Ser campeão x revelar talentos: jornalista analisa trabalho na base do Vasco

O jornalista Allan Victor deu a sua visão sobre um antigo conflito de prioridades e analisou o trabalho na base do Vasco da Gama.

Não é novidade para ninguém que o Vasco, historicamente, é um clube formador de grandes talentos. Roberto Dinamite, Edmundo, Romário, Felipe, Pedrinho, Carlos Germano, Philippe Coutinho e tantos outros craques surgiram em São Januário e ganharam o mundo. 

Atualmente, o Vasco segue sendo uma das grandes referências quando o assunto é talentos oriundos das categorias de base. Recentemente, jogadores como Paulinho, Douglas Luiz e Talles Magno apareceram com grande destaque na equipe principal vascaína, sendo que, os dois primeiros, já estão jogando na Europa. 

O último citado, Talles Magno, inclusive, é o grande nome oriundo da base na equipe principal no momento, diante um elenco que está repleto de garotos. Para se ter uma noção, mais da metade do plantel que o técnico Ramon Menezes tem à disposição, é formada por jogadores formados em São Januário. 

Categoria mais próxima do equipe principal, o Sub-20 tem sido um destaque em manchetes nos últimos pelos resultados obtidos em campo, onde tem disputado títulos com frequência. No entanto, a equipe bateu na trave e deixou conquistas importantes passarem, como a Copa São Paulo, o Campeonato Carioca, a Copa do Brasil, o Campeonato Brasileiro e a Copa RS.

Os insucessos em relação à busca por títulos dividem opiniões entre os vascaínos: de um lado tem os que cobram e analisam o trabalho desenvolvido na base de forma negativa por causa da falta de conquistas, mesmo chegando em decisões, e outros, entendem que o grande objetivo da base é revelar talentos e analisam desempenho dos garotos mais do que os próprios resultados em si. Qual deles é você? 

Para ir mais a fundo nesse assunto, nada melhor que ouvir alguém que conhece de perto a base vascaína. Em contato com o repórter Willams Meneses, do site Vasco Notícias, o jornalista Allan Victor, da Rádio Alta Conexão, deu a sua visão sobre esse ‘conflito’ entre ser campeão e revelar jogadores e ainda explicou o trabalho desenvolvido com a garotada comandando pelo gerente das categorias de base, Carlos Brazil. Veja o que ele disse abaixo.

O trabalho de Carlos Brazil 

– Começando desde o início, desde a chegada do Carlos Brazil ao Clube. Antigamente, o Vasco tinha uma categoria de base bagunçada. Você não tinha ali basicamente uma dinâmica, um método de trabalho. O Carlos Brazil quando chegou ao Clube, a primeira coisa que ele quis fazer era ajustar um método de trabalho, desde o Sub-13 até o Sub-20. Ali no 13 e no 14 é um período de transição onde os dois ainda podem jogar juntos, aliás, eles jogam juntos em determinados momentos, e depois a parte do Sub-15, quando você já pode assinar um contrato pré-profissional, um contrato amador, um contrato de formação, seja o que definir melhor, geralmente é contrato de formação até fazer seus 16 anos e assinar o seu primeiro contrato profissional. Então, ou seja, o Carlos Brazil no início tentou e conseguiu ajustar um método para todas as categorias de trabalho, um método de treinos, um método de ensino, um método de você poder fazer uma transição ali entre todas as categorias e o atleta não sentir tanto. 

Garotos de nível de Seleção Brasileira

– Hoje, o Vasco tem a prioridade de formar talentos. Hoje o Vasco na categoria Sub-15, Sub-17, Sub-20, Sub-14, tem atletas de nível de Seleção Brasileira. Eu posso citar para você pelo menos goleiros, de todas as categorias, temos pelo menos 1 de nível de Seleção Brasileira. Um destaque vai para o Lucão, que já está no profissional, vai para Kadu Neves do Sub-17, mas também tem um goleiro do Sub-14 que já faz um período de transição para o Sub-15 que é o João Pedro Lecce, ou seja, o Vasco já vem preparando esses atletas  desde o Sub-12, com o período de transição do Carlos Brazil para justamente trazer, e não é só ele, é todo o serviço de excelência também com o Witor Bastos, que é o coordenador de captação do Clube, que viaja, tenta analisar os melhores nomes para trazer para o Vasco. 

Impaciência da torcida 

– A torcida hoje do Vasco é muito impaciente. A torcida do Vasco sofre por carência, é a palavra correta. A torcida do Vasco é carente de bons jogadores. Pode levar em consideração Philippe Coutinho, que hoje é astro na Europa, você também tem o Allan Kardec, Alex Teixeira. Por mais que tenha jogadores como esse lá fora, a torcida está carente de jogadores desse nível no Clube, mas existem esses tipos de jogadores. Existem sim. Só que o problema todo é que o futebol a cada ano que vai passando ele vai ficando mais veloz, com mais tecnologia, mais intensidade, o nível de treino é mais puxado, então raramente nós vamos ver novamente um novo Romário, um novo Philippe Coutinho, um novo Souza, um novo Dedé. Raramente. Antigamente, o zagueiro poderia bater, sair jogando, cabecear no alto e tudo aquilo, e hoje em dia ele tem que sair jogando, tem que matar no peito, tem que ter tranquilidade, sair fazendo o ‘um dois’ com o jogador, então o nível vai tudo mudando. Existe esses jogadores na base sim, mas a torcida do Vasco é muito carente com o passado, tenta buscar novamente um Carlos Germano, um Mauro Galvão, tenta buscar um novo Euller, um novo Dener, um novo Romário, um novo Juninho, um novo Felipe. Existem jogadores com a mesma habilidade. Felipe? Temos aí, não estou comparando, mas tem o Riquelme que é lento, mas que de perna canhota é muito habilidoso, sabe jogar com a perna esquerda, então são exemplos que você pode pegar e ver que tem dentro da categoria de base. 

O que o Vasco prioriza: formação ou conquistas? 

– No meu ponto de vista, a importância maior é você formar talentos e não ser campeão. Não significa o que estou dizendo aqui que o Vasco não queira títulos, é lógico que quer títulos, é lógico que quer colocar um troféu, uma medalha. Em 2017, eu entrevistei o Marcus Alexandre, que hoje é treinador do Maricá, passou pelo Nova Iguaçu, mas era o treinador do Sub-20. O Vasco já estava na final do Campeonato Carioca, iria enfrentar o Flamengo em São Januário, foi até um golaço do Andrey. 3×0. O Vasco tinha um timaço no Sub-20. Era João Pedro no gol, Rafael França, Ricardo Graça, Mayck e Alan Cardoso; Andrey Bruno Cosenday e Mateus Vital; Paulinho, Paulo Vitor e Robinho, que hoje é o Lucas Santos. Tinha um timaço.  Eu perguntei ao Marcus Alexandre a seguinte pergunta: “Marcus, primeiramente bom dia, o Vasco já está na final, qual a importância desse jogo para você?”. Ele virou para mim e disse o seguinte: “Vale troféu e medalha? Eu quero”. É lógico que, com base nessa resposta, ser campeão é muito bom, mas hoje para o Vasco dar frutos ao Clube é muito mais importante do que você ganhar um título. O Vasco hoje olha para a sua categoria de base como uma mina de ouro. Ali está, basicamente, o dinheiro, o futuro do Clube, lógico que o Clube vende muito mal, mas, de acordo com o tempo, o Vasco vem percebendo isso e tentando negociar os jogadores melhores, mas o Vasco hoje tem uma importância, falando como jornalista, tem uma importância melhor de poder revelar jogador, do que você ser campeão. 

Transição base-profissional 

– A torcida do Vasco, como falei, é muito impaciente. Não tem paciência às vezes com jogador que vai chegar no profissional, não vai render, e tem todo esse período de transição. Esse período de transição para o jogador tentar se adaptar ao máximo com o profissional, hoje temos jogadores do Sub-15, que é o caso do goleiro Ítalo, treinando com o profissional, para, justamente, ele tentar colher experiência com o time de cima, levar para a categoria de baixo, tem a sensação: “Caramba! Treinei com os profissionais. Treinei com o Fernando Miguel”. Tem jogadores de linha que treinam nos profissionais até mesmo para completar times, mas é uma sensação de transição, e é isso que o Vasco faz de melhor, essa transição entre profissionais e categoria de base, para tentar colher tudo num só método de trabalho, isso é muito bacana que o Vasco tem. É o diferencial do Clube.  

Evolução da garotada e grandes campanhas 

– Antigamente, o Vasco tinha jogadores na categoria de base limitados tecnicamente, e hoje o Vasco volta ao cenário como grande potência da categoria de base e favorito a chegar ao título sempre. Foi o caso da Copa RS, da Copa São Paulo, chegou na final do Carioca por 3 anos consecutivos, sendo que ganhou uma, dois colocou o Flamengo como vice, que foi na Taça Guanabara de 2018 e na Taça Rio de 2019, mas tá sempre chegando. Não ganha, mas o mais importante é se chegar na final e mostrar ao Brasil, à torcida, que tem time sim na categoria de base, tem bons jogadores. Acho que, principalmente, meu trabalho é divulgar esses garotos. Muita gente não conhece Guga Maia, João Pedro Lecce, Leozinho, Emerson, jogadores que estão na parte de baixo, mas que são de Seleção Brasileira e que ninguém conhece. 

Jornalista Allan Victor analisa trabalho na base do Vasco

Na última semana, o Vasco anunciou uma novidade especial no programa Sócio Gigante relacionada às categorias de base. Todo o dinheiro arrecadado com a categoria Norte a Sul, feito para torcedores que são de fora do Rio de Janeiro, no valor de R$ 14,98 mensais, será utilizado para investir na garotada, iniciativa que visa melhorar a qualidade e, ao mesmo tempo, fazer com que os torcedores espalhados pelo Brasil se sintam como ‘padrinhos’ dos jovens talentos.

Obs. Reprodução não permitida.

Site Vasco Notícias

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