Campello se manifesta sobre reprovação de contas: ‘Movimento político’

O presidente do Vasco da Gama, Alexandre Campello, afirmou que a reprovação das contas de 2018 foi um movimento político.

O presidente do Vasco, Alexandre Campello, teve suas contas referentes ao exercício de 2018 reprovadas pelo Conselho Deliberativo em sessão realizada na última quinta-feira, na sede da Lagoa. Para Campello, o resultado é reflexo de um movimento político de seus opositores já de olho nas eleições a serem realizadas no fim do ano.

O mandatário afirma que adversários pautaram seus votos em um dos pontos da proposta de reforma estatutária que está em discussão também no Conselho Deliberativo (foi adiada duas vezes e será retomada na próxima terça-feira, na Lagoa), a questão da inelegibilidade.

– Eu não tenho dúvida de que esse é um movimento político. Acho que muito maior do que alguns possam imaginar. Você tem uma mudança de estatuto em curso. Essa mudança prevê a inelegibilidade do dirigente que tiver as suas contas reprovadas, e o Conselho reprova as contas do Vasco, sendo que esse balanço de 2018 foi o melhor já publicado na história do clube. Isso não foi dito por mim, mas pelo mercado. Por especialistas que conhecem a área. O próprio Rodrigo Capelo, mas muitos outros têm dito isso. Que esse foi o melhor balanço da nossa história, com resultado positivo e redução de dívida.

– A reprovação se dá em um Conselho que anteriormente aprovou o balanço e as contas de 2017, com um critério totalmente diferente do critério utilizado em 2018, que são as minhas. Essa reprovação teve como atores e protagonistas o seu Eurico Brandão, o senhor Julio Brant, o senhor Roberto Monteiro e alguns outros, como Luis Manuel Fernandes, que é um postulante a candidato a presidente.

– Eu não tenho a menor dúvida de que a reprovação tem um viés político muito forte associado a um desejo talvez de me tornar inelegível.

O trecho ao qual Campello se refere no documento apresentado pela comissão de reforma estatutária está presente no parágrafo segundo do artigo 149 (Capítulo XIX – Da prestação de contas): “A reprovação das contas no Conselho Deliberativo impor-se-á ao gestor sua inelegibilidade por cinco (cinco) anos no Clube além das medidas cabíveis de responsabilização que o clube promoverá em função das motivações da reprovação das contas de seu gestor”.

Confira outras declarações de Alexandre Campello:

A votação foi apertada, 99 a 88. O senhor acha que a ruptura com o Julio Brant no último pleito influenciou. Não fosse isso, acredita que teria mais apoio? Por isso aponta o resultado como movimento político?

Não acredito, até porque muitos desses votaram anteriormente ao meu favor quando era conveniente para eles. Obviamente que a ruptura que ocorreu entre mim e o Julio tem importância. Qualquer outro candidato que tivesse entrado de outra forma teria 120 conselheiros ao seu lado. Dessa maneira, houve um fracionamento nos conselheiros eleitos. Mas eu não tenho dúvida de que essa é uma associação de grupos que têm interesses na eleição que ocorrerá em novembro.

Na recomendação da reprovação das contas feita pelo Conselho Fiscal, há uma referência a dois balanços referentes a 2017 e que isso impacta nos saldos iniciais das demonstrações financeiras de 2018. Como explicar essa questão dos dois balanços?

Na realidade, não existem dois balanços. Só existe um que é o que a Diretoria Administrativa, com a minha assinatura, publicou no dia 30 de abril. Esse é o único balanço existente. Isso o de 2018. Assim como o de 2017. Ao assumir o clube, trabalhamos na confecção do balanço, e ele foi publicado. Isso é uma coisa. O balanço é uma peça, talvez a mais importante, das demonstrações do clube, mas o que se vota no Conselho não é o balanço, mas a aprovação de contas. E aí, eu explico.

Você pode ter um balanço no qual não conseguiu cumprir o orçamento, que teve prejuízo e esse balanço ser aprovado. Pois eventualmente alguma coisa aconteceu durante o exercício que implicou no resultado. Em 2017, por exemplo, tivemos São Januário impedido de ser utilizado por seis meses por conta de uma briga que aconteceu. E isso impactou nas receitas de bilheteria.

Então, houve uma queda de receitas. O Vasco teve de jogar no Maracanã, e isso acarretou prejuízo. Uma crise econômica no país pode ainda impactar nos resultados, então, o dirigente tem de ir lá defender as suas contas, explicar e, normalmente, se faz uma carta de apresentação das contas. E é isso que é julgado.

Foi julgada a conta de 2017 e ela foi aprovada. Acontece que, na ocasião, o doutor Eurico queria publicar o balanço. Eu não aceitei pois isso não era possível. O exercício dele havia acabado, ele já não tinha mais mandato e quem estava em exercício era eu. Eu quem deveria publicar o balanço de 2017, o que foi feito em 2018. Apesar de ser na gestão dele, a publicação se deu em 2018. Isso é o normal.

E ele, querendo defender essa questão, fez um balanço e usou isso na prestação de contas dele. O presidente do Conselho Deliberativo (Roberto Monteiro), já com a intenção de causar confusão e dúvidas, quando botou para a votar, escreveu Balanço/Prestação de Contas.

Isso foi amplamente discutido na época. O próprio doutor Eurico, na sessão em que as suas contas foram aprovadas, disse que o que estava sendo votado era sua prestação de contas e que o balanço era um só. Mas o presidente do Conselho Deliberativo insiste que os números devem ser modificados e que o número de partida de 2018 devem ser o do balanço do Eurico e não o que o Vasco publicou. Isso não é possível, não é permitido. Então, essa é a explicação.

Por isso que o Conselho Fiscal fala em dois balanços?

Exatamente, o que é um completo absurdo. Não existem dois balanços, existe um. E ele não tem de ser retificado como eles determinam. É a mesma que eu fazer uma declaração de renda sua, com os números que eu acho e você ser obrigado a assinar. Eu não posso ser obrigado a assinar com um número que eu não concordo. O número é o que eu cheguei. É o número que as empresas contratadas, reconhecidas mundialmente, chegaram. Foi auditada por uma das maiores empresas de auditoria do mundo, que é a BDO.

O Conselho Fiscal também alega que não ter recebido “dos auditores independentes da BDO” nenhum relatório circunstanciado sobre os períodos de 2016, 2017 e 2018. O CF questiona a independência da BDO.

Isso beira o ridículo. Não existe nenhuma relação da BDO com o Vasco. A gente contratou a BDO pela excelência do trabalho. É uma das empresas que mais faz auditoria no futebol. Nunca tinha tido contato antes com alguém da BDO até porque as minhas clínicas nunca precisaram de auditoria. Enfim. O Conselho Fiscal, presidido pelo Valentim (Edmílson José Valentim dos Santos), que é do mesmo grupo político do senhor Roberto Monteiro, o tempo todo ficam, desde que eu assumi, tentando atrapalhar o trabalho da gestão.

Quando eles dizem que não entregamos os documentos… isso é um verdadeiro absurdo. Nunca se entregou tantos documentos ao Conselho Fiscal como foi na minha gestão. Nós temos os ofícios, temos registro do que foi entregue. Acontece que toda a semana eles mandam cinco, 10, 20 ofícios pedindo documentos que, aliás, ele nem sabem para que estão pedindo. Muitas vezes alguns profissionais foram lá saber o que eles queriam e eles não souberam explicar. A ideia é, de fato, atrapalhar, tumultuar, criar constrangimento, criar dificuldade e construir um cenário para culminar com essa orientação de reprovação do balanço.

O senhor falou da inelegibilidade. Já decidiu se vai concorrer em novembro?

Não tenho dúvidas é que para me tornar inelegível. Eu não decidi ainda se vou concorrer, mas percebi que estou incomodando.

Ainda na recomendação da reprovação das contas, contesta-se superávit de R$ 64 milhões, que o CF associa às vendas de Paulinho, Matheus Vital e Madson e a acordos. Com letras maiúsculas, diz-se, em letras maiúsculas e em negrito, que a a inexistência do superávit é óbvia. Qual sua posição sobre isso?

Para começar, eu tenho dúvidas se isso é desconhecimento ou má intenção. Ou talvez os dois. Acho que a venda de atletas faz parte das receitas do clube, então, elas têm de se registradas. Eles têm uma série de alegações, como por exemplo, os depósitos judiciais (R$ 32 milhões) que não se pode comprovar com exatidão esses valores. Óbvio que a gente assumiu e houve dificuldade de conseguir alguns documentos.

O balanço de 2017 tivemos dificuldade, o de 2018 foi melhor. Mas ainda existiram algumas dificuldades, entre elas os depósitos judiciais. Mas esse volume, falam que tem R$ 40 milhões, isso não impacta em nada. Eu digo que é má fé deles.

Esse valor está depositado que amanhã ou depois o Vasco pode pegar. Mas ele não impacta nos resultados do clube e no superávit. É totalmente à parte. Então, se ele não for R$ 40 milhões e for R$ 3 milhões, não faz diferença nenhuma. Volto a dizer: são argumentos que não se sustentam. E aí você pode procurar opinião externa. A minha opinião poderia estar pelo lado que me encontro, mas procurem os especialistas foram do Vasco. Hoje mesmo saiu matéria do Capelo (Rodrigo, blogueiro do Globoesporte.com), que é uma das pessoas que mais entende disso, horrorizado com o foi dito e com o que foi feito.

A questão da negociação do Paulinho citada pelo Conselho Fiscal em relação ao Superávit na recomendação é uma que volta e meia é citada… Por quê?

Toda a hora eles voltam com a história do Paulinho. Se você quiser, te mostro tudo. Os extratos, para onde foi o dinheiro, qual foi o valor do câmbio. Eu demonstrei isso N vezes, e eles insistem em falar isso. Uma mentira contada 100 vezes não se torna verdade, mas pode parecer.

O senhor crê que a repetição sobre essa venda se dá pelo fato de ser a última grande venda do Vasco nos últimos anos?

Eles têm de procurar o que falar. Paulinho foi vendido por 18,5 milhões de euros e todo o recurso foi utilizado para pagar salários, impostos e dívidas. Nenhum centavo foi feito investimento de patrimônio e atletas. Que outra gestão faz isso? Usar dinheiro de venda para redução de dívida? Nada foi investido no futebol.

O que a reprovação de suas contas pode acarretar ao Vasco em sua opinião?

Isso repercute muito mal no mercado, causa uma desconfiança muito grande. Os nossos parceiros, especialmente instituições financeiras, perguntam o que está acontecendo. Hoje já pela manhã recebi recado que o presidente da Apfut quer uma reunião comigo por conta dessa reprovação. Acho que isso sinaliza mal ao mercado e parceiros do clube. Como vou tratar com investidores e fundos a obra de modernização de São Januário? Isso causa dificuldade enorme. Como alguém vai investir em um clube com contas reprovadas? Isso tem impacto muito grande na vida do clube.

Diante desse cenário que o senhor enxerga, é possível um acordo com seus opositores?

Espero que esses grupos reflitam sobre o que fizeram. Talvez a gente tente mais uma vez demonstrar que essas questões que foram fruto da ressalva que fizemos no balanço estão sendo sanadas. Mas elas só podem sair no próximo balanço. Quando nós publicarmos o próximo balanço é que se poderá verificar sem essas ressalvas. A gente pode pedir uma nova reunião no Conselho Deliberativo para demonstrar que as ressalvas já foram sanadas, e talvez esses conselheiros tenham entendimento de que esse não é o melhor caminho para o Vasco.

É possível a convocação de uma nova reunião para tentar reverter essa derrota?

Vamos avaliar. O fato de não ter sido aprovado não quer dizer que tenha fraude ou algo de errado. Na realidade, quando se tem alguma ressalva, você declarou que tem R$ 40 milhões em depósitos judiciais, mas não se conseguiu ver todos os documentos que comprovam esses depósitos. Então, a gente contratou um escritório para tirar esse relatório, o que não é fácil. Tem de ir a diversas varas e fazer levantamentos. Com esse documento, a ressalva cai. Talvez fazer esse tipo de demonstração e um pedido para o conselho reavaliar seja possível. Vamos estudar.

Globo Esporte

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