Familiares e amigos tentam provar inocência de Max, ex-jogador do Vasco

O ex-lateral-direito do Vasco da Gama, Max, foi preso no Rio de Janeiro, acusado de chefiar uma quadrilha de extorsão.

Max, ex-jogador do Vasco
Max, ex-jogador do Vasco (Foto: Reprodução)

Familiares e amigos de Max, ex-lateral do Vasco preso na quarta-feira da semana passada acusado de extorsão e formação de quadrilha, tentam provar que ele é inocente. Max, 31 anos, foi preso em flagrante ao lado de João Corrotti Junior, 22 anos, e Vinícius Barreto de Souza Jesus, 21. Os três encontram-se detidos na Casa de Custódia de Benfica, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

A defesa de Max, João e Vinícius sustenta que os três amigos foram apenas cobrar uma dívida de cerca de R$ 20 mil de Márcio Alexandre Carneiro Varella, 54 anos, a vítima da extorsão. O valor é referente a um carro que Max vendeu a Márcio cerca de 12 anos atrás – a própria vítima reconheceu a dívida em depoimento na 10ª Delegacia de Polícia, em Botafogo.

Márcio, que é vendedor de automóveis, contou aos policiais na manhã do dia 9, quarta-feira, que no dia anterior teve o celular roubado pela quadrilha e que foi obrigado a se dirigir a um cartório para passar um dos seus veículos para o nome de Max, tendo, dessa maneira, sua liberdade restringida. Ele e um funcionário disseram que, a todo momento, um dos rapazes mantinha a mão em uma pochete “simulando estar armado”.

Como não conseguiram concluir a transferência do veículo naquele dia pois o cartório estava fechado, Márcio foi deixado em casa pelos três, que combinaram de se encontrar com ele em outro cartório no dia seguinte às 9h. Antes disso, logo pela manhã, no entanto, ele prestou queixa na delegacia e disse estar sendo vítima de extorsão. Os policiais foram até o cartório onde Max, Vinícius e João estavam e os prenderam em flagrante.

Advogado de defesa, Pablo Andrade alegou, por meio de nota, que o três foram ingênuos e refutou qualquer possibilidade de haver crime de extorsão ou formação de quadrilha.

“Houve uma cobrança de dívida, e isso o Max não nega. Mas entre uma cobrança de dívida e um crime de extorsão, lá se vão 20 quilômetros”, afirmou.
Na sexta-feira, dia 11, a audiência de custódia validou a ação dos policiais e, a pedido do Ministério Público, converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva, o que significa que os amigos (que permaneceram algemados durante a audiência sob o pretexto de “preservação da integridade física dos presentes”) vão ficar na cadeia enquanto o processo se desenrola. O caso agora está nas mãos de um Juiz da 42ª Vara Criminal da Comarca da Capital. Tão logo saiu o resultado, a defesa entrou com um pedido de revogação da prisão preventiva que ainda será apreciado.

– A gente só quer justiça, que a verdade seja revelada. Ele caiu numa cilada – lamentou Ivete da Silva, mãe de Max, em conversa por telefone com o ge.

O lateral-direito Max tem no currículo passagem por diversos clubes, como Paysandu, America, Macaé, ABC e Cabofriense. Sua última equipe foi o Palmas, de Tocantins, em 2019. Ele é cria das categorias de base do Vasco, onde surgiu como profissional em 2010. Nos últimos dias, a campanha “JustiçaPorMaxeosAmigos” ganhou força na internet, principalmente com as publicações de Souza e Alex Teixeira, ambos jogadores do Besiktas e que foram companheiros de Max na base do Vasco.

Souza e Alex, inclusive, estão ajudando a pagar as custas com advogado.

Os fatos

Por ausência de documentos, já que o acordo foi feito “de boca”, não se sabe exatamente a data em que Max entregou o carro, um Honda Fit, nas mãos de Márcio para que ele o vendesse. Os envolvidos dizem que isso que aconteceu entre 2013 e 2014. Mãe do ex-jogador do Vasco, Ivete lembra como se fosse ontem.

– Lá atrás, o Max falou para mim: “Mãe, vou dar meu carro para a senhora”. Antes eu tivesse pego para mim – lamentou Ivete em conversa por telefone com o ge.

– Mas eu respondi: “Filho, não sei dirigir, para quê vou querer carro?”. Aí ele vendeu – completou ela.

Márcio, por sua vez, intermediou a venda do veículo para um terceiro por R$ 30 mil, embora a defesa alegue que Max jamais tenha assinado o documento de transferência. “Ou seja, falsificou o documento em favor de outra pessoa”, sustenta o advogado. Márcio na ocasião passou ao jogador uma parte do dinheiro, mas ficou devendo R$ 20 mil.

Como ainda estava em atividade, Max ficou cobrando o pagamento da dívida à distância enquanto exercia a carreira de jogador em Belém, em Caxias do Sul, em Palmas, em Natal e em outras cidades. Ele chegou a contratar um advogado, que acionou Márcio por meio de uma notificação extrajudicial – chegou a haver uma proposta de pagamento em parcelas mensais de R$ 500, mas eles não entraram em um acordo. Depois disso, não houve mais contato.

Em 2019, depois de passar por seu último clube e voltar a morar em definitivo no Rio de Janeiro, Max voltou a se empenhar na cobrança da dívida, mas, segundo seu advogado, foi bloqueado em todas as redes sociais.

– Como ele estava jogando cada hora em um lugar, ora em Belém, ora em Natal, então não mexeu com isso mais. Para mim, ele tinha esquecido. Quando foi 2019, ele falou: “Mãe, poxa o rapaz até hoje não pagou meu carro”. Eu falei: “Filho, deixa isso para lá, tem mais Deus para dar do que diabo para tirar”. Ele disse: “Mãe, é injusto, o carro era meu, eu preciso do dinheiro” – narrou Ivete.

Em janeiro do ano passado, Max convocou a ajuda de um amigo: Vinícius Barreto de Souza. Ele entrou em contato com Márcio fingindo interesse em um dos carros e marcou um encontro para a quarta-feira da semana passada. Vinícius e outro amigo, João Corrotti, acompanharam Max na visita que, na verdade, serviria para cobrar a dívida.

O que diz a vítima

Márcio prestou dois depoimentos aos policiais da 10ª DP, ambos no dia 9: o primeiro às 9h11 e o segundo às 12h52. A reportagem do ge teve acesso ao conteúdo de ambos.

A vítima contou que se encontrou com Vinícius (descrito por ele como “um homem alto, magro e cabelo preto raspado) na rua de sua casa, em Botafogo, onde estava estacionado o carro pelo qual ele tinha interesse. Chegando lá, Vinícius pediu para ver os outros veículos, e Márcio o levou a pé até o estacionamento onde estava o restante dos automóveis.

Max, então, surgiu acompanhado de João (“que era bem agressivo”), e eles passaram a cobrar a dívida de R$ 20 mil enquanto Vinícius “a todo tempo colocava as mãos no interior de uma pochete, simulando estar armado”. O ex-jogador do Vasco teria quebrado o retrovisor de um dos carros e pegado a chave de um Renault Sandero.

No momento em que Márcio pegou o celular para discar o 190, Max tomou o celular das mãos dele dizendo: “Perdeu o celular também”. Os quatro entraram no Sandero à procura de um cartório para que o automóvel fosse transferido para o nome de Max. Como não encontraram, Márcio foi deixado na calçada de sua residência sob a condição de que se encontrassem ali às 9h do dia seguinte.

Max, João e Vinícius teriam levado o celular e o carro embora contra sua vontade.

Um funcionário de Márcio, que trabalha como lanterneiro e pintor de carros, também depôs e confirmou tudo o que foi narrado, inclusive que os três “estavam bastante alterados” e que um deles mantinha a mão o tempo todo no interior de uma pochete.

No segundo depoimento, Márcio ratificou as declarações dadas anteriormente e acrescentou que já havia sido vítima de tentativa de extorsão por parte de Max e “outros dois indivíduos” oito anos atrás, mas que conseguiu escapar “abrindo a porta do automóvel enquanto passava” por uma rua de Botafogo. Ele também adicionou a informação de que, no dia da prisão, antes de encontrá-los no cartório, foi ameaçado e pressionado por Vinícius por meio de mensagens: “JÁ PASSEI DUAS VEZES (no cartório) E NÃO TE VI”, “TÁ DE TROIA TU”, “SE TIVER DE TROIA É CONTIGO MESMO (sic)”.

A defesa de Max, Vinícius e João acredita que o conteúdo do segundo depoimento foi determinante para configurar a prisão em flagrante.

O que a defesa diz

A versão contada pelos três amigos ao advogado é a seguinte:

Quando Max apareceu no encontro e passou a cobrar a dívida de R$ 20 mil, houve um princípio de discussão, mas sem agressões e ameaças. Márcio teria oferecido dois de seus carros como forma de pagamento, um Peugeot e um Citroen, mas que não houve negócio porque os automóveis eram velhos. Em seguida, foi oferecido o Sandero, de um modelo mais novo. E Max aceitou.

– O Márcio entrega a chave do Sandero e entra no carro junto com o Max, o João e o Vinícius espontaneamente, em momento algum foi obrigado a entrar. Como também não foi obrigado a transferir, foi sugestão dele de ir ao cartório do shopping fazer a transferência. As imagens que eu solicitei do shopping vão mostrar que o João e o Max andavam na frente, e o Márcio andava bem atrás. Quem está sendo restringido da liberdade não vai ficar bem atrás dos seus agressores – afirmou o advogado Pablo Andrade.

“O Max fala que, em determinado momento, ele (Márcio) até perguntou onde o Max estava jogando. Ficou uma relação estranha no início, afinal ele estava devendo há 10 anos e se furtando a pagar, mas, quando sugeriu de acabar com a dívida e deu o Sandero na mão do Max, o clima ficou bom. Para o Max, a situação estava resolvida”, completou.

Os quatro, então, se dirigiram ao cartório que fica dentro do Botafogo Praia Shopping, que estava fechado. Combinaram de se encontrar na manhã do dia seguinte em frente a outro cartório para poder concluir a transferência do veículo para o nome do Max. Nesse momento, como forma de garantia do negócio, Márcio teria deixado seu celular nas mãos do ex-jogador do Vasco, propositalmente.

A suposta vítima prestou queixa na delegacia no dia seguinte.

– Ou seja, ele teve sua liberdade restrita no dia anterior, teve o celular roubado, mas só vai à delegacia às 9h da manhã do dia do encontro? – indaga o advogado.

Amigo dos três presos, Bruno Vecchio vem ajudando a impulsionar a campanha que pede justiça no caso. Ele, que foi um dos primeiros a saber da prisão porque estava com o trio um pouco antes de se encontrarem com Márcio, questiona:

“Formação de quadrilha? Quadrilha que não tem uma arma, quadrilha que deixa em casa e pega em casa para encontrar no dia seguinte…”

Uma das pessoas próximas a Max ouvidas pelo ge, em forma de sarcasmo, conclui:

“Se for quadrilha, é a quadrilha dos três patetas. O Max não chamou bandidos para cobrar a dívida, ele chamou um mergulhador de plataforma e um motorista de aplicativo”.

Outros processos

O ge procurou Daniel Freitas da Rosa, delegado titular da 10ª DP, que pediu para que a reportagem fizesse contato via assessoria da Polícia Civil do Rio de Janeiro. Por sua vez, a assessoria apenas confirmou que a suposta vítima de extorsão procurou A DP no dia 9 para comunicar o que estava acontecendo, e que os policiais prenderam “o trio envolvido na ação criminosa”, sem dar mais detalhes.

No pedido de revogação da prisão preventiva, a defesa do três presos cita outros processos em que Márcio responde por ter agido da mesma maneira que agiu com Max. Em um deles, de 2014, a vítima diz que era sua melhor amiga, que confiou o carro sob os cuidados de Márcio e que nunca recebeu o dinheiro referente à venda.

O advogado conseguiu encontrar neste processo o que pode servir de prova contra Márcio: um e-mail respondido por ele em abril de 2014 justificando que ainda não havia efetuado o pagamento porque uma de suas contas estava bloqueada.

No entanto, em e-mails trocados com o advogado de Max na ocasião da notificação extrajudicial, também em abril de 2014, Márcio citou problemas de cunho pessoal. Segundo ele, sua vida estava “muito difícil” porque ele havia acabado de se divorciar.

– Nada que justifique, excelência, um crime de extorsão qualificada. A questão posta pela defesa técnica dos três requerentes é que os fatos não se deram da forma como faz crer a suposta vítima. Ou seja, não houve, em momento algum, a restrição da liberdade de locomoção da vítima e foi ela que sugeriu, como forma de pagamento da dívida, que Marcilei levasse um dos carros para saná-la – argumenta o advogado em um trecho do documento.

A defesa reconhece que possa ter havido, no caso de Max e dos dois amigos (os três sem antecedentes criminais), o crime de fazer justiça pelas próprias mãos, descrito no artigo 345 do código penal, que prevê detenção de 15 dias a um mês quando não há o emprego de violência.

Mãe de Max, Dona Ivete aguarda agoniada os próximos capítulos do caso.

– Quando falaram que ele ia ser transferido (para Benfica), eu pensei: “Meu Deus, meu filho está igual um bicho, para lé a para cá”. Fui correndo para poder dar um café para ele e para os colegas que estão junto. Aí vem ele algemado com o amigo, como se fossem os piores bandidos do Rio de Janeiro. Fui até ele, abracei, eles com aquela cara de assustado. Pegaram e jogaram ele naquela van, fecharam com aquela grade – recorda Ivete, com a voz embargada.

– Uma cena que eu nunca vou esquecer na vida.

Fonte: Globo Esporte

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