8 motivos que foram determinantes para o rebaixamento do Vasco

Problemas financeiros, instabilidade política e erro nas contratações foram uns dos motivos que levaram o Vasco da Gama à queda.

Alexandre Campello durante entrevista coletiva
Alexandre Campello durante entrevista coletiva (Foto: Marcelo Baltar)

Em 15 de setembro de 2020, o então presidente Alexandre Campello, ao confirmar a candidatura à reeleição em entrevista ao ge, disse uma frase que logo viralizou nas redes sociais e mais tarde entraria para a história do Vasco.

– Tenho observado nas mídias, nos grupos de WhatsApp, e hoje o vascaíno está feliz, está tirando onda. Coisa que há muito tempo a gente não via – afirmou o dirigente.

Àquela altura, o time comandado por Ramon Menezes era o quarto colocado no Brasileirão, com um jogo a menos do que os rivais na parte de cima da tabela. A surpreendente campanha, porém, aos poucos ruiu. Após cinco vitórias nos nove primeiros jogos, a equipe só venceu cinco das últimas 29 partidas que disputou na competição.

Ricardo Sá Pinto e Vanderlei Luxemburgo fracassaram, Jorge Salgado assumiu como presidente em 22 de janeiro, e o clube amargou o quarto rebaixamento para a Série B: terminou em 17º lugar, com 41 pontos, mesma pontuação do Fortaleza só que com saldo de gols pior (-10 a -19). O ge lista abaixo os motivos que determinaram mais uma queda, repetindo os anos de 2008, 2013 e 2015.

1. Crise financeira atrasa salários

Todo o mandato de Campello foi marcado por dificuldades financeiras. É verdade que o dirigente herdou muitos problemas quando assumiu em janeiro de 2018, mas também é fato que as soluções encontradas não evitaram o atraso de salários, a falta de pagamento de compromissos importantes e a dificuldade para contratar reforços.

A folha salarial, inclusive, foi motivo de discórdia entre Campello e seus pares. Adriano Mendes (VP de Controladoria) e João Marcos Amorim (VP de Finanças) saíram em janeiro do ano passado por entenderem que o presidente pretendia gastar mais do que o clube poderia pagar. Eles foram contra, por exemplo, a contratação de Cano.

O Vasco teve ao longo da temporada, em média, uma folha salarial de R$ 4 milhões. Os jogadores conviveram com atrasos, assim como os funcionários. Atualmente, há débitos: dezembro e 13º de 2020 e janeiro de 2021. Ao longo da temporada, promessas não cumpridas incomodaram. Jogadores importantes deixaram o clube, casos de Marrony e Raul.

O Vasco ainda sofreu com o não pagamento a fornecedores. No começo de 2020, a comida servida no CT foi cortada pela empresa responsável. A energia elétrica em São Januário quase foi cortada por falta de pagamento também.

2. Erros em série nas contratações

A falta de recursos levou o Vasco a investir pouco no elenco. Até porque o clube carregava erros do passado que pesaram no orçamento. Juntos, Breno e Ramon, por exemplo, custavam quase R$ 600 mil por mês. A dupla não jogava desde 2018 e se despediu em dezembro de 2020. Reserva na maior parte do Brasileirão, Werley tem um dos maiores salários do elenco.

De toda forma, o Vasco pouco investiu, mas foi certeiro no início do ano passado. Trouxe apenas Cano e Benítez, argentinos que foram protagonistas na temporada. Nos dois casos, não houve pagamento a clubes: o centroavante estava livre após deixar o Independiente, de Medellín, e o meia veio emprestado do Independiente, da Argentina – só na renovação do empréstimo, em janeiro, é que houve pagamento.

Contratações feitas pelo Vasco em 2020 (Reprodução ge)

No início do ano, o Vasco renovou os contratos de Fellipe Bastos e Guarín – o colombiano rescindiu no meio do ano praticamente sem entrar em campo, e o volante, com quatro gols e vice-artilheiro do time no ano, não teve o contrato renovado após desentendimento com Sá Pinto. Importantes em 2019, Rossi, Richard e Henríquez não ficaram para 2020. Já durante a temporada, Marrony e Raul, insatisfeitos, foram vendidos a Atlético-MG e Bragantino. A experiência dos atletas fez falta.

Se foi econômico, mas certeiro, no início da temporada, o mesmo não se pode dizer da janela de meio de ano do Vasco. Com o Brasileiro em andamento, o clube trouxe outros 10 nomes, na gestão de André Mazzuco (executivo) e José Luis Moreira (vice de futebol). A maioria desconhecida do torcedor.

Quase ninguém vingou, apenas Léo Matos, Marcelo Alves e Leo Gil são titulares. Parede e Jadson, por exemplo, pouco jogaram e já foram embora. O angolano Toko Filipe sequer entrou em campo. Com contrato até o fim do ano, o colombiano Gustavo Torres se atrasou cinco dias ao se reapresentar no início do ano e sequer foi relacionado desde que Luxemburgo chegou.

3. Eleição intensifica instabilidade política

É impossível mensurar o quanto atrapalhou, mas ao longo do Brasileiro o Vasco vivenciou a eleição mais conturbada de sua história. O processo eleitoral foi arrastado, desgastante e respingou no futebol.

Como Alexandre Campello foi candidato à reeleição, o futebol foi constante alvo de críticas, e o pleito influenciou em decisões da diretoria. O caso de Ramon Menezes é emblemático. Em 15 de setembro, com o Vasco no G-4, o presidente lançou sua candidatura e disse que “o vascaíno estava tirando onda após muito tempo”. Menos de um mês depois, o treinador foi demitido, em 8 de outubro, após goleadas para Atlético-MG e Bahia, com o time na 10ª colocação.

O cenário político e a pressão sobre o dirigente tiveram um peso grande na decisão. E a frase de Campello, tempos depois, virou motivo de chacota.

O peso da eleição no futebol, no entanto, vai muito além da demissão de Ramon. O pleito foi judicializado, houve duas votações e, acima de tudo, indefinições. O novo presidente deveria ter sido conhecido na primeira quinzena de novembro, mas apenas em 17 de dezembro o TJ-RJ definiu que Jorge Salgado seria o mandatário no próximo triênio.

Mesmo depois da decisão do TJ, o candidato Leven Siano e alguns de seus apoiadores entraram com diversas ações na Justiça. Quando o partido Solidariedade entrou com ação no STF no início de janeiro, por exemplo, Leven disse não ter dúvida de que a corte acolheria o pedido e o tornaria presidente. O ministro Dias Toffoli negou o pedido em 11 de fevereiro, já depois da posse de Salgado, ocorrida em 22 de janeiro.

Todo esse processo teve consequências. Candidato mais votado em 7 de novembro, em eleição que foi interrompida antes do fim pela Justiça, Leven Siano planejava iniciar a transição imediatamente. Entre as ações, prometeu a contratação do atacante italiano Balotelli e a compra de Benítez. O candidato chegou a postar em dezembro uma foto com Adrian Castellano, empresário do argentino, o que irritou Campello.

Campello aguardou uma definição judicial e reclamou publicamente que as declarações de Leven afetariam o elenco. Tudo isso atrasou definições, como a demissão de Ricardo Sá Pinto, a permanência de Benítez e a busca de recursos por salários.

O caso do argentino é outro exemplo da influência política no futebol. Durante a negociação com o Independiente, Campello teve que se dividir entre a campanha e os impasses sobre como ocorreria a eleição. No fim de outubro, o então presidente tinha passagem marcada para a Argentina, mas cancelou a viagem por conta de votação de última hora do Conselho Deliberativo. Pouco depois, o Vasco entrou em acordo para a compra do jogador, mas a negociação foi paralisada quando o dirigente retirou a candidatura.

Após a derrota para o Athletico-PR, em 27 de dezembro, Salgado e seus pares iniciaram o processo de transição ao lado de Campello. Foram definidas as demissões de Sá Pinto e sua comissão técnica, além da saída do diretor-executivo André Mazzuco. Alexandre Pássaro, que deixou o São Paulo no último dia de 2020, veio para o lugar. Zé Ricardo foi a primeira tentativa para assumir o time. Com a recusa, o clube buscou Vanderlei Luxemburgo.

No mesmo período, em termos de comparação, Internacional, São Paulo e Santos também passaram por processos eleitorais, mas tiveram bons resultados em campo. O Botafogo foi rebaixado, embora a eleição em General Severiano não tenha sido tumultuada como a do Vasco.

4. Crias não vingam, medalhões deixam a desejar

A montagem do elenco foi falha, mas esperava-se muito mais de quem estava no grupo. Impulsionado pelo sucesso de Talles em 2019, o Vasco apostava na base e principalmente no camisa 11. O atacante é um capítulo à parte, não vingou na temporada e deixou a desejar. Ele fraturou o pé esquerdo em fevereiro e pouco jogou no primeiro semestre. Desde que voltou, porém, não conseguiu se aproximar do nível de atuações do ano anterior. Somou apenas três gols e seis assistências.

A base do Vasco, no entanto, não se limita a Talles: Juninho, Gabriel Pec, Bruno Gomes, Andrey, Ricardo Graça, Vinícius, Caio Lopes, Miranda, Cayo Tenório, Lucão… Todos tiveram oportunidades, alguns viveram bons momentos, mas oscilaram, o que é normal. O erro, talvez, tenha sido depositar tanta esperança na garotada em um ano tão tumultuado em São Januário.

As lideranças também deixaram a desejar. Desde 2018 no Vasco, o capitão Leandro Castan teve sua pior temporada no clube e conviveu com críticas da torcida, algo até então inédito. Fernando Miguel passou a ter a titularidade contestada, após algumas falhas. O “cascudo” Leo Gil não entregou o que se esperava dele. Pikachu, reserva a maior parte da temporada, viveu momento técnico muito ruim. Se em anos anteriores era o artilheiro do time, nesta temporada só fez dois gols e duas assistências.

5. Defesa falha

Apesar de contar com jogadores de bom nível técnico no setor, principalmente Leandro Castan e o promissor Ricardo Graça, o setor defensivo foi um problema em 2020. Geralmente com uma proteção insuficiente dos homens de meio-campo – o volante mais pegador deles, Bruno Gomes, só passou a ser regularmente utilizado por Vanderlei Luxemburgo – a defesa mostrou muita fragilidade.

Ricardo Graça conviveu com problemas médicos e erros técnicos, Leandro Castan fez sua pior temporada, e os outros zagueiros não conseguiram se firmar. Nem o também promissor Miranda, capitão em todas as categorias de base, e tampouco Werley e Jadson, este indicado por Ricardo Sá Pinto e que protagonizou passagem relâmpago pela Colina (jogou só cinco vezes). Marcelo Alves, talvez o patinho feio do setor, foi quem surpreendeu com alguns bons jogos na reta final.

Os laterais-direitos Pikachu e Léo Matos tampouco se destacaram – o primeiro, a exemplo de Castan, viveu seu pior ano no clube. Na esquerda, Henrique viveu bons momentos com Ramon Menezes, principalmente no setor defensivo, atuando como terceiro zagueiro, mas falhou em horas decisivas, como na expulsão contra o Coritiba. Neto Borges, contratado no meio da temporada, nunca mostrou futebol suficiente para defender o Vasco. Para completar, Fernando Miguel também viveu altos e baixos no gol.

Resultado: o Vasco termina como uma das defesas mais vazadas do Campeonato Brasileiro, atrás apenas de Goiás, Botafogo e Bahia – a 17ª pior, com 56 gols sofridos. Não chegou a nenhuma final de turno no Carioca, caiu cedo na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana. Um desastre.

6. Gols concentrados em Cano

Contratado sem pagamento a outro clube, Cano desembarcou nos braços da galera em 6 de janeiro do ano passado, tendo o nome gritado por centenas de vascaínos no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. E provou em campo que foi o principal e um dos poucos acertos da diretoria na temporada.

Soma 24 dos 53 gols do Vasco na temporada – quase 50% -, e a concentração dos gols da equipe no artilheiro argentino se repete no Brasileiro. Fez 14 dos 37 marcados pelo Vasco. Perdeu pênalti importante contra o Internacional, mas o balanço é altamente positivo. Os diversos parceiros de ataque nunca vingaram, especialmente o badalado Talles Magno.

7. Ausência de torcida quando o Sócio Gigante explodia

Todos os clubes foram afetados pela pandemia, mas a ausência de torcida chegou num momento especialmente delicado para o Vasco. A campanha de associação em massa feita em novembro de 2019 permitiu ao Vasco virar o ano beirando os 200 mil sócios-torcedores, número que caiu bruscamente após a restrição ao público e o término da promoção feita pela diretoria.

Antes da pandemia, a torcida proporcionou bonitas festas em 2020. Mesmo com o começo de ano ruim do time, São Januário encheu, por exemplo, nas partidas contra Goiás e Oriente Petrolero, e os vascaínos compareceram em bom número ao Maracanã diante do ABC, pela Copa do Brasil.

8. Reclamação da arbitragem

As reclamações do Vasco contra a arbitragem ocorreram durante todo o campeonato, mas se intensificaram na reta final. Só na gestão de Vanderlei Luxemburgo, por exemplo, há três lances citados: falta em Andrey no terceiro gol do Bragantino, a não expulsão de Gregore, do Bahia, e o gol de Rodrigo Dourado, do Inter.

Este lance, aliás, motivou o Vasco a pedir a anulação do jogo contra o time gaúcho. Há o entendimento de que houve erro de direito por o VAR ter validado um gol que seria ilegal. O volante estaria em impedimento.

Em todo o Brasileiro, árbitros alteraram a decisão de campo 18 vezes contra o Vasco após consulta ao VAR. O clube liderou este ranking.

Fonte: Globo Esporte

4 comentários
  • Responder

    Apenas 1 fator rebaixou o Vasco. O Golpe nas eleições. Ponto Final.
    Clube sem credibilidade, pois está cheio de 171.

  • Responder

    Quanta irresponsabilidade.
    Depois reclamam das manifestaçöes da torcida.

  • Responder

    Eu acho q um dos principais fatores do rebaixamento foi a persima contratação . O elenco q o luxa recebeu é de série c. Só vigor cano e Benitez o restante nem para reservas.

  • Responder

    Eu acho q um dos piores fatores do rebaixamento foi a persima contratação só vingou o cano o resto é jogadores de série c do nosso futebol

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