Vasco à frente? Veja as diferenças nos planejamentos do Gigante e Flamengo

O Vasco da Gama mostra dentro de campo que corre mais que o Flamengo, adversário da semifinal do Campeonato Carioca.

Lucas Piton durante jogo contra o Flamengo
Lucas Piton durante jogo contra o Flamengo (Foto: Daniel Ramalho/Vasco)

O melhor momento do Vasco em relação ao Flamengo no reencontro que começa a decidir hoje, 21h10, no Maracanã, quem vai à final do Campeonato Carioca, passa não só pelo trabalho dos dois treinadores e o desempenho dos jogadores, mas sobretudo pelo planejamento das duas diretorias. Vítor Pereira e Maurício Barbieri conservam entre si o mesmo mantra, que prega intensidade. A diferença está nas condições para estabelecê-la. O que indica um Vasco que corre mais do que o Flamengo em campo.

O técnico português não teve tempo de reconstruir um elenco campeão e projetado para uma ideia de jogo em 2019. A tentativa de mudança gradativa antes de novas disputas por títulos em 2023 não surtiu efeito nos resultados e a pressão pela saída de Vítor Pereira cresce. A comparação com o trabalho de Barbieri é um elemento a mais de cobrança, apesar de se tratar de dois pesos e duas medidas. O jovem treinador foi trazido pelo Vasco no começo de dezembro, e a partir de sua chegada a formação do time aconteceu com base no estilo de jogo que adotaria.

— Todas as contratações que foram feitas após a vinda da comissão técnica passam necessariamente pela análise de encaixe no perfil do treinador e do modelo de jogo — atesta o diretor do Vasco, Paulo Bracks.

Contextos diferentes

O clube, após o aporte da 777, fez cinco amistosos e teve 43 dias de treinamento até o primeiro jogo oficial. Mais de dois meses até jogar os clássicos, em que foi melhor que Fluminense e Flamengo. No rival foram 42 dias de férias do elenco rubro-negro até Vítor Pereira iniciar o trabalho só em três de janeiro e fazer sua primeira partida importante 25 dias depois, contra o Palmeiras. Como não houve amistosos, alternou as equipes no Estadual, quando estreou a força máxima após 12 dias. Entre Supercopa, Mundial, Recopa e Carioca, o Flamengo teve oito jogos importantes dos 15 de Vítor Pereira. Enquanto o Vasco fez apenas três do total de 10 partidas oficiais da equipe principal em 2023.

No primeiro encontro entre os rivais, as diferenças de maturação dos elencos ficaram nítidas. Enquanto o Flamengo tinha espaço para propor o jogo e criar mais ofensivamente — foram 481 passes trocados, acima da média de 447.4 por jogo no estadual —, o Vasco se manteve cauteloso fechando os espaços e esperando as oportunidades nas transições. Quando elas vieram, o cruz-maltino mostrou o que tem de melhor na temporada: a intensidade nos movimentos. Característica que faltou ao Flamengo, desde então um time que inicia bem os jogos e não mantém o nível por 90 minutos.

Mais treino, menos jogo

Tal capacidade coloca o time de Barbieri em um estágio de desenvolvimento que parece mais avançado nesta altura da temporada. Um efeito dessa ideia se verifica nos números: o Vasco é o time que mais rouba bolas nesse Carioca: são 14.09 por jogo, à frente dos 12,18 do próprio rubro-negro. Puma Rodríguez, destaque do clássico, é quem lidera o quesito entre os jogadores, com 24 em nove jogos. O jovem volante Rodrigo aparece em terceiro, com 18 em 8 jogos.

No Vasco, a gestão do trabalho físico está relacionada ao modelo de jogo e ao comportamento dos jogadores dentro desse contexto. Para cumprir o que o treinador solicita, a comissão técnica organiza as cargas e estimula os comportamentos coletivos. Fisicamente os atletas vão adquirindo o condicionamento e a intensidade necessária para o tipo de jogo na sessões de treino. Em seguida, são feitos os ajustes necessários para que a cada dia a equipe seja mais intensa dentro da proposta de Barbieri.

Nesse cenário, o departamento médico não faz um controle rígido da carga, e sim dá suporte para essas atividades que a preparação física coordena em alinhamento aos movimentos de jogo que são treinados. Há ainda um mapeamento dos atletas em risco de lesão. O clube apresenta ao técnico os dados, mas Barbieri prioriza atividades bem intensas com movimentações que são reproduzidas durante as partidas. Ocorre de alguns atletas se lesionarem no próprio treinamento, como o caso de Orellano, que volta no jogo da volta. Mesmo que isso ocorra há mais garantias de um grupo homogêneo e preparado para colocar em prática os conceitos do seu comandante.

Mais jogo, menos treino

No Flamengo, a reformulação no Departamento de Saúde e Alto Rendimento promovida no ano passado colocou nos trilhos um trabalho de ciência do esporte que havia ficado pelo caminho depois da saída do técnico Jorge Jesus. A volta de profissionais qualificados ao dia a dia foi preponderante para o desempenho da equipe sob o comando de Dorival Junior. Mas este alinhamento precisou de uma nova adaptação com a troca de treinador. Vítor Pereira trouxe uma comissão técnica mais numerosa, parte dela começou a trabalhar no fim de dezembro, enquanto o técnico chegou apenas em janeiro. E a partir daí o Flamengo precisou mais uma vez trocar o pneu com o carro andando.

Responsável por gerenciar o departamento médico e a preparação física para direcionar o controle de carga, o médico Márcio Tannure voltou ao processo de alinhar as ideias do clube com as do novo treinador, e ambos tiveram que lidar com a decisão de diretoria de dar férias de quase cinquenta dias aos atletas, que demandaram maior descanso depois de uma temporada exaustiva em 2022. Na prática, o Flamengo retornou aos trabalhos de olho nas três competições que valiam mais no começo de 2023 longe de sua forma ideal. E teve que se adequar a uma nova filosofia, tanto física, quanto tática. O termo “correr errado” entrou em cena e as lesões reapareceram. Nos dados do GPS, as quilometragens ainda são altas, mas o esforço não tão eficiente.

– A gente tinha um planejamento pensando no ano todo. É um ano atípico e é sempre difícil planejar. Tudo foi muito pensado e alguns times voltaram antes, outros tiveram um período maior de folga. Cada time pensou de uma maneira diferente. O Flamengo optou por fazer férias mais longas – , afirmou o gerente técnico Juan, explicando o plano rubro-negro e admitindo que o foco é na temporada toda.

– Acho que o o time, é claro, não estava na melhor condição física por ser começo de temporada, mas acreditamos que vamos corresponder esse ano. Talvez, quando outros times estiverem mais cansados, a gente esteja no nosso auge -, completou.

Para atender as expectativas de Vítor Pereira e do clube, alguns jogadores fizeram trabalhos físicos à parte fora do Flamengo, mas mesmo assim não foi suficiente. O resultado ainda é uma equipe que não mantém intensidade durante toda a partida pois não tem ainda o entrosamento necessário dentro dos conceitos implementados por Vítor Pereira, que foi contratado para conduzir um elenco já formado e com ideias prévias. Mais ou menos o mesmo roteiro seguido pelo compatriota Paulo Sousa no ano passado.

O português também procurou encaixar os atletas em seu modelo de jogo, e não usar o que os atletas tinham de melhor e adaptar o seu sistema, opção de Dorival Jr. Logo, tem levado mais tempo e sofrido mais pressão. Para piorar o cenário, os desfalques se acumulam nos últimos jogos. Além de Gerson, suspenso, Flamengo não terá conta o Vasco as seguintes baixas por lesão: David Luiz, Varela, Filipe Luís, Erick Pulgar e Bruno Henrique. Pedro e Thiago Maia retornam ao time.

Fonte: O Globo

Mais sobre:Flamengo
Comente

Veja também
Carille lamenta substituição precoce de Payet e exalta camisa 10 do Vasco

Lesionado, Payet deixa gramado antes do apito final, Carille lamenta desconforto, mas elogia o meia do Vasco da Gama.

Vegetti supera Harry Kane e se torna o jogador com mais gols de cabeça em 2025

Com tento anotado na derrota do Vasco da Gama contra o Ceará, Vegetti chegou ao seu 6º gol de cabeça em 2025 e supera Harry Kane.

Defesa do Vasco entrega gols e deixa a desejar neste início do Brasileiro; veja números

Falhas individuais culminam na derrota do Vasco da Gama contra o Ceará e sistema defensivo é motivo de alerta na temporada.

Vasco sofre como visitante no Brasileiro e desempenho liga sinal de alerta

Vasco da Gama tem tido um retrospecto muito ruim atuando fora de casa nas últimas edições do Campeonato Brasileiro.

André Rizek elege ‘craque’ que pode salvar ano do Vasco

Comentarista do Sportv, André Rizek analisou o desempenho do Vasco da Gama após a derrota para o Ceará, pelo Brasileiro.

Torcedores do Vasco detonam Carille e João Victor após derrota para o Ceará

Torcida do Vasco da Gama ficou na bronca com o técnico Fábio Carille e com o zagueiro João Victor depois do revés diante do Ceará.

Carille reclama da saída de bola do Vasco e cobra agilidade dos meias

Treinador do Vasco da Gama, Fábio Carille empilhou queixas ao time na derrota para o Ceará, pelo Brasileiro.

Saiba quanto o Vasco lucrou no jogo contra o Sport

Vasco da Gama e Sport se enfrentaram pelo Brasileiro, no último sábado (12), para quase 16 mil torcedores em São Januário.

TJRJ acata pedido que mantém proibição de Vasco x Flamengo em São Januário

Clássico do Milhões entre Vasco da Gama e Flamengo, pelo Brasileiro, será disputado neste sábado (19) no Maracanã.

Atriz Luisa Arraes e filho de Cássia Eller marcam presença em feira do Vasco

Casal prestigiou a Feira Autônoma Vascaína, que reuniu torcedores Cruzmaltinos no Centro Cultural Candinho.