Carlos Brazil explica processo de transição do Vasco e comenta relação com a CBF

Gerente da base do Vasco da Gama, Carlos Brazil revelou que o modelo atual de transição do Clube é adaptado do River Plate-ARG.

Carlos Brazil durante apresentação pelo Vasco
Carlos Brazil durante apresentação pelo Vasco (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

Convidado pelo presidente Jorge Salgado para assumir a gerência de futebol do Vasco em 2022, depois de um trabalho consistente na base no sentido de resultados e de formação de talentos, Carlos Brazil alcançou o objetivo de voltar com o clube para a Série A. Um dos grandes méritos do trabalho do gerente foi o modelo de transição entre base e profissional, que rendeu bons frutos na temporada passada.

Um dos responsáveis por lançar nomes como Andrey Santos e Marlon Gomes, Brazil tinha como vantagem conhecer bem os talentos do Vasco, onde havia sido gerente da base de 2018 a 2021 antes de ir para o Corinthians. Com a chegada da SAF, o dirigente deixou o cargo no profissional, mas segue cuidando das categorias inferiores e em constante contato com o diretor esportivo Paulo Bracks.

– Com a chegada do Paulo Bracks, Maurício Barbieri e do Abel Braga, a gente conversou sobre esse processo de transição, eles apoiam muito e entenderam a importância. Há muitos jogadores com qualidade e possibilidade de jogar no time hoje. Com o investimento da 777, temos um time mais encorpado e, com isso, os meninos entram com mais tranquilidade e confiança – contou ele em entrevista exclusiva ao ge.

“Temos uma geração no sub-20 muito boa, com muitos meninos que podem chegar no profissional e performar muito bem”, acrescentou.

Além de Andrey e Marlon, o gerente levou Eguinaldo ao profissional na temporada passada, por exemplo. Ainda em desenvolvimento, o atacante teve grande importância no acesso à Primeira Divisão. “Estive com ele esses dias, me disse que tem se sentido ansioso. Eu falei: ‘Você acha que essa pressão é maior que a do ano passado?'”, brincou Carlos Brazil, que sentiu o garoto mais leve depois do papo.

Cauan Barros, volante que está hoje no profissional e foi titular em dois dos três clássicos do Vasco no Campeonato Carioca, também chegou ao clube em 2019 captado pela gestão de Brazil.

Modelo adaptado do River Plate

O modelo atual de transição do Vasco é adaptado do River Plate, da Argentina, e começou a ser implementado em 2018, quando Carlos Brazil assumiu a base do clube. No ano passado, quando o gerente chegou ao profissional, entendeu que havia uma pressão muito grande sobre os garotos, e o processo precisava de melhorias. Após a permanência na Série B e com muitas cobranças sobre os crias, Bruno Gomes foi um dos que pediram para deixar o Vasco.

– A gente tinha uma grande dificuldade para contratar no início do ano passado, o Zé Ricardo até falou sobre os “nãos” que levamos. Fiquei muito impactado com a pressão em cima dos meninos – explicou.

“Consegui conversar e explicar que as coisas mudariam e passamos a ter cuidado com os demais garotos que estavam subindo para não acontecer a mesma coisa. A gente precisava de um time mais estruturado para que eles não fossem tratados como protagonistas”, — completou Carlos Brazil.

Carlos Brazil chegou a ir até a Argentina nos últimos anos para ver de perto o trabalho realizado pelo River Plate. Uma das ideias que colocou em prática no Vasco foi o tempo de adaptação. Em vez de o garoto subir e já jogar, sendo tratado como uma solução imediata, o gerente identificou os talentos mais prontos e os colocou para treinar no profissional meses antes de uma possível estreia. Assim, a mudança de realidade é menos impactante.

– Eles chegam ao clube por volta dos 10 anos, treinam e jogam com amigos da mesma idade até os 20 anos e precisam ser preparados no individual, porque não é o grupo todo que sobe para jogar. Precisamos prepará-los mentalmente, fisicamente e tecnicamente – afirmou.

– No ano passado, eu coloquei o Andrey para disputar a Copinha e depois ele foi para o profissional. Mesmo com toda a pressão, principalmente pela eliminação na Copa do Brasil, tivemos todo cuidado e esperamos para colocá-lo para jogar, o que acontece a partir da quarta rodada da Série B. Naquele momento ele já estava bem mais adaptado e conseguiu superar bem os obstáculos. O Marlon Gomes e o Eguinaldo também nos ajudaram em momento crucial, com a gente sem dinheiro para contratações. E deram conta por causa dessa transição – acrescentou o gerente.

O mesmo processo de habituação tem acontecido com garotos que ainda não estão de fato integrados. O lateral-direito Paulinho e os atacantes Rayan e GB, por exemplo, têm frequentado alguns treinos de Maurício Barbieri e até já ganharam chances com o treinador. No entanto, ainda são jogadores da base e voltam para atuar pelo sub-20.

Alinhamento entre profissionais

Dentro desse processo está o alinhamento entre os profissionais da base e do time de cima. Hoje, os coordenadores de performance das equipes, por exemplo, trocam informações e adotam a mesma metodologia para que os garotos não sintam o baque quando são promovidos. Os treinadores também têm modelos de trabalhos parecidos, e o Vasco busca o protagonismo em campo.

– Quando o menino sai da base e vai para o profissional já sabe o que fazer, porque os trabalhos são integrados. O trabalho da base segue uma sequência até o profissional. Força, suplementos, alimentação têm que ser alinhados. Os treinadores também estão alinhados, os modelos de treinamentos e a forma de jogar são os mesmos – disse Brazil.

“Não vamos trazer um treinador que vai jogar de forma reativa. O Vasco tem que ser protagonista. É isso que o Barbieri faz no profissional, o William no sub-20 e o Gustavo no sub-17. São profissionais super alinhados”, — completou.

Para que a integração funcione, a comunicação entre os departamentos é fundamental. Por isso, Brazil e Bracks conversam diariamente. O gerente da base também tem frequentado os treinos do profissional e mantido contato com os garotos que ele viu crescer no Vasco.

Para que a integração funcione, a comunicação entre os departamentos é fundamental. Por isso, Brazil e Bracks conversam diariamente. O gerente da base também tem frequentado os treinos do profissional e mantido contato com os garotos que ele viu crescer no Vasco.

O Rodrigo, por exemplo, nunca teve uma chance no profissional. Quando estourou a idade a gente frisou que ele precisava ser visto. Está com a gente desde novo, sempre foi titular e muito regular. E o resultado está aí, ele não está sentindo jogar no profissional. Falo com os meninos para se sentirem como se estivessem na base. É o momento de curtirem aquilo que sempre sonharam – comentou.

– Só posso agradecer ao Paulo, ao Barbieri, ao Abel, à 777 e ao Luiz Mello pela oportunidade e confiança no trabalho que é feito desde 2018 com muita paixão. Gostaria de enaltecer o Emílio, que tem sido importante pra sustentação do processo no profissional. Além dele, o Húngaro (coordenador técnico geral da base) e o Kadu (coordenador técnico do sub-20), como profissionais que passaram pelo profissional e que hoje têm uma importância grande no processo de transição – completou.

O bom desempenho dos garotos no time principal é fundamental não só para o retorno técnico, mas também para o retorno financeiro, como aconteceu recentemente com a venda de Andrey para o Chelsea após ter se destacado em 2022. Por isso, um dos pilares do trabalho na base é a fabricação de talentos em sequência.

– Tem uma geração muito boa vindo por aí – garantiu Carlos Brazil.

– O Vasco não pode ter um talento a cada quatro anos sendo vendido como foi Philippe Coutinho, Paulinho e Talles Magno. Tem que ter jogador a todo momento, e tudo que está acontecendo agora é fruto do que preconizamos em 2018. Se amanhã o Paulinho vai para o profissional, tem que ter outro lateral-direito sendo desenvolvido aqui. Estamos preparando também uma metodologia de formação mental, acho que isso é inédito nas categorias de base – destacou Carlos Brazil.

Renovações

No ano passado, o Vasco passou sufoco para renovar com a joia Andrey Santos. Com a possibilidade de o volante sair de graça este ano, clube e estafe do jogador não conseguiram se entender pela extensão do vínculo, e o impasse só foi resolvido com a chegada da 777 Partners. Ele renovou até 2027, mas foi uma tratativa difícil, com o Vasco fragilizado na mesa de negociação.

Agora, a empresa americana quer evitar episódios como esse e tem procurado os atletas com antecedência para evitar problemas. Nesta semana, por exemplo, o Vasco anunciou a extensão do vínculo do volante Barros. O clube também tem conversas encaminhadas com Marlon Gomes, mas nem sempre consegue se entender com os representantes, o que é um desafio na visão de Brazil.

“A gente está tendo todo o cuidado, todos estão com contratos um pouco mais longos. Muitas vezes, mesmo a gente procurando com antecedência, os agentes fazem exigências fora da realidade. Por ter virado SAF, muita gente acha que o Vasco está com dinheiro para esbanjar. A gente tem um orçamento que precisa ser respeitado”,
— disse o gerente.

– Tem vezes também que o agente quer esperar uma valorização do menino, e isso atrapalha, porque impede que a gente lance esse jogador. Acho uma falta de gratidão com o clube que investiu e formou o jogador. Mas temos muitos agentes que colaboram também – concluiu.

Quando o jogador está no profissional, como são os casos de Marlon Gomes e Barros, a negociação fica por conta de Paulo Bracks. Com garotos mais promissores e cobiçados, como aconteceu com Rayan, Carlos Brazil se adianta para garantir a permanência do atleta.

Relação com a CBF

Nas últimas semanas, Vasco e CBF se desentenderam, e o clube chegou a recusar a liberação de Rayan, Matheus e Phillipe Gabriel, trio chamado para a Seleção sub-17 para um amistoso contra o Equador. O motivo foi um impasse por conta das competições de base. Devido ao ranking nacional da entidade, o clube não poderá disputar os Brasileiros Sub-17 e Sub-20 em 2023.

Mas o atrito ficou no passado, é o que garante Carlos Brazil. Os jogadores, inclusive, já foram liberados para a seleção brasileira. A negativa aconteceu em momento que o Vasco tentava reverter com a CBF a participação nos campeonatos nacionais. Acabou sem acordo com a entidade, mas com uma promessa de mudança dos critérios já para 2024.

– A CBF tinha uma regra, que é o ranking do profissional, e cumpriu ela. Mas o Movimento da Base já vinha solicitando há algum tempo que houvesse um ranking para a base. Penso que a mudança de presidência e diretoria da CBF prejudicou essa alteração. Com a saída do Vasco do ranking, A CBF perdeu, na minha visão, uma grande oportunidade de melhorar ainda mais as competições nacionais do sub-17 e sub-20. Quanto mais grandes jogos, melhor vamos formar no Brasil. O Vasco é um clube com grandes conquistas na base e um dos maiores fornecedores de atletas e profissionais para a seleção brasileira nas categorias de base.

– Além disso, há clubes formadores que jamais estarão ranqueados no profissional e precisam estar dentro de critérios específicos para poderem disputar essas grandes competições de base, como Desportivo Brasil, Retrô, Ska Brasil, Azuriz e outros. Não há Série B para as competições nacionais, portanto, o ideal é que tivéssemos de 24 a 30 clubes nessas competições, através de critérios específicos da base. Viveremos esse ano dessa forma, vamos disputar os estaduais e a Copa do Brasil, mas com a promessa de que a CBF criará o ranking da base esse ano para o ano que vem – explicou o dirigente vascaíno.

Experiência no profissional

Carlos Brazil foi o gerente de futebol do time profissional do Vasco em 2022, temporada em que o clube conquistou o acesso à elite na última rodada da Série B. Alvo de cobranças ao longo do ano, o gerente se viu injustiçado muitas vezes, mas comemora a experiência e o bom resultado do clube, que tinha o retorno à Série A como imprescindível para os planos da 777 Partners.

– Eu estava no Corinthians, e o Vasco fez uma convocação para eu vir ajudar o clube. Sou um cara preparado, estudioso, tenho boa formação e continuo estudando futebol. Sabia que teria uma grande dificuldade, com pressão. Grande parte da torcida lamentou quando saí da base, e eu deixei o clube chorando, porque meu amor pelo Vasco é grande – pontuou Brazil, que completou:

“Entendo a pressão, porque me coloco no lugar do torcedor, era o segundo ano na Série B, e a torcida não merecia isso. Eu acho que houve uma injustiça algumas vezes, a análise do momento poderia ter sido mais cuidadosa, mas nada que me abalou. Sobrevivi bem e acreditei em todos os momentos que eu cumpriria o objetivo que era voltar para a Série A, — Carlos Brazil.

No jogo contra o Ituano, eu não consegui nem comemorar. A sensação de alívio pela missão cumprida era tão grande que eu fiquei impactado. O profissional foi uma grande experiência, aprendi bastante, recebi uma proposta para ir para o profissional de outro clube, mas o projeto da base do Vasco me cativou mais nesse momento – concluiu o gerente.

Fonte: Globo Esporte

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