Amigos, Zé Ricardo e Felipe se reencontram com perfis e níveis distintos
Zé Ricardo e Felipe se reencontrarão na noite desta quinta-feira, no jogo entre Vasco da Gama e Bangu, em São Januário.
É praxe no ritual do futebol: antes do começo da partida, os técnicos das equipes se procuram para um cumprimento. É um aperto de mão, um abraço, tudo depende do grau de intimidade. É um “muito prazer”, ou então, como será no caso de Felipe e Zé Ricardo, um “há quanto tempo!”.
Trinta anos atrás, a poucos passos do gramado de São Januário, onde Vasco e Bangu se enfrentam pelo Campeonato Carioca, às 20h30, os destinos dos dois se cruzaram pela primeira vez. Nas quadras de futsal atrás da arquibancada, o adolescente Felipe foi treinado pelo “professor” Zé Ricardo, seis anos mais velho.
O rapaz canhoto habilidoso fazia a transição da quadra para o campo e cabia ao então jogador de salão, que se dividia entre as partidas como zagueiro e o trabalho como técnico, lapidar o talento da promessa vascaína:
– Ele era um técnico muito inteligente, atencioso com os atletas, dava para ver que fazia com paixão. O Zé tem um coração muito bom.
Acabou colaborando para o surgimento do jogador com mais títulos na história do Vasco (sete, entre Libertadores, Brasileiro e Copa do Brasil). Essa noite, eles se reencontram como adversários. São treinadores em estágios diferentes da carreira e com ideias distintas sobre o jogo.
À frente do Bangu desde a Série D do ano passado, Felipe considera esse seu primeiro trabalho de verdade como técnico. Nele, tenta escrever história em que a ofensividade seja uma marca. Quer a bola para si, é como se tentasse reproduzir na sua equipe o estilo que tinha nos tempos de jogador.
Zé Ricardo, do outro lado, após décadas de serviços prestados nas categorias de base, milita desde 2016 como treinador de equipes adultas. Na sua segunda passagem pelo Vasco, tenta implementar jogo mais pragmático, com ataques mais verticais. Carrega sobre os ombros a responsabilidade de levar o time de volta à Série A, após o fracasso do ano passado. O Carioca e o próprio duelo com Felipe servem como aquecimento para o que ainda está por vir.
– Vou ter a alegria de reencontrar Felipe como colega de profissão. Fico feliz que tenha iniciado muito bem nessa nova etapa da vida dele. Vou continuar torcendo por ele, que é uma grande pessoa também. Mas, durante o jogo, estaremos em lados opostos. Cada um vai defender seus objetivos — ressalta o técnico.
Volta à Colina
Será a primeira vez de Felipe em São Januário desde sua última partida no estádio, ainda como jogador. Em novembro de 2012, foi titular do Vasco no empate em 1 a 1 com o Atlético-MG, pelo Campeonato Brasileiro. Ao fim daquela temporada, deixaria o cruz-maltino mais uma vez. O fim daquele ciclo representou também o encerramento da última fase mais vitoriosa da equipe.
Naquela ocasião, deixou o Vasco à revelia, depois de atrito com o então recém-contratado diretor executivo Renê Simões. Jogou mais um ano, pelo Fluminense, e encerrou a carreira.
Desde então, Felipe ensaia um retorno ao Vasco. Próximo do grupo político de Julio Brant, fez campanha para a eleição do conselheiro nos últimos dois processos eleitorais, em 2017 e 2020. Em caso de vitória da “Sempre Vasco”, ocuparia cargo no departamento de futebol do time de São Januário.
O resultado nas urnas não veio, mas o desejo de retorno segue aceso. Felipe sonha em treinar o Vasco e costuma repetir que isso ainda irá acontecer, ao longo de sua carreira. Por enquanto, a volta a São Januário, esta noite, será como adversário vascaíno. Mas ainda assim, especial.
– O Vasco me formou como atleta, como homem. Passei mais de 30 anos dentro do clube. Ele representa muito para mim, é difícil até de mensurar. Vai ser um jogo especial. Estou feliz por reencontrar a torcida vascaína, mesmo numa situação diferente, como treinador do Bangu. Mas vai ser um jogo especial na minha carreira como treinador.
Para o confronto desta noite, o Vasco deve ter como principal novidade o retorno do lateral-direito Weverton. O jogador cumpriu suspensão no clássico contra o Botafogo e sua volta significa a ida de Léo Matos para o banco de reservas. No mais, Zé Ricardo deve repetir a equipe que vem atuando neste início de temporada e que soma quatro vitórias, um empate e uma derrota, na quarta colocação.
O Bangu de Felipe, que começou a rodada em oitavo, tenta pontuar para seguir na briga por uma vaga na Série D de 2023. Em jogos contra grandes neste Carioca, o alvirrubro soma uma vitória, sobre o Fluminense, e uma derrota, para o Botafogo.
Fonte: Extra