Com mais 1 mês de contrato com o Vasco, Andrey vira líder do Brasil no Mundial Sub-20

Andrey se destacou no Cruzmaltino, foi vendido ao Chelsea, e hoje é a principal referência da Seleção Brasileira Sub-20.

Andrey Santos conquista título pela Seleção Brasileira Sub-20
Andrey Santos comemorando título pela Seleção Brasileira Sub-20 (Foto: Pedro Vale/CBF)

A seleção brasileira sub-20 que busca o título do Mundial da categoria na Argentina é comandada por um jogador que, poucos sabem, começou a jogar bola porque era “gordinho” e precisava perder peso. Hoje Andrey Santos, cria do Vasco e vendido por cerca de R$ 68,5 milhões ao Chelsea, é um dos principais jogadores sub-20 do futebol brasileiro.

Depois da estreia com derrota para a Itália, o Brasil volta a campo pelo Mundial na quarta-feira para enfrentar a República Dominicana, às 18h (de Brasília), com transmissão do sportv.

Vendido ao Chelsea em dezembro, Andrey foi emprestado ao Vasco para disputar as primeiras rodadas do Brasileirão enquanto acumula pontos para receber o visto de trabalho da Premier League. Ele deve jogar mais dois ou três jogos depois do Mundial porque, em julho, precisa se apresentar ao clube inglês.

O volante chegou ao Vasco muito novinho, com apenas seis anos de idade. Mas os primeiros passos no futebol se deram pouco distante de São Januário: ele foi apresentado ao futebol na quadra do Bangu, com o professor Luiz Manoel Gomes, o “Manel”.

– Eu me lembro bem do Andrey jogando. Me surpreendeu pela potência que tinha, apesar de estar um pouco fora do peso – conta o primeiro treinador. – Quando levava a bola para o lado direito dele e balançava para a esquerda, eu sabia que ia chutar. Nunca olhava para o gol, ele sabia onde estava o gol mesmo muito novinho.

O ge foi ao bairro de Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, para conhecer as origens do jogador que tem a responsabilidade de comandar uma geração inteira na Argentina. O último título do Brasil no Mundial Sub-20 foi em 2011 com nomes como Henrique (hoje no América-MG), Dudu (do Palmeiras), Oscar (Shanghai Port) e Philippe Coutinho (Aston Villa).

– Várias vezes me perguntei se ia valer a pena – se emociona a mãe Jordânia Gregoriano, de 39 anos.

– Teve uma época que o pai trabalhava em dois empregos e eu ficava em casa com o Andrey e a irmã (Andressa, de 12 anos). Nesse dia, pegamos o ônibus e no meio da Avenida Brasil ele quebrou. O próximo que veio estava muito cheio. Eu estava com a irmã dele bebê no colo, ele embaixo uniformizado de Vasco me olhando. Lembro que olhei para o alto e falei: “Senhor, será que vai valer a pena?” – se recorda ela.

“Quando chegamos em São Januário, apareceu um homem que disse: ‘Todo esforço vai valer a pena’. Olhei para trás, e o homem tinha sumido. Parece até filme, mas é verdade”, conclui.

Andrey superou paralisia facial

Foi da avó a decisão de colocar o “gordinho” Andrey no futebol de salão. Os pais, Jordânia e André, trabalhavam durante a semana e não tinham tempo para levá-lo aos treinos. “A ideia partiu da minha sogra, que viu a escolinha e pagava a mensalidade. Fomos abraçando a ideia”, conta a mãe.

Durante algum tempo, Andrey percorria três dias na semana o trajeto de cerca de meia hora entre a Vila Aliança, onde morava, e o bairro de Bangu. A avó o acompanhava nos treinos. Aos sábado e domingos, nos jogos, eram os pais.

Entre cinco e seis anos de idade, o pequeno Andrey deu um susto tremendo na família: o lado direito do rosto ficou completamente paralisado.

– Ele ficava com minha mãe, abria a geladeira, ia brincar, voltava, e o lado direito dele ficou bem torto. Mal comparando, como se fosse um derrame – explica o pai André, de 42 anos.

Andrey fez fisioterapia e superou o problema. Mas até hoje, em alguns momentos em que sorri, dá para notar uma ligeira diferença entre os lados do rosto. Por conta disso, enquanto os pais procuravam entender o que de fato havia acontecido, ele ficou cerca de nove meses sem dar as caras na escolinha.

Foi o professor “Manel” que insistiu para que ele retomasse os treinos. Toda vez que encontrava Andrey e os pais por Bangu, dizia a mesma coisa: que tinham que colocá-lo de volta nas quadras, que o futebol nada faria além de ajudar a melhorar o quadro.

André e Jordânia a princípio eram relutantes porque o futebol nunca foi uma prioridade. A cobrança deles era para que Andrey fosse bem na escola. “Gostávamos da felicidade dele por jogar bola, por se distrair. Até os 13 anos era algo competitivo, mas por lazer”, conta o pai.

Ele lembra qual foi o momento da mudança de perspectiva. O momento em que caiu a ficha de que o filho poderia ser jogador profissional.

– Eu até me emociono… Foi quando teve a primeira convocação da seleção sub-15, ele tinha 14 anos e não foi convocado. Quando eu vi a tristeza nele, me emocionei muito mesmo. No pensamento dele, estaria convocado e não foi. Ali consegui ver que era tudo que ele queria – diz.

“Consegui enxergar que de repente ele poderia se dedicar mais, a gente poderia orientar melhor na parte de competitividade no futebol, e mesmo assim mostrar para ele que a vida é assim. Não é fácil, não é como a gente quer”, conclui.

Pouca marra, muita bola

Andrey também precisou passar por cima da timidez para se dar bem no futebol.

– Ele não falava. Interagir com ele era muito difícil. Chegava, treinava e jogava – lembra o treinador Manoel.

– Até hoje mesmo, percebo isso em entrevistas. Está sempre concentrado. É um fator muito importante que ele apresentou, o poder de concentração do Andrey era muito anormal para a idade dele. Sempre muito educado. Apanhava muito. Caia, levantava e seguia jogando – completa.

Andrey ainda é um garoto de poucas palavras, mas os pais garantem que era bem pior quando ele era mais novo. “Eu chegava nas quadras e falava: ‘Meu filho pode jogar com vocês?’. Porque ele queria, mas não conseguia”, se recorda Jordânia.

Ele também foge da estética da maioria dos jogadores de futebol, que com essa idade costumam ter tatuagens, orelhas furadas e cortes ousados. A mãe conta que só o que o filho certa vez sugeriu fazer foi descolorir o cabelo, mas logo foi demovido da ideia: “Até hoje ele brinca comigo, diz que vai pintar, mas eu falo que não combina”.

Apontado já há alguns anos como grande promessa da base do Vasco, Andrey fez sua estreia no profissional em 2021, mas só firmou a partir da temporada do ano passado, quando assumiu a titularidade do meio de campo na Série B e foi peça essencial na campanha do acesso – terminou como vice-artilheiro da equipe na competição, atrás apenas de Raniel.

Recentemente, Andrey e seus representantes ingressaram na Justiça contra o Vasco para receber dívida pendente referente à sua venda ao Chelsea. Ele tem ao todo 49 jogos e nove gols marcados. Em março, chamado pela primeira vez à seleção brasileira principal, se emocionou com a convocação e foi titular na derrota para o Marrocos.

– Sendo muito sincero, a ficha parece que não caiu ainda – diz o pai.

– Mesmo tendo informações, notícias de internet… Tentamos ao máximo blindar ele e, ao mesmo tempo, orientar. Continuamos com os pés no chão, sabendo que ele pode alçar voos maiores, mas é muito gratificante tudo que acontece na carreira dele. A ida para o Chelsea é maravilhosa, mas que ele mantenha sempre o pé no chão para galgar coisas melhores – conclui.

De longe, o professor “Manel” torce pela joia que ajudou a lapidar. Ele mantém contato com os pais, mas não voltou a ver Andrey depois que ele foi para a base do Vasco, ainda bem novinho. Por outro lado, usa o capitão da seleção brasileira sub-20 como exemplo sempre que pode.

– Ver o Andrey jogar é uma alegria. Ver o pessoal falar do Andrey é muito gostoso. O que ele faz ali, é ele mesmo. Não existe o Andrey sem a bola, não existe a bola sem o Andrey. E continua o garoto carinhoso. Calado, mas muito meigo ainda. E vou estar aqui torcendo – afirma o treinador, que segue na mesma quadra formando talentos no futsal do Bangu.

– O Andrey o tempo todo serve de inspiração..

Fonte: Globo Esporte

1 comentário
  • Responder

    Andrey, tira um tempo para ir visitar o Manel, cara!

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