João Ernesto fala sobre história do Vasco, torcida e outros assuntos

O VP de Relações Especializadas do Vasco, João Ernesto Ferreira, falou sobre Centro de Memória, museu e outros assuntos.

Em uma tarde ensolarada em São Januário, João Ernesto Ferreira, atual VP de Relações Especializadas, nos recebeu em sua sala no Centro de Memória, com vista para o campo. Reservada, moderna e aconchegante, nos sentimos em casa, até porque estávamos. A conversa começou de forma natural e emocionante. Mas o melhor viria mais à frente, quando nos deparamos com uma verdadeira aula de história de um dos vascaínos que mais colaboraram com o clube.

João Ernesto da Costa Ferreira tem 62 anos, é Engenheiro Eletrônico e Mestre em Sistemas de Controle. Trabalhou por trinta e oito anos no Serviço Público Federal, mais especificamente no Exército Brasileiro, na área de Ciência e Tecnologia. Ele fala com orgulho sobre o tempo em que pode servir às Forças Armadas e ao nosso país.

A paixão pelo Vasco é uma hereditariedade na família. Iniciou em 1920, quando seu avô materno, Ernesto da Costa, chegou ao Brasil e conheceu sua avó também portuguesa. Eles tiveram quatro filhos, dentre eles sua mãe, que completa noventa anos no próximo mês de janeiro. João, então, pertence a terceira geração de vascaínos da sua família. Seu casal de filhos, são a quarta geração. Eles, por sua vez, já deram continuidade a essa vascainidade e constituíram a quinta geração de vascaínos na família Costa Ferreira. Uma paixão que une a família.

Para João Ernesto, o Vasco se diferencia dos outros clubes, pois suas glórias não pertencem apenas ao campo esportivo. João vê que cada vitória, por mais simples que sejam, são potencializadas pelos vascaínos, como forma de engrandecer suas glórias e lutas, presentes ao longo da história. “O vascaíno não tem apenas uma ligação com suas glórias nos aspectos esportivos; o vascaíno é intimamente ligado a história do clube, e esse é o seu grande orgulho. Uma história de lutas e enfrentamentos. Talvez se não tivéssemos, até os dias de hoje, a têmpera dos grandes navegadores, nós teríamos sucumbido, ainda no início da caminhada do clube.” diz Ernesto, emocionado.

INSERÇÃO NA VIDA POLÍTICA DO CLUBE

“A partir de 1982 eu participei das eleições presidenciais, e na década de 90 fui eleito Conselheiro da oposição, pela primeira vez. Em paralelo a isso, eu fazia um trabalhou voluntário de levantamento de todas as súmulas do futebol do Vasco desde 1923, consultando principalmente a Biblioteca Nacional. Por este motivo, e pelo meu notório interesse por história, no triênio de 1995 a 1997, surgiu o convite da então diretoria para que eu fosse Diretor de Patrimônio Histórico, algo até curioso, visto que eu era Conselheiro eleito pela oposição. Exerci meu trabalho, conseguindo documentar as súmulas até meados da década de 50, quando por motivos particulares tive que me retirar da função. Após todo esse tempo, voltei à política, nas eleições de 2006 apoiando Roberto Dinamite, onde também pude exercer função ligada ao patrimônio histórico do clube.”

CENTRO DE MEMÓRIA

O Centro de Memória é alimentado diariamente, buscando enriquecer nosso acervo. Seja por descobertas do clube, ou doações de terceiros. Depois disso, nós fazemos uma triagem para avaliar a importância desses novos fatos e então, ele passa para o processo de digitalização, que é o grande diferencial do nosso trabalho, pois não nos limitamos a encontrar documentos, limpá-los e arquivá-los. Em parceria com uma grande empresa, a DocPro, nós eternizamos toda informação histórica do clube através da digitalização. Na verdade, é uma parceria que transcende o âmbito profissional, pois é também uma relação afetiva. Uma empresa de excelência no ramo, tanto que trabalha inclusive para Biblioteca Nacional.”

MUSEU E HISTÓRIA DO VASCO

João Ernesto vê o museu como possivelmente o maior legado que poderá ser deixado pela gestão Campello, seja a finalização, ou até mesmo deixar a construção bem encaminhada. Segundo ele, o museu será dividido de 25 em 25 anos, deixando o quinto espaço reservado até os dias atuais, para que possa ter uma cronologia lógica e possa funcionar como uma “viagem pelo tempo”. Será um local para o vascaíno dialogar com sua historia, que ele tanto admira e enaltece.

“O vascaíno pode ficar tranquilo que se tivermos a oportunidade de materializar o museu, nossa história será contada de forma muito didática e apaixonante. Ela não maquiará a verdade, nem será romanceada, até porque não precisa. É uma historia linda e emocionante por si só. Iremos abordar desde as motivações para a origem e nascimento do clube, passando pelos primeiros anos do remo, onde nos afirmamos como grande clube náutico.

Destacaremos também a chegada do futebol ao Vasco, a criação do Departamento de Futebol. E como o engajamento do torcedor, levou o clube à glória, tornando o Vasco campeão do Campeonato Carioca, o mais importante do país, já na primeira participação do clube na primeira divisão. E esse sucesso causou verdadeiro assombro no mundo esportivo, pois o Vasco era um clube que era composto por muitos elementos da colônia portuguesa, pessoas muito humildes e se tratava de um clube que não fazia distinção de cor, credo ou colocação social, e mesmo assim formou uma verdadeira seleção, vencendo o Campeonato da até então capital federal de forma avassaladora.

Esse sucesso causou ciúmes, estupefação e inveja. Tanto que já no ano seguinte, fizeram de tudo para que o Vasco se desfizesse de grande parte do seu elenco. Era uma forma sutil de tentar que o Vasco encerrasse suas atividades. Mas os vascaínos da época, foram pontuais no enfrentamento. Não enfrentaram nos gramados e nem nos tribunais, enfrentaram escrevendo apenas uma carta, um ofício, de apenas uma página.

Costumo dizer que o Vasco escreveu em apenas uma página, a história mais bonita e importante do futebol brasileiro, uma verdadeira carta de alforria para que o futebol viesse a ser um esporte verdadeiramente popular. E isso não são apenas os vascaínos que dizem. Mario Filho disse que dois momentos são os essenciais para que o futebol fosse um esporte de massa: a conquista do Sulamericano de 1919 pela seleção brasileira e o Carioca de 1923 conquistado pelo Vasco. Não à toa, temos essa verdadeira RESPOSTA HISTÓRICA, como um dos nossos principais troféus.

Pensamos também para o nosso museu, que será acima da Mega Loja, um terceiro andar, que terá uma parte interativa e gastronômica. Este espaço receberá exposições itinerantes, interativas e tudo que manda a museologia moderna. O torcedor conhecerá este local após passar pela primeira parte do museu, tomar um verdadeiro “banho” de história do Vasco e ser devidamente apresentado a todos os acontecimentos marcantes.”

TOUR PELA COLINA HISTÓRICA

Um projeto idealizado ainda na gestão Dinamite, mas não concretizado pelas inúmeras dificuldades do clube na época, o tour pelo complexo de São Januário, já está em fase de finalização dos detalhes, para que seja inaugurado já no próximo dia 23 de agosto. João já visitou muitos modelos parecidos na Europa e que ajudam na inspiração. Na Espanha, por exemplo, já visitou os três principais clubes e viu muitas coisas que podem ser implementadas no Vasco. O clube terá parceria com agências de turismo e já contratou alguns guias bilíngues que farão o acompanhamento e explicação aos visitantes.

“Nós já elencamos onze pontos a serem visitados:

O visitante chega ao portão principal, é recebido, identificado, inicia a visita pelo busto do Almirante, Sala de Troféus, se encaminha à Tribuna de Honra, conhece a social e é apresentado ao estádio em si. Depois disso descerá sentido ao Ginásio, após, ele visitará o vestiário da equipe profissional. O visitante irá também conhecer o gramado (incluindo a estátua do Romário), o painel de ídolos, as instalações do Colégio Vasco da Gama, se encaminha à Capela, ao novo Parque Aquático e por fim desembocará na Mega Loja, finalizando sua visita guiada ao Complexo de São Januário.”

Além disso, o tour terá um diferencial tecnológico muito interessante. Bianca Reis, filha do ex VP jurídico do clube, Paulo Reis, doará ao clube um software que possibilitará ao visitante explorar ainda mais cada ponto do tour de forma interativa e demonstrativa.

“Já estamos desenvolvendo conteúdo nesse sentido. No momento do credenciamento, o visitante irá receber um dispositivo, com um aplicativo que possibilitará a ele “apontar” para o local em questão e na tela aparecerão mais informações, explicações e links sobre o mesmo.”

MEMÓRIA VASCO

Em paralelo a esses projetos, estamos em fase de firmar contrato para ter um site (já reservamos o domínio) chamado Memória Vasco e será acessado via site oficial. Será um local para o vascaíno ter acesso à toda historia do clube.

Será uma linha do tempo, desde 1898 até os dias de hoje. O torcedor poderá clicar em qualquer ano, ele será iluminado e em apêndice será elencado tópicos e informações referentes a ele, como os títulos, acontecimentos e enfrentamentos que o clube protagonizou.

PARTICIPAÇÃO DA TORCIDA

“O Vasco sempre contou com a participação da torcida. E dessa vez não será diferente. Ainda não há definição exata da forma que faremos, mas é imprescindível que o vascaíno faça doações e contribuições de materiais históricos que muitos possuem em casa, que por vezes são passados de geração pra geração. O torcedor precisa ficar atento ao chamamento do clube, seja para enriquecer nosso acervo ou até mesmo ajudar financeiramente para a construção desse legado.

Além da entrevista com João Ernesto, ainda pudemos conhecer mais do Centro de Memória, acompanhado do historiador do clube, Walmer Peres Santana e de alguns estagiários, todos vascaínos. No setor pudemos ver a sala/laboratório para tratamento e análise dos documentos e ainda a sala climatizada em baixa temperatura e com controle de umidade para armazenagem e conservação dos documentos, como fotos históricas, estatutos do clube, a resposta histórica, o documento de fundação do clube, a pedra fundamental de São Januário, e muito mais. Uma experiencia incrível e engrandecedora. Um verdadeiro privilégio.

Obrigado, João Ernesto!

Obrigado, Vasco da Gama!

NewsColina

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