Flamengo x Vasco: conheça a amizade inseparável de Adílio e Paulinho Pereira

Ex-jogador do Vasco da Gama, Paulinho Pereira relembra amizade com Adílio, ídolo eterno do Flamengo, e passagem pelo Cruzmaltino.

Paulinho Pereira, ex-jogador do Vasco
Paulinho Pereira, ex-jogador do Vasco

“Isso aqui me emociona muito. Eu passo aqui todos os dias, mas eu nem olho”. Paulo Cesar Pereira fica de lado para a imagem de Adílio na entrada da Cruzada São Sebastião, um conjunto habitacional popular no Leblon, que completa 70 anos em 2025. É o final de mais um dia de trabalho que começou às 4h30, na Escolinha de futebol do ex-lateral do Vasco Paulinho Pereira.

A escolinha do posto 11 do Leblon já levou o nome de Roberto Dinamite, outro amigo de Paulinho que se despediu recentemente, mas começou com Bruna, filha de Adílio. Foi com o futebol feminino, há 30 anos, que Paulinho deu os primeiros passos, um tanto quanto atordoados, após a aposentadoria. Com o sonho de ser advogado, ele não sabia o que ia fazer depois de parar de jogar. Chegou a pensar no convite de José Luis Moreira, antigo dirigente do Vasco, para trabalhar como taxista, mas declinou.

– Eu não sabia ir na “cidade”. Uma vez, estava procurando a (Avenida) Rio Branco. O cara achou que eu estava de sacanagem. A Rio Branco estava atrás de mim – lembra Paulinho, hoje com 67 anos.

As lembranças de Paulinho esbarram a todo momento em Adílio. Ídolo eterno do Flamengo e símbolo da Cruzada, Adílio veste a camisa do Flamengo abraçado a Julio Cesar “Uri Geller”, ex-morador da Favela Praia do Pinto – conjunto habitacional removido do Leblon em sequência de três incêndios suspeitos entre os anos 1950 e 1960 -, no mural pintado na parede que separa os dez blocos da Cruzada de clubes sociais do bairro.

Para Paulinho, Adílio é apenas um amigo inesquecível. Aquele que gritava “Dazeca” para ir à praia, para jogar bola ou para as festas na Cruzada. O apelido Dazeca era por causa da mãe, Maria José Pereira, de tanto se referirem ao filho da Dona Zequinha como o “Dazeca”.

– A gente se conheceu lá embaixo (dos blocos) nas peladas. A gente jogava entre ali, na praia. Até hoje, eu nunca vi o Adílio como o Adílio do Flamengo. Como ele também nunca me viu como o Paulinho Pereira do Vasco. Era Dazeca – conta Paulinho, que invariavelmente ainda fala do amigo no presente.

Adílio morreu aos 68 anos de câncer no pâncreas em 5 de agosto do ano passado. Ele já não morava na Cruzada há um bom tempo – o primeiro apartamento depois de ganhar algum dinheiro no futebol foi em Botafogo; depois, na Ilha do Governador, até viver os últimos tempos na Barra.

A amizade era de irmãos. Mesmo signo (touro, Paulinho de 16 de maio, Adílio, 15 do mesmo mês), tiveram os primeiros filhos em datas próximas. Os primeiros carros? Adílio comprou um Fusca vermelho; Paulinho, um branco. E com muita história para contar debaixo daqueles blocos de concreto.

– A nossa relação só esfriou quando a gente foi para o profissional. Mas aí toda vez que a gente se encontrava, não tinha nada de futebol. A gente só falava da nossa rapaziada. Do Baba do Quiabo, que era o nosso bloco aqui da Cruzada que desfilava na (Estrada) Intendente de Magalhães – conta.

Início escondido do pai

A história de Paulinho no futebol começou de maneira um tanto inusitada. Um ano mais velho, Adílio iniciou no futebol de salão na Gávea e tentou levá-lo ao Flamego. Mas o pai de Paulinho achava que futebol não dava futuro, mesmo que a tentativa fosse no seu Flamengo.

Um dia, antes de um clássico Flamengo x Vasco, na preliminar de juvenis (categoria que se transformou em sub-20), Paulinho contou com a ajuda da mãe para enganar José Paulo Pereira, seu pai, um ferreiro que trabalhava nas esquinas do Leblon. Disse que ia dormir na casa da tia, pois precisava ficar na concentração do Vasco e o pai não poderia saber. Semanas antes, fez teste do Vasco na Pavuna, passou e insistiu na carreira.

– Quando eu desci para o vestiário no intervalo (o meu pai estava na geral), meu pai falou assim para um amigo: “Se eu não tivesse certeza de que o Paulo Cesar está na casa da tia dele, eu ia jurar que aquele ali era o Paulo Cesar” – lembra.

– Quando voltei para o segundo tempo, atacando perto dele na geral, ele quase teve um infarto quando viu que era eu. Virou vascaíno ali, naquele momento.

As resenhas e a despedida do amigo

No início dos dois no futebol, as comparações eram inevitáveis. Um jogava pelo Flamengo, outro pelo Vasco. Um mais comportado (Adílio), outro mais levado (Paulinho) – comportamento que se repetia nas danças ao som de sucessos internacionais.

– A gente adorava aquela “tananana… Je t’aime, je t’aime…” – improvisa e cantarola a balada que ficou famosa na voz da cantora e atriz britânica Jane Birkin.

Juntos, os dois arrebentavam nos campeonatos de peladas que disputavam, por exemplo, na Cidade de Deus – no fim da carreira, em 1996, voltaram a jogar juntos no Barreira (atual Boavista), com Andrade e Gilmar Popoca, ex-Flamengo, Ernani, ex-Vasco, e Cristóvão Borges, ex-Fluminense.

– Eu sempre fui mais agitado do que o Adílio. Aí os coroas me viam lá embaixo meia-noite e falavam: “Olha só, vê se o Adílio está aí? Ele já foi pra casa. Você devia ir também”.

No Vasco, Paulinho jogou por três anos, entre 1979 e 1981. Antes, emprestado, destacou-se no Moto Clube, do Maranhão, depois fez carreira pelo América-MG, Guarani, Friburguense, Comercial-SP, Botafogo-PB e Santa Cruz. As maiores lembranças são dos tempos de Vasco. Fez um bonito gol em clássico contra o Botafogo e cultivou amizade com Roberto Dinamite até os últimos dias do ídolo vascaíno. Mas, é claro, sofreu quando enfrentou o amigo da Cruzada contra o Flamengo.

– O Adílio contava muito essa história. Quando a gente se enfrentava, eu estava no banco, aí o Adílio saudava a torcida e ia lá, no banco me cumprimentar. Todo jogo fazia isso. O Pai Santana falou para mim uma vez: “Toda vez que o Adílio vem aqui te cumprimentar, o Vasco perde. Então vamos fazer o seguinte, no próximo jogo, quando todo mundo entrar, você entra depois”. Aí eu entrei depois, Adílio foi lá, não me viu. Perguntou e falaram: “Ah, (Paulinho) está lá dentro ainda”.

– Aí o Vasco tomou o primeiro gol. Eu virei para o Santana: “E agora?” Adiantou p… nenhuma. O Flamengo tinha um timaço – reconhece.

Paulinho acompanhou como pode os últimos momentos de vida de Adílio. Foi visitá-lo no apartamento na Barra com o filho, viu o amigo “meio doentinho, magrinho, mas não tão magro como da última vez”. Tentou animá-lo com as melhores lembranças da Cruzada. Das farras com as meninas na adolescência, da pipa na rua, dos mergulhos na praia, das peladas e dos pagodes com os amigos, que aproximavam toda uma geração que saiu da Cruzada para brilhar no futebol.

– Quando vou numa visita de uma pessoa doente, não vou lá fazendo pergunta de doença não, sabe? A gente conversava sempre dos papos da nossa época. Quando ele deu uma caída, a Bruna (filha) me ligou chorando. Aí eu fiz uma chamada de vídeo para ele. No hospital, quando visitei 15 dias antes de ele partir, ele me viu e me chamou fraquinho de “Dazeca”. Dei um beijo no rosto dele. Esses dias eu vi no Instagram, ele com o Neguinho da Beija-Flor. Cara, parecia que estava vendo o Adílio ali. Você não acredita que ele morreu – recorda com carinho.

Fonte: Globo Esporte

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