no clube chegou em 2025. Com Fernando Diniz, o atacante não só se firmou entre os titulares do Vasco, mas se tornou a principal arma do time. Desde a estreia do treinador, nenhum jogador vascaíno marcou mais vezes que o jovem camisa 77.
– Estou no profissional há três anos, esse é meu melhor momento. Eu subi, não tive muitas oportunidades, voltei para a base. Quando o Ramón chegou ao Vasco, subi de novo. Quando o Diniz chegou, ele me ajudou muito e falou bastante comigo. É meu melhor momento, com certeza.
Diniz se tornou um paizão para Rayan dentro do Vasco. O treinador é o principal responsável por uma mudança na mentalidade do jogador, segundo o próprio atacante. Ele teve participação fundamental no aumento da confiança e no aprimoramento de questões técnicas e táticas do jogo.
Rayan revelou que a cabeça dele foi mudada na primeira conversa que teve com Diniz no Vasco, quando o treinador pediu para o atacante fazer uma jogada dentro da grande área. Ali, ele observou que o jogador poderia ir até para a seleção brasileira.
– No primeiro treino, ele passou um trabalho para eu pegar a bola e arrastar até dentro do gol. Eu peguei a bola, quase cheguei dentro do gol, consegui arrastar. Aí ele disse que eu era o grande potencial e que tinha chance de Seleção. Depois disso, ele abriu minha mente.
– No gol contra o São Paulo, eu peguei e arrastei a bola até dentro do gol. Depois dali, ele disse que eu não era jogador para fazer apenas um gol nas partidas. Era para fazer dois ou três. Então, sempre procuro fazer isso.
Desde então, Rayan marcou onze gols sob o comando de Diniz. Em toda a temporada, o atacante marcou 14 vezes. Ou seja, quase 80% dos gols do jogador foram marcados com o atual técnico do Vasco.
– Ele (Diniz) conversa comigo quase todo dia. Ele me cria como um filho. Diz para eu continuar jogando, trabalhando com humildade. Diz para eu não me perder para fora, só aqui para dentro. Está dando tudo certo.
Como todo pai, tem espaço também para bronca. Mas Rayan sabe que os gritos à beira do campo são para o bem dele. No jogo contra o Corinthians, em São Januário, a cena do treinador gritando com o atacante viralizou. De vez em quando, o jogador consegue correr para o outro lado para a orelha não arder tanto.
– Ele sabe como eu sou, eu sei como ele é. No vestiário (depois do jogo contra o Corinthians), nos abraçamos e estava tudo certo. Nós sabemos como é já. Não é pessoal, é o jeito dele. Todo mundo sabe e leva na boa.
– Acho que melhorei muito minha parte defensiva. Com os outros treinadores, marcávamos em bloco médio ou baixo. Com ele, melhorei a pressão alta. Ele nos cobra bastante. Marcar para depois jogar. Melhorei bastante. Tem que correr muito. Eu procuro sempre correr o mais rápido possível para o outro lado, daquele lado ali ele me cobra muito — brincou o atacante.
Rayan aos 11 anos não sabia aonde poderia chegar, o que era muito natural para a idade. O jovem, no entanto, guardou uma mensagem simples de Dinamite. E tem cumprido direitinho com a promessa. É fazer o trabalho de cada dia, jogar bem e fazer as coisas que gosta em campo. Assim, a joia se tornou xodó e esperança da torcida em 2025.
— Ele falou também que eu tinha que jogar bem, senão a torcida pegaria no pé. Jogar para fazer um contrato legal, então eu coloquei isso na minha cabeça. Fazer o meu trabalho, jogar bem e fazer as coisas que a gente gosta.
Agora, Rayan sabe exatamente aonde quer chegar. A primeira missão é ajudar o Vasco. Para isso, ele renovou o contrato no meio do ano e ficou no clube, mesmo com várias sondagens do exterior. Em 2025, ele terá a disputa das rodadas finais do Brasileirão e a semifinal da Copa do Brasil, buscando o primeiro título da carreira no profissional.
Depois, o atacante pensa em seleção brasileira e no futebol europeu. Por fim, voltar ao Vasco e reescrever a sua história no clube.
– Agora eu tenho muita noção. Deus está fazendo esse caminho muito especial para mim. Com o momento que estou vivendo e com o apoio do Diniz, sei que posso chegar à Seleção, jogar na Europa. Tenho muita noção de onde posso chegar, sim (…) Me sinto um garoto muito especial. Eu me sinto muito orgulhoso. É continuar fazendo o que estou fazendo, ajudando o Vasco. Vai dar tudo certo.
Fonte: Globo Esporte