Ex-Vasco João Carlos confia em título na Colina

Revelado pelo Vasco entre 2001 e 2002, João Carlos passou por Búlgaria e Bélgica

O crescimento do antes desconhecido Anzhi Makhachkala com a chegada de Roberto Carlos fascina um zagueiro que muitos brasileiros não conhecem. Revelado pelo Vasco entre 2001 e 2002, João Carlos passou por Búlgaria e Bélgica antes de se tornar titular absoluto dessa ascendente equipe do Daguestão, uma conflituosa república autônoma da Rússia, a cerca de 2 mil quilômetros de Moscou.

Fã do lateral esquerdo – e agora auxiliar técnico -, João Carlos se recusou a trabalhar com um treinador de sua confiança no Krasnodar, também da Rússia, antes mesmo que o ídolo trocasse o Corinthians pelos 5 milhões de euros anuais que recebe do bilionário Suleiman Kerimov, que se tornou dono do Anzhi após acordo com a antiga diretoria no fim de 2010.

Na entrevista abaixo, João Carlos fala sobre a vida na Rússia, a relação com Roberto Carlos e Suleiman Kerimov, os planos do Anzhi e os boatos ligando os nomes de Luiz Felipe Scolari, Vanderlei Luxemburgo e Neymar ao clube.

GE.Net: O que mudou com a implantação desse projeto de grandeza do clube?

JOÃO CARLOS: O clube era praticamente amador, organização zero. Não tinha muito investimento. Quando o Suleiman chegou, transformou tudo. Eu cheguei e não tinha lugar para almoçar. Minha primeira concentração foi na Turquia e almoçamos em um hotel imenso, junto com os hóspedes. Outra coisa é que os jogadores vestiam uniformes diferentes. Ele chegou e em 24 horas mandaram um monte de caixas da Adidas, com todo o material para que os jogadores andassem todos iguais. Também não precisávamos mais almoçar com hóspedes. Foi mudando aos poucos. Cada jogador de nome que chegou ajudou a transformar mais coisas. Não está no nível Europa ainda, mas mudou muito, 200%. Eles estão aprendendo a trabalhar como time grande e creio que ano que vem a organização vai ser top.

GE.Net: Qual o objetivo do Anzhi para a reta final do Campeonato Russo?

JOÃO CARLOS: Nossa intenção é tentar chegar em quinto (garante vaga para a Liga Europa). Título não, porque ainda é o primeiro ano. Não adianta ter bons jogadores, precisa de entrosamento também. São dois meses jogando juntos, o Eto’o chegou há um mês. Ninguém é mágico, mesmo que for bom, estrela, top, de nível muito alto. Esse entrosamento vai chegar na hora boa.

GE.Net: Como é fora do campo? É tranquilo sair à noite?

JOÃO CARLOS: Aqui é como no Brasil. No verão faz muito calor, então a gente vai jantar tarde e às 3 horas da manhã ainda está no restaurante. E as mulheres não podem ver onde está um jogador que já querem ir para o mesmo lugar. É só você correr desses lugares. Nós sabemos onde vão estar as ‘Marias Chuteiras’ e elas sabem onde nos encontrar, mas aqui os caras escolhem o lugar certo. A gente brinca porque são quatro caras presos (Jucilei, Roberto Carlos, Tardelli e João Carlos são casados). Cada um sai com sua esposa, senão o bicho pega em casa.

GE.Net: Dizem que Suleiman Kerimov é mulherengo. Você conhece alguma história?

JOÃO CARLOS: Esse lado eu não conheço, fico até surpreso. Ele é um cara fantástico, muito simples. Pelo poder que tem, pela pessoa conhecida que é, me surpreendi. Independente de ser jogador, pedreiro ou o cara da portaria, ele trata da mesma forma, fiquei impressionado pela humildade.

GE.Net: Ele costuma estar presente com os jogadores ou mantém distância?

JOÃO CARLOS: Ele é bem presente. Quando está um pouco ausente dos jogos, a primeira coisa que faz é convidar os jogadores para jantar na casa dele. Ele costuma fazer no lado de fora, mas na última vez, como estava muito frio, chamou para um restaurante. Brinca com todos, independente se é o Roberto ou um garoto da base. Ele está querendo manter contato com os jogadores.

O CÚMULO DO AMADORISMO

Antes da chegada dos astros, o Anzhi tinha severos traços de amadorismo no trato com os atletas. Um deles é apontado por João Carlos como o fato mais curioso que já presenciou na Rússia.

‘Quando cheguei, no primeiro dia, me deram o uniforme e uma caneta. Pensei que era para dar autógrafo, mas eu não estava entendendo, meu tradutor ainda não estava aqui. Liguei para ele, que me pediu para colocar o nome e o número da camisa na etiqueta’, conta.

‘Quando cheguei para treinar à tarde, tinha um cesto com as roupas do Anzhi e os caras estavam com a cabeça lá dentro, não entendi direito. Depois percebi que cada um estava procurando sua roupa nesse cesto. Fiquei rindo e falei: ‘pô, não é possível isso num time profissional’, lembra o beque.

Hoje, o clube já é conhecido mundialmente e os uniformes são todos personalizados e padronizados. ‘Os caras ficaram meio bolados comigo naquele dia, mas não tinha como deixar de comentar isso (risos)’, completa João.

GE.Net: Os nomes de Felipão e Luxemburgo já foram ligados ao Anzhi. Na Rússia eles também são comentados?

JOÃO CARLOS: Saíram algumas matérias, mas tudo especulação. O pessoal sabe que o Anzhi tem poder financeiro, então falam de Mourinho, Felipão, Luxemburgo. Mas acho que nada concreto. A imprensa gosta de especular, mas ninguém sabe ainda se vai chegar alguém.

GE.Net: Qual é exatamente a função do Roberto Carlos?

JOÃO CARLOS: Ele é o carro-chefe. Agora está ficando fora dos jogos para poder auxiliar o treinador, que não tem muita experiência porque é um rapaz novo e precisa de alguém do lado dele, apesar de ser muito profissional. Se ele jogasse, não ia ter como se comunicar com o treinador. Ninguém sabe ainda se ele vai voltar.

NOTA DA REDAÇÃO: Roberto Carlos divide o comando do time com Andrey Gordeyev desde o fim de setembro, quando o técnico Gadzhi Gadzhiev foi demitido.

GE.Net: Já ouviu algo sobre a possibilidade de o clube tentar contratar Neymar?

JOÃO CARLOS: Nunca falaram com a gente sobre isso. Especulam todos os nomes, porque se o Anzhi quiser investir, pode trazer qualquer um.

GE.Net: Neymar faria sucesso no Anzhi? Você o aconselharia a jogar no Daguestão?

JOÃO CARLOS: Eu não posso falar por ele, mas não tenho nada a reclamar daqui, estou feliz. A gente vive em Moscou (o time treina na capital e vai ao Daguestão apenas para jogar) e essa família brasileira que formamos é muito legal. Quando chegamos no Daguestão, somos recebidos com muito carinho. Os torcedores sempre vão ao treinamento, estão sempre apoiando. Aconselharia não só o Neymar, como qualquer um. Pode vir tranquilamente.

GE.Net: Pensa em jogar no Brasil de novo?

JOÃO CARLOS: O projeto do Anzhi me conquistou. Pretendo ficar aqui por muito, muito tempo. Tenho três anos de contrato e, se Deus quiser, se eu continuar jogando e conquistando confiança e tiver oportunidade de renovar, vou renovar sem medo. Já tive vontade de jogar no Brasil, queria que minha família me visse jogando, porque eles viram poucos jogos meus no Maracanã e eu queria dar esse prazer para eles (na Rússia, João Carlos vive com a esposa, dois filhos e uma empregada). Mas toda vez que eu pensava em ir, outro clube vinha e me comprava. Agora, perto dos 30 (completa em janeiro), eu estava realmente pensando em voltar. Mas esse projeto me pegou.

GE.Net: Você é vascaíno?

JOÃO CARLOS: Sim. Não é porque eu joguei dez anos no Vasco, mas sim porque meu pai era Vasco e fez com que eu e minha irmã também fossemos. A gente ia ver jogo sempre. Ele se foi há dois meses, mas teve o prazer de me ver jogar pelo Vasco.

GE.Net: Está acompanhando o Brasileirão?

JOÃO CARLOS: Eu acompanho sempre. O Jucilei fica falando do ‘Coringão’ e eu brinco com o ‘Trem Bala da Colina’, vai ser campeão.

GE.Net: Pensa em fazer alguma aposta com ele?

JOÃO CARLOS: Estou pensando. Não fiz ainda porque estava com medo, mas agora que o Vasco é líder estou mais confiante (risos). Vamos ver.

Do Vejaonline

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