Análise da atuação do Vasco contra o Ceará

Erros técnicos, meio pouco produtivo e dificuldade de criação ofensiva levaram o Vasco da Gama a ser goleado pelo Ceará.

Andery em ação na partida contra o Ceará
Andery em ação na partida contra o Ceará (Foto: Rafael Ribeiro/ Vasco)

O Vasco foi humilhado pelo Ceará em São Januário na derrota por 4 a 1 na segunda-feira. De Andrey a Castan, passando pelo auxiliar Alexandre Grasseli, todos admitiram que o time envergonhou sua torcida. Mas como a goleada foi construída? Erros técnicos aos montes, um meio pouco criativo – mais uma vez – e sem pegada, além de uma defesa, antes ponto alto do esquema de Ricardo Sá Pinto, num dia para esquecer.

Domínios errados iniciam show de horrores

O vascaíno torceu o nariz pela primeira vez aos três minutos, quando o Ceará abriu o placar. Neto Borges e Carlinhos erraram em sequência domínios fáceis, o adversário saiu em contra-ataque, e Pedro Naressi aproveitou para tabelar com Vina e bater na saída de Lucão. Ali já dava para sentir que a noite não seria fácil.

Antes do segundo gol adversário, o panorama só piorava. Leo Gil errava praticamente tudo que buscava, desde toques simples a inúmeros – e infrutíferos – levantamentos de bola. Com 20 minutos, ele só havia completado sete dos 17 passes que tentara.

Seu xará Léo Matos fazia o mesmo na ponta direita. Errava duas vezes. Na tomada de decisão, ao insistir no jogo aéreo mesmo diante dos grandalhões Klaus (1,93m) e Luiz Otávio (1,90m) postados na zaga do Ceará. E na execução dos cruzamentos, quase sempre cortados pela defesa rival.

Leo Gil e Léo Matos, aliás, terminaram o jogo como os vascaínos que mais erraram passes, com 14 (47 certos) e 11 (30 completos), respectivamente.

Afobação no segundo gol, apatia e transição lenta

Questão de tempo, o segundo gol cearense saiu aos 26 minutos. E expôs outra fragilidade: o meio-campo com pouca pegada e a desorganização defensiva. Tão logo que Léo Chú recebeu na esquerda, cinco vascaínos saíram em bloco para tentarem pará-lo de maneira desordenada e afobada. Carlinhos deu um primeiro combate sem força, o meia do Ceará avançou e passou como quis por Léo Matos.

Ao tentar se reorganizar, a defesa viu Cléber entrar pelo meio sem ser incomodado. Leandro Castan, que estava próximo e ciente de que havia deixado o rival passar, até apontou para o grandalhão a fim de avisar Ricardo Graça. Em vão: 2 a 0, e derrota encaminhada. Reparem na quantidade de vascaínos envolvidos no lance. Eram sete dentro da área quando Cléber só empurrou para a rede.

Castan, aliás, teve uma de suas piores atuações com a camisa do Vasco. No intervalo, admitiu que vivera um de seus piores primeiros tempos na Colina. Por pouco não permitiu que Cléber marcasse outro gol, em lance no qual ficou marcando a bola e exerceu marcação frouxa.

O time todo errou muito, mas o Vasco perdeu o jogo no meio-campo. Léo Gil e Andrey são homens para qualificar a saída de bola com inversões e bons passes, mas não cabe a nenhum dos dois a armação. Não têm pegada e nem estrutura física para combaterem com intensidade. Falta um pitbull. E a transição segue muito lenta, o time carece também de um motorzinho para ligar a bola da defesa ao ataque com maior velocidade. Enquanto Benítez não está 100%, Juninho surge como opção, mas Sá Pinto pouco o utiliza.

A apatia do meio foi observada em números citados pelo comentarista Ledio Carmona no intervalo. Comentarista do Premiere no duelo, Ledio destacou que o Ceará foi para o vestiário com mais do que o dobro de desarmes em relação aos donos da casa: 11 a 5.

Sopro de esperança em lançamento e novos erros como balde de água fria

Depois de um primeiro tempo sofrível, certamente o pior do Vasco em 2020, o auxiliar Alexandre Grasseli, orientado por Sá Pinto (desfalque por Covid-19), mexeu no esquema e voltou ao 4-3-3. Pôs Tiago Reis no lugar de Ricardo Graça, que era o melhor dos três zagueiros. A equipe continuava inerte, embora mais presente no campo adversário e mantendo um domínio da posse de bola para lá de improdutivo.

A luz no fim do túnel veio em ótimo lançamento de Andrey, único dos vascaínos que jogou bola. Ribamar dominou na força física e sofreu pênalti que ele mesmo converteu aos 19 minutos.

Era a hora de Benítez, recuperado da Covid-19, mas o camisa 10 pouco acrescentou. Aos 33, o Vasco foi para as cordas de vez. É bem verdade que Gustavo Torres sofreu falta na origem do lance – o comentarista Sandro Meira Ricci denunciou a infração -, mas também é válido pontuar que, cansado, o colombiano não entrou forte na dividida com Lima. Na sequência, o próprio Lima tocou para Saulo Mineiro chutar, e Lucão aceitar. Dava para o garoto defender.

No primeiro tempo, os maiores equívocos vieram dos experientes. Na segunda etapa, foi a vez dos garotos. O zagueiro Miranda, que fez um jogo bem abaixo de suas últimas atuações, cometeu pênalti infantil em Saulo. Vina marcou e fechou a goleada.

Se Sá Pinto havia resolvido o problema defensivo com apenas seis gols sofridos nos nove primeiros jogos, a atuação contra o Ceará ligou o alerta para a decisão contra o Defensa y Justicia, na próxima quinta-feira, novamente em São Januário, pelas oitavas de final da Sul-Americana. E, mais do que nunca, a melhor defesa será o ataque. Se não for vazado, o Vasco passa, uma vez que empatou por 1 a 1 na Argentina, e na competição vale o gol qualificado fora de casa.

Fonte: Globo Esporte

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