Vasco: Rodrigo Caetano faz balanço

Rodrigo Caetano faz um balanço do seu trabalho, e revela as prioridades para 2011.

Nos dois anos de Rodrigo Caetano à frente do departamento de futebol do Vasco, o clube não conquistou um título de expressão. Mas o diretor ganhou o respeito dos torcedores de uma forma que poucos dirigentes conseguiram em clubes brasileiros.

Rodrigo Caetano

Vascaínos promoveram até abaixo-assinado para pedir a renovação do contrato de Rodrigo, que acabou se concretizando. Nesta entrevista, ele faz um balanço do seu trabalho até agora e revela as prioridades para 2011: salários em dia, centro de treinamento e, acima de tudo, um título.

O que fez você decidir ficar no Vasco?
Rodrigo Caetano – Passou de tudo pela minha cabeça, mas o que mais contribuiu foi o apelo do torcedor. A família está adaptada, minha mulher arrumou trabalho, meu filho está no colégio, mas a torcida pesou. Na minha função, dois anos é pouco, principalmente quando há a oportunidade de dar continuidade. Não pensei na parte financeira.

Quais garantias você recebeu da diretoria?
Pedi basicamente duas coisas para renovar: um fluxo financeiro que evite os problemas de atraso salarial e um terreno para termos um CT e podermos sair de São Januário. Sobre o CT, temos duas opções bem encaminhadas para formarmos parcerias. Até março devemos ter uma posição concreta.

Os problemas de atraso salarial continuam. Por que você acha que a situação vai melhorar?
Continuo acreditando. Existe um planejamento, e tenho de confiar. Mas não dá para dizer que o atraso salarial e a falta de estrutura não atrapalham.

O carinho dos torcedores aumenta a pressão sobre seu trabalho?
Não me preocupa essa cobrança. Se preocupasse, poderia sair agora. Mas o torcedor reconhece a transparência, a credibilidade. Não vieram os esperados títulos, mas o Vasco está avançando.

Você é abordado por torcedores nas ruas?
Isso é impressionante. Fui almoçar esta semana com outros dois profissionais ligados ao futebol e todos vinham falar apenas comigo. E o mais legal, jamais em tom de cobrança.

Como você encarou as propostas que recebeu de outros clubes?
Tenho que agradecer ao Vasco. Esta é uma função nova, mas os clubes estão reconhecendo a necessidade. Acontece que o número de profissionais capacitados é restrito e ser um dos precursores dessa nova mentalidade me deixa feliz.

As eleições no meio de 2011 te preocupam?
Fui convidado para permanecer no Vasco e não vinculado à diretoria. Nós do departamento de futebol somos remunerados, ou seja, somos apolíticos. Claro que a diretoria atual nos conhece bem, mas nada impede de continuar caso ocorra a mudança. Se esse não for o desejo de todos, assinamos contrato sem multa para os dois lados. Não é comum haver eleições no meio da temporada e este é mais um motivo para treinarmos fora de São Januário.

Como é o planejamento de reforços para 2011?
Pela primeira vez desde que cheguei, vamos precisar contratar apenas quatro ou cinco peças. Em 2009, cheguei e havia oito jogadores no elenco. No fim do ano, muitos saíram, e uma nova leva precisou chegar. Agora, montamos uma base com contratos longos. Muitos criticam um excesso nas contratações, mas não existe prejuízo. São ativos do clube. Algumas apostas dão certo, outras não.

Existe a possibilidade de contratar jogadores consagrados?
Temos que ver as necessidades do clube. E tem outro lado. A janela do meio do ano é mais fácil de conseguir grandes contratações, por conta das questões financeira e contratual. Agora, o futebol europeu está no meio da temporada. Este ano, surgiram oportunidades e conseguimos trazer grandes nomes. Como temos uma base, a margem de erro agora é menor. Qual é a garantia de retorno com jogadores de nome? Temos que honrar nossos compromissos. Por exemplo, este ano, fizemos três aquisições no mercado nacional: Nilton, Dedé e Rômulo. Vocês não imaginam como fazer isso é difícil. E conseguimos com valores dentro da nossa realidade.

O clube passou a investir em jogadores de fora para as categorias de base. Como é a transição dos garotos para o time profissional?
Este ano, a transição foi bacana. Terminamos com 13 garotos em um grupo de 33. Você tem que dar espaço para a base. As pessoas têm leitura equivocada, a captação precisa melhorar. O talento não bate mais na porta. Temos que correr atrás.

Como é a sua relação com os jogadores?
Não gosto de falar como sou. Liga para os jogadores e pergunta para eles. Mas tenho uma linha de conduta. Qualquer crítica que eu tenho de fazer é interna. E fora do vestiário sou o maior defensor deles todos. Assim se constrói o respeito.

Você cobra muito os jogadores. Às vezes elogia?
É difícil, mas sim. O Dedé, por exemplo. É um dos jogadores que mais sofreram comigo. Mas, no dia seguinte à premiação do Brasileiro, eu liguei. Ele disse que era o telefonema que mais esperava. Dei os parabéns e depois foram três porradas orientando (risos). Lembrei que ele só tem oito meses de sucesso e não pode perder o foco.

Como foi a sua experiência de jogador?
Tive uma leitura equivocada como atleta. Fui criado como uma joia rara no Grêmio. Mas, quando cheguei ao profissional, não fui bem, e precisei de três anos para a ficha cair. Joguei em times de pouca expressão para recuperar meu status. Quando consegui, já estava com 27 anos. É por isso que eu falo para ter cabeça. A decepção de ir mal no clube grande é enorme.

Como construiu seus métodos de trabalho?
Não pode ser só feeling. Tem de ter um método próprio. Eu estudo muito e acabo escrevendo também. Talvez ainda escreva um livro.

E nas horas em que você percebe que errou? Qual é a sua reação?
Quando erro, eu assumo. Espero a poeira baixar e vou conversar. Quem mais sofre comigo é a minha família.

Depois de um ano com o Dorival Júnior, o Vasco teve quatro técnicos em 2010. Por que isso aconteceu?
Desde o início, a gente queria continuar com o Dorival. Mas sua saída foi ética, é um grande amigo. Aí veio o Mancini depois de muita negociação. Ele fez uma grande Taça Guanabara, mas a derrota na final nos prejudicou demais. Com a saída, não chegamos a um consenso, e o Gaúcho assumiu. Depois, chegou o Celso Roth. Foi depositada nele a capacidade de reverter nossa situação, mas ele fez uma opção diferente, que deixou claramente uma marca negativa. O PC chegou e fez um bom trabalho. Como não valorizá-lo? Pegou o Vasco fragilizado.

Você chegou a temer o rebaixamento?
Não posso chegar aqui e dizer que não fiquei preocupado. O que mais temi, na verdade, foi iniciar o período de treinamentos durante a Copa sem ter um comandante. Mas a chegada rápida do PC nos colocou de volta no rumo.

Quais são os planos do Vasco para 2011?
O Vasco entra com uma vantagem: mantivemos o elenco e a comissão técnica. Agora, temos de fazer por merecer. E isso passa pelo que falei antes: estrutura e fluxo financeiro. Se fala muito no jejum de títulos, e o que mais quero é um título. Mas cito o Internacional como exemplo. O último Brasileiro deles foi em 1979. Mas eles não estão entre os melhores? Disputam a Libertadores praticamente todo ano. É disso que precisamos, voltar a estar no topo.

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