Relembre a volta por cima de Dinamite para a despedida honrosa pelo Vasco

Em 1990, o ídolo Roberto Dinamite havia deixado o Vasco da Gama de forma negativa, mas voltou em 1992 e encerrou a carreira em grande estilo.

Roberto Dinamite nos tempos de Campo Grande
Roberto Dinamite nos tempos de Campo Grande

A morte de Roberto Dinamite, ídolo maior do Vasco da Gama, completou um ano. Desde então, um dos maiores goleadores da história do futebol brasileiro recebeu homenagens de todas as formas e teve sua história contada e recontada. Mas você sabia que Dinamite jogou no Campo Grande antes de pendurar as chuteiras? E que o clube da Zona Oeste e o ilustre técnico Joel Santana ajudaram a proporcionar uma despedida honrosa do Vasco?

O ge relembra essa história.

“Não há possibilidade de ficar”

O empate em 2 a 2 com o Santos na Vila, pela última rodada do Brasileiro, findava a temporada de 1990 do Vasco com um melancólico 12º lugar no campeonato nacional. Desempenho ruim que se somou a eliminação nas quartas da Libertadores e vices no Carioca e Super Copa do Brasil. Para a temporada seguinte, a palavra de ordem era renovação.

Sob a batuta de Eurico Miranda, então diretor de futebol, o elenco passara por extensa reformulação. Entre os dispensáveis estava o atacante Roberto Dinamite, que não teve o contrato renovado. Era um adeus inimaginável ao fim de uma carreira vitoriosa e dedicada quase exclusivamente ao clube do coração.

A temporada foi incômoda para Bob: maior artilheiro da história do Vasco, ele marcou apenas 12 gols naquele ano – quase todos no Carioca ou em amistosos. Esteve no banco de reservas na maior parte do tempo. Prestes a completar 37 anos, o ídolo passou a não ter o mesmo prestígio de outrora. No embalo de um ambiente conturbado e ávida por transformações drásticas, a direção enxergou um cenário conveniente para pôr fim à trajetória do camisa dez. Até então, eram vinte anos de clube e mais de setecentos gols anotados.

– Não há possibilidade de ficar. No ano passado, fui pouco aproveitado. Para esse ano, mantiveram a mesma comissão técnica. Não falaram nada comigo. Agora, o caminho está aberto para novos horizontes – revelou Roberto Dinamite, nos primeiros dias de 1991.

Campeão brasileiro da série B dez anos antes, o Campo Grande Atlético Clube queria retomar os holofotes no futebol nacional. O primeiro passo era recuperar o prestígio no Rio. No ano anterior, a equipe se salvara do rebaixamento no Estadual por apenas três pontos.

A primeira cartada foi a contratação do meia Eloi, campeão da Champions League pelo Porto. Da Europa, ele desembarcou na sede do ‘Campusca’, na Zona Oeste. Era o começo de um projeto ambicioso capitaneado por Antônio Santos, presidente do clube e importante empresário da região.

“Ele queria montar um time pra incomodar os grandes. E conseguiu”, declarou Eloi.
E tinha outro alvo específico.

– O Antônio era vascaíno fanático, morava no mesmo condomínio que eu. Num sábado de manhã, depois de ter me contratado, ele me falou que tinha o sonho de contratar o Roberto, mas achava impossível – revelou o meia.

O convite que deu certo

Eloi, então, se propôs a realizar o sonho do chefe: ao saber que Dinamite estava de saído do Vasco, decidiu fazer o convite ao amigo que fez no Vasco no início dos anos 80.

Quando liguei, ele não estava em casa. Na época, não tinha celular. Deixei recado na secretária eletrônica. Fiz o convite ali mesmo. Algumas horas depois, ele me retornou avisando que topava – lembra, com orgulho.

Apesar de ter outras propostas em mãos, Dinamite topou o desafio: na manhã seguinte foi ao clube, acompanhado de Elói, e fechou contrato para disputar o Carioca. Pouco depois, o experiente centroavante Cláudio Adão também chegaria, do Bahia, para encorpar o elenco mais estrelado da história do Campo Grande.

O trio conduziu o “Campusca” à surpreendente quinta colocação no Estadual. Ao longo da campanha, resultados emblemáticos, como a vitória por 1 a 0 sobre o próprio Vasco, e jogos acirrados com Flamengo, Fluminense e Botafogo.

Roberto Dinamite desempenhou uma função diferente nas tardes no Ítalo Del Cima. Mais recuado, optou por deixar Claudio Adão mais próximo do gol. Era o grande cérebro da equipe. Capitão e líder natural do grupo, era referência para os mais jovens. Não marcou gols na passagem pelo ‘Campusca’, mas chamou a atenção pela versatilidade e vigor físico, ainda muito apurados.

A aventura no Campo Grande seria a última da carreira, não fosse a intervenção de um grande amigo: Joel Santana, que acabava de assumir o Vasco para a temporada de 1992.

“Não era possível um ídolo daquela qualidade, daquela competência, terminar a carreira se não fosse dentro do Vasco. Tinha que ser no Vasco. E eu falei assim: ‘Eu preciso do Roberto, ele vai me ajudar'”, declarou Joel.

Roberto voltou e, ao lado de Edmundo, foi um dos grandes pilares do time que conquistou, de forma invicta, o Campeonato Carioca de 1992. Foram 10 gols em 24 jogos. No Brasileiro, a equipe, regida por ele, fez a melhor campanha da fase classificatória, mas caiu no quadrangular semifinal.

A última temporada oficial da carreira de Bob foi à altura de seu tamanho: ganhando títulos, fazendo gols e sendo protagonista no clube em que amava. A despedida definitiva ao futebol e ao Vasco aconteceu alguns meses depois, num jogo festivo contra o Deportivo La Coruña, no Maracanã.

Fonte: Globo Esporte

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