Brasileiro que ‘roubou’ boina de Álvaro Pacheco fala sobre perfil do técnico
Atacante Cassiano, que considera Álvaro Pacheco um pai, trabalhou com o novo treinador do Vasco da Gama no Vizela e no Estoril.
Álvaro Pacheco chega ao Rio de Janeiro neste domingo para fechar com o Vasco. Esta será a primeira experiência do português de 52 anos fora do seu país. Pouco se sabia (ou ainda se sabe) do treinador além do fato de ter feito um ótimo trabalho no Vizela, com o qual subiu da terceira para a primeira divisão em Portugal, e uma temporada de bons resultados no Vitória de Guimarães.
Quem o conhece, no entanto, garante que Álvaro tem a cara do Vasco e aposta no seu sucesso no clube de São Januário. É o caso de Cassiano.
O atacante brasileiro tem propriedade para falar de Álvaro Pacheco. Aos 34 anos, o ex-jogador de times como Internacional, Goiás e Paysandu é uma espécie de homem de confiança do treinador, com quem trabalhou no Vizela e no Estoril (seu atual clube). Em Portugal, dizem que eles têm uma relação de pai e filho.
– Ele é incrível – elogia o atacante brasileiro em conversa com o ge.
– Quando a gente se conheceu, ele estava no Vizela, estava saindo da terceira liga para a segunda, e eu estava no Boavista (na primeira). Ele queria que eu fosse para o Vizela, e eu não queria ir de jeito nenhum (risos). Eu nem conhecia o Vizela, pô. Nem sabia que existia o clube – recordou.
– No fim, eu decidi ir. E foi a melhor decisão da minha vida – completou.
– Ele me ligou no dia do meu aniversário (16/06), me deu os parabéns e falou que ia fechar com o Estoril: “Eu quero que você fique”. Eu já estava negociando para voltar para a Arábia. Mas nós conversamos, fiquei por causa dele.
– Eu tive uma entrevista no Vizela, e a gente estava interagindo com o público. Uma pessoa falou: “No próximo jogo, você vai fazer o gol e tirar a boina do Álvaro”. Eu: “Não, pô, vou arranjar um tumulto” (risos). Mas guardei isso para mim. Aí eu fui lá, fiz o gol e tirei mesmo. Isso deu uma repercussão muito grande em Portugal – lembra o atacante, que diz que Álvaro entrou na brincadeira:
– Ele gosta, ele gosta. Ele é muito brincalhão.
– No treino ele é outra pessoa”
Álvaro Pacheco aparentemente é tudo isso descrito por Cassiano: um treinador com perfil de paizão, que domina o vestiário e que costuma ter uma relação muito próxima dos jogadores. Mas a vida não é fácil sob o seu comando.
– Quando o conheci, parecia um velhinho tranquilo, gente boa. Beleza, fomos treinar. O quê?! Na hora do treino é outra pessoa, irmão. É uma gritaria, cobrança, o tempo inteiro correria, o bicho pegando (risos). É uma loucura, mas é uma loucura boa – conto Cassiano.
– E acabou o treino, acabou o Álvaro treinador, já entra o Álvaro pai. Quer brincar com todo mundo. O melhor grupo que eu peguei na carreira foi ali com ele – acrescentou o atacante.
– Já falei para ele (Rossi): “Cara, te prepara, o homem já vai chegar aí dando dura (risos)”. Ele respondeu: “Estamos precisando, manda ele vir”.
– Ele me ajudou muito a me posicionar dentro da área. Como eu sempre fui extremo e, depois, virei centroavante, eu tinha uns toques de extremo, sabe? Não ficava perto do goleiro, ficava mais longe. Ele: “Não, tem que entrar aqui no primeiro poste, fazer movimento de ruptura, marcação…” – diz o brasileiro, que na temporada anterior à chegada ao Vizela, no Boavista, havia marcado apenas dois gols.
– Antes eu só jogava, sabe? Com ele, não. Já aprendi muito de tática, pressão, movimentação. E o elenco que ele tinha já estava junto há muito tempo, ficou fácil de entender o jogo dele.
– Eu acredito que o que ele vai fazer no Vasco vai ser muito bom – afirma Cassiano, que em seguida justifica a sua opinião:
– No Vizela, logo que a gente estava no início da segunda liga, tinha um zagueiro nosso que era muito bom, tinha muita qualidade, mas estava sempre rateando, sabe? Com muitos erros, sendo expulso. Aí teve uma vez que o Álvaro deu uma dura nele no vestiário, uma dura feia mesmo. Depois disso, o moleque voou, foi vendido no final da temporada. E agora já no Estoril, no início da temporada, tivemos o nosso lateral-esquerdo (Tiago Araújo) que foi a mesma coisa. Ele começou bem, empolgou, mas quando começou a ter uma queda, o Álvaro já deu no meio dele na frente de todo mundo. Nos primeiros dias ele ficou de cabeça baixa, depois disso voou, tá com proposta de tudo que é lado. Então ele consegue fazer isso com os atletas.
– É a maneira dele ser, entendeu? – continua o atacante brasileiro.
– Ele vai lá, dá a dura, cobra, mas depois dali abraça como filho, dia a dia bom, leve. Isso ajuda muito. Ele sabe os momentos em que é preciso fazer isso. Não vai fazer do nada, com um jogo mal ele já vai te cobrar, não. Quando ele vê que você em condições para evoluir e não está querendo, ele vai lá e dá no meio mesmo. Por isso que eu acredito que ele vai ter muito sucesso no Vasco, porque vai ter muito jogador de qualidade na mão dele. Da maneira que ele é, vai fazer os caras voarem igual cavalo, como ele fala (risos).
– No Estoril a gente tem um grupo muito jovem mesmo, a média de idade é de 22, 23 anos. Muito jogador emprestado de clube grande. Então o Álvaro chega, começa a gritar com eles, alguns se assustam, sabe? Mas é o jeito dele. Eu já não me apavorava porque sabia que é o jeito dele. Mas quem não conhece acha estranho, se perde.
– Na realidade eu acho que o Estoril não é a cara do Álvaro como é o Vitória e como é o Vasco.
Fonte: Globo Esporte