A sólida reconstrução do Vasco ‘mutante’ de Cristóvão Borges
A receita vascaína para manter a regularidade não tem segredos, é simples e cristalina: preservação de uma base e, principalmente, da estrutura e da proposta de jogo.
O Vasco só não está no topo da tabela do Brasileirão porque o Atlético-MG faz campanha quase perfeita, a melhor da história dos pontos corridos com 31 pontos em 12 rodadas. A história cruzmaltina na competição, porém, segue impressionante. Como em 2011, dribla dificuldades e percalços e continua firme e forte na luta pelo título nacional.
A torcida contesta o técnico Cristóvão Borges, que reconstroi o time mesmo com a perda de três pilares: Fágner, a saída forte pela direita e o bom parceiro de Eder Luís; Rômulo, o volante de boa marcação, bom passe e estatura para bloquear o jogo aéreo adversário, e Diego Souza, o meia-atacante de lampejos que abriam as defesas.
Equipe que já tinha superado a longa ausência de Dedé com campanhas dignas no Estadual, chegando às finais dos dois turnos, e na Libertadores – eliminação para o campeão Corinthians nas quartas de final em dois jogos equilibradíssimos e vaga definida no gol de Paulinho após Diego Souza perder gol feito.
A receita vascaína para manter a regularidade não tem segredos, é simples e cristalina: preservação de uma base e, principalmente, da estrutura e da proposta de jogo.
O time segue “mutante” taticamente. A base é o 4-3-3, com variações para o 4-2-3-1 com o avanço de Juninho na articulação e 4-4-2 sem a bola, com o recuo de Eder Luís pela direita e o meia pela esquerda abrindo para auxiliar o lateral.
Para executar esta função, o encaixe de Wendel foi preciso. Campeão brasileiro pelo Cruzeiro em 2003, o volante-meia auxilia Nílton na marcação e fecha bem o setor esquerdo, auxiliando William Matheus, efetivado na lateral-esquerda com a má fase de Thiago Feltri e os problemas de Felipe na marcação que sobrecarregavam todo o sistema defensivo.
Enquanto o Vasco não repõe a perda de Fágner, Auremir segue sem comprometer na lateral-direita. Volante adaptado à função desde os tempos de Náutico, sabe fazer a cobertura da zaga por dentro e tenta auxiliar Eder Luís no apoio. Só precisa caprichar mais nos cruzamentos.
Dedé aos poucos recupera a forma física e técnica anterior à lesão e volta a liderar a defesa à frente do seguro Fernando Prass. Ainda não é o zagueiro rápido e soberano de 2011, mas já passa segurança ao jovem Douglas, que herdou a vaga de Rodolfo e Renato Silva.
Joga simples e tem bom tempo de bola nas jogadas aéreas, defensivas e ofensivas. O gol marcado nos 2 a 0 sobre o Santos aumentou a confiança e a efetivação de William Matheus expõe menos o jovem defensor na cobertura.
Na frente, a entrada de Carlos Alberto não mudou a dinâmica do ataque. Assim como Diego Souza, ocupa o lado esquerdo, mas também inverte com Alecsandro e se posiciona como um autêntico meia de ligação e às vezes até troca de lado com Eder Luís.
Ainda peca pelo individualismo em alguns lances e apresenta a irregularidade que marca sua carreira. Mas o entendimento com Juninho e demais companheiros de ataque é bom e o comportamento até aqui é correto, mais maduro. Influência de um grupo que até aqui demonstra profissionalismo exemplar.
É o time de Juninho: líder, exemplo, um dos melhores passadores da competição e o mais efetivo nos cruzamentos: 13 certos em nove jogos. Quatro assistências, todas para Alecsandro, o artilheiro da equipe e do campeonato com oito gols. O último na vitória sobre o Botafogo, com mais um passe do camisa oito, mesmo caído. Na equipe em reconstrução, a dupla vem sendo decisiva.
Os 29 pontos e 80% de aproveitamento não são obra do acaso. Apesar da necessidade de reforços, o “novo” Vasco de Cristóvão continua sólido, consistente. Alheio às críticas, quase imune aos desfalques e problemas. Com dedicação exclusiva ao Brasileiro, pode duelar com o Galo igualmente impressionante por algo mais que o vice-campeonato do ano passado.
blog olho tático