Entenda o problema que impede o Vasco de jogar com torcida em São Januário

Além do prejuízo econômico do Vasco da Gama, moradores da Barreira do Vasco estão sendo prejudicadas sem os jogos no Caldeirão.

Arquibancada de São Januário
Arquibancada de São Januário (Foto: Daniel Ramalho/Vasco da Gama)

O Vasco entrou com recurso na Justiça nesta quinta-feira para tentar jogar no Maracanã contra o Atlético-MG, no domingo. Mesmo se não tiver sucesso, o clube está proibido por decisão judicial de atuar com público em seu estádio, São Januário.

O que levou o Judiciário a tomar essa decisão sobre a Colina? O ge explica a questão que irrita torcedores e dirigentes vascaínos, como o vice-presidente Carlos Roberto Osório.

– Sem a bilheteria, temos o prejuízo econômico. Além de toda a economia do entorno de São Januário prejudicada. Toda a região vive da economia dos jogos do Vasco. Há um impacto direto. Isso não podemos aceitar – disse Osório.

A polêmica começou no jogo contra o Goiás, no dia 22 de junho. Logo após a derrota por 1 a 0, torcedores do Vasco atiraram sinalizadores no gramado e foram contidos com gás de pimenta pela polícia. Minutos depois, houve confusão fora do estádio, com tentativa de invasão.

Na súmula da partida, o árbitro Jean Pierre Gonçalves Lima relatou que o carro do assistente Marcelo Van Gasse, que estava no estacionamento de São Januário, “foi avariado com pedras sendo amassados, arranhados e quebrados”.

Já no dia seguinte ao jogo contra o Goiás, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva puniu o Vasco com fechamento de São Januário por 30 dias. Posteriormente, no julgamento realizado em 5 de julho, o tribunal estabeleceu pena de quatro jogos sem público, já cumprida nos confrontos com Cuiabá, Cruzeiro, Athletico-PR e Grêmio.

No entanto, o Vasco ainda não pode atuar com público em seu estádio, por decisão da Justiça do Rio de Janeiro. Em 23 de junho, dia seguinte à derrota para o Goiás, o juiz Marcello Rubioli, que estava de plantão em São Januário no jogo, enviou seu relatório sobre os incidentes na partida.

O texto de Rubioli, que é do Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos, tem trechos que causaram muita polêmica nos últimos dias. Em um deles, o juiz faz referência da seguinte forma ao entorno do estádio.

– Para contextualizar a total falta de condições de operação do local, partindo da área externa à interna, vêse (sic) que todo o complexo é cercado pela comunidade da barreira do vasco, de onde houve comumente estampidos de disparos de armas de fogo oriundos do tráfico de drogas lá instalado o que gera clima de insegurança para chegar e sair do estádio. São ruas estreitas, sem área de escape, que sempre ficam lotadas de torcedores se embriagando antes de entrar no estádio.

– No dia relatado, uma horda de torcedores enfurecidos gerou verdadeiro quebra-quebra do lado externo, e, após algum tempo arrombou portões para ingressar no estádio e auxiliar os lá presentes a gerar devastação e agressões.

Depois dos relatos sobre o entorno de São Januário, Marcello Rubioli faz duras críticas à estrutura do estádio e diz que o local não tem condições de receber qualquer partida.

– O estádio é antiquíssimo, sem reforma e sem planejamento de escape. Destaque-se que não possui acessibilidade, e, em passado não distante havia informação de necessidade de demolição de parte de lages (sic) bem como ausência de gerador. (…) Do ocorrido depreende-se facilmente a incapacidade do aparelho de receber partidas, por menores que forem, bem como a condescendência da organização esportiva com a entrada de público muito superior ao que o aparelho comporta, se é que comporta algum.

O estádio São Januário foi inaugurado em 1927. Desde então, passou por reformas e remodelações em suas instalações.

No mesmo dia 23 de junho, o relatório do juiz Marcello Rubioli foi enviado pelo desembargador Agostinho Teixeira de Almeida Filho ao Ministério Público, que pediu imediatamente o fechamento do estádio. O juiz Bruno Arthur Mazza, do Juizado Especial do Torcedor e Grandes Eventos, acatou a solicitação no próprio dia 23 e interditou o local.

O Vasco entrou com recurso, que foi aceito de forma parcial no dia 29 de junho. O desembargador José Roberto Portugal Compasso liberou a volta da equipe a São Januário – a partida contra o Cuiabá, mesmo com portões fechados, precisou ser realizada no Estádio Luso-Brasileiro -, mas vetou a presença de público nos jogos na Colina.

Em julho, o STJD liberou a presença de mulheres, crianças e deficientes na partida contra o Grêmio, que foi disputada em 6 de agosto. Assim, o Vasco entrou com recurso na Justiça para abrir parcialmente o estádio na partida.

No entanto, a desembargadora Renata Machado Cotta vetou o pedido, com a alegação de que “seria leviano concluir pela impossibilidade total de que mulheres ou pessoas portadoras de alguns tipos de deficiência provoquem tumulto ou venham a confrontar violentamente com torcedores do time rival”.

Em comunicado no último dia 5, depois da rejeição ao recurso, o Vasco fez críticas à interdição.

– Desde que ocorreram os lamentáveis incidentes na partida Vasco x Goiás, em junho passado, o Estádio de São Januário e as comunidades localizadas no seu entorno vem sendo alvo de ataques preconceituosos e elitistas.

Nesta quinta-feira, o CEO da SAF vascaína, Lúcio Barbosa, também fez críticas à interdição.

– É claro que a gente se incomoda quando falam que São Januário é um lugar perigoso, o Vasco cresceu com a Barreira. Acontecem coisas? Acontecem, assim como em todo o Rio de Janeiro e todo o Brasil. Mas acabar com o público em um estádio ou em qualquer lugar que seja é muito delicado quando se fala que os arredores são perigosos.

A partida contra o Atlético-MG, no próximo domingo, marca o fim da pena do clube no STJD, com a liberação para receber público total. No entanto, o estádio do Vasco continua proibido de receber público pela Justiça, que também vetou o confronto no Maracanã.

Em 21 de junho, véspera de Vasco x Goiás, o Santos perdeu para o Corinthians por 2 a 0, na Vila Belmiro, em partida que não terminou, uma vez que foi interrompida depois de a torcida santista atirar fogos no gramado.

Na ocasião, o STJD determinou pena de oito partidas sem público para o Peixe. Posteriormente, a suspensão foi reduzida para quatro jogos, e o Santos voltará a receber seus torcedores no próximo domingo, contra o Grêmio, na Vila Belmiro. Os ingressos estão esgotados.

Fonte: Globo Esporte

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2 comentários
  • Responder

    Nada a acrescentar. Perfeito Antônio Araújo. Falou tudo .

  • Responder

    Vergonha.
    Discriminação, intolerância, racismo, elitismo. Nós já estamos acostumados com isso, pois nossa História foi construída lutando contra essas pessoas e por isso é tão bonita. Como podemos dizer que clubes da zona que primam pela discriminação através de sempre representam o povo. O verdadeiro time do povo é o Vasco da Gama, que sempre lutou contra o preconceito e sempre defendeu os menos favorecidos. O que eles não sabem é que esses são ventos vergonhosos nos tornam mais fortes e mais resistentes .
    S
    SV Vasco da Gama
    O verdadeiro time do povo ❤️

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