Comércio da Barreira do Vasco é afetado com jogos sem público em São Januário

Comerciantes locais lamentam decisão da Justiça de manter proibição da presença de torcedores mesmo após fim da punição ao Vasco da Gama.

Faixa de protesto posicionada nos arredores de São Januário
Faixa de protesto posicionada nos arredores de São Januário (Foto: Daniel Ramalho)

São Januário não recebe um jogo com público há quase dois meses. Entre punições do STJD e proibição imposta pela Justiça do Rio, os comerciantes dos arredores do estádio do Vasco sofrem grandes impactos financeiros e vivem a expectativa pelo retorno da torcida à Colina.

– As vendas caíram demais. Em dia de jogo isso aqui costuma ficar lotado, e agora é um deserto. A gente paga as contas menores, e as maiores deixamos para depois, não tem jeito – Denize Coutinho, do Trailer do Vascão.

O que aconteceu

O Vasco foi proibido de receber torcida após a confusão que houve na derrota para o Goiás, no Brasileiro.

O STJD definiu 30 dias com os portões fechados para jogos na Colina e proibia a torcida também em jogos como visitante, pena similar à aplicada ao Santos.

Posteriormente, a Justiça do Rio de Janeiro acatou um pedido do Ministério Público e determinou a interdição do estádio.

”Foi uma queda significativa nas vendas, no mínimo uns 60%. Até porque o movimento não é apenas no dia do jogo, começa já na semana, com a troca de ingressos na bilheteria. A gente torce para que a torcida possa voltar logo”, disse Thassio Santos, do Bar Caiau.

Desde então, o Cruz-Maltino foi mandante em quatro partidas. Contra o Cuiabá, atuou no estádio da Portuguesa-RJ, na Ilha do Governador.

Com a Colina liberada, mas para jogos sem torcida, recebeu Cruzeiro, Athletico-PR e Grêmio.

”Tivemos um prejuízo grande, perdemos muito. Só quem está passando sabe. Antes, isso aqui vivia cheio antes e até depois do jogo. E quem não conseguia ingresso, ficava vendo aqui na TV”, Cleo Barbosa, do Bar Pedro e Léo.

– A gente vem procurando alternativas, mas nada se compara. Em julho, foram cerca de R$ 60 mil a menos de arrecadação. O pré-jogo de São Januário é uma tradição, e a gente perde no antes, durante e depois. Em dia de jogo sem torcida, tem queda também de outros clientes porque o esquema de segurança permanece, o que dificulta a chegada – Helio Martins, do Floriano Gourmet.

A queda no número de vendas quase causou problemas maiores para Joyce e Ramon de Oliveira, ambulantes que ficam próximos à praça localizada na entrada da Barreira do Vasco. ”Não tem torcida, não tem como vender. O nosso nome quase ficou sujo porque as vendas caíram demais”, relatou Joyce.

No caso de Raul Diogo, que tem um bar e um depósito na Barreira, o prejuízo foi duplo. ”O impacto foi total. O rendimento caiu uns 40%. A gente distribui para os bares e para os ambulantes que trabalham nos dias de jogos. Então, pesa bastante, tem sido muito ruim”.

”Cercado pela comunidade”

Em documento emitido no dia 23 de junho, ao falar sobre o ocorrido em Vasco x Goiás, Marcello Rubioli, Juiz Auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça, utilizou como um dos argumentos para embasar o que avaliou como ”total falta de condições de operação do local” a proximidade de São Januário com a comunidade Barreira do Vasco.

”Vê-se que todo o complexo é cercado pela comunidade da Barreira do Vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio”, diz trecho do documento.

”Vi esse argumento com tristeza, como se, mais uma vez, a favela tivesse de ser excluída do mapa. Temos de mostrar que na favela não existe só tristeza. Que possam tirar esse rótulo de que favela é sinônimo de violência e mostrar que tem pessoas de bem. Quem viu que a Barreira leva perigo, que venha nos fazer uma visita. Vão ver que a favela é boa e não oferece perigo aos torcedores”, completou ressaltou Vania Rodrigues, presidente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco. que completou:

”Hoje são várias famílias sendo impactadas, pessoas que contam com o jogo para ter um dinheirinho a mais no fim do mês, que ajuda a pagar um gás, luz, um remédio”.

Vasco tenta reabertura

O Vasco vem se movimentando para conseguir a reabertura de São Januário. Houve movimentações jurídicas, mas ainda não há prazo para um julgamento sobre o caso.

Paralelamente, a diretoria do clube buscou o MPRJ para tentar um alinhamento do que é necessário para a liberação. No começo da semana, houve uma inspeção no estádio e arredores.

O Cruz-Maltino também buscou apoio de órgãos como a Ferj, uma vez que entende ser vítima de um desequilíbrio esportivo no Brasileiro. Atualmente, o clube é o único que não pode receber torcida em sua casa.

Fonte: Uol

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