Roberto Dinamite fala sobre sua carreira no futebol

Ídolo no Vasco da Gama, o ex-atacante Roberto Dinamite relembrou grandes momentos de sua carreira no futebol.

Maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro, maior artilheiro do Campeonato Carioca… Roberto Dinamite tem uma carreira recheada de gols e títulos, com algumas frustrações pelo caminho. Em longa conversa com a reportagem, o ex-jogador repassou a carreira, que pode ser vista em detalhes em oGol.

Para relembrar a carreira deste grande ídolo do Vasco e do futebol brasileiro, recuperamos todos os números da carreira de Roberto Dinamite com o Vasco, e também com a Portuguesa, e o Barcelona, além de todos os seus gols. Contamos, em números, a trajetória de um goleador que marcou época no futebol brasileiro.

O início da lenda

Nem sempre, claro, Roberto foi Dinamite. Nos livros históricos e jornais do início dos anos 1970, um jovem atacante chamado Roberto começava a aparecer nas páginas vascaínas. Até que surgiu a lenda chamada Dinamite.

“Eu estava com 17 anos e lembro que foi o Chirol que me levou para o jogo. Ele estava como técnico provisório e me levou. Fiquei no banco, entrei no segundo tempo. Foi meu primeiro gol no Maracanã contra o Inter de Gainete (goleiro), Pontes. Eu fiz um gol com um chute forte de fora da área. Nesse chute, o Jornal dos Esportes deu na primeira página no dia seguinte, em razão do chute forte, naquela rede ainda com o véu… A bola levou a rede, o fotógrafo tirou a foto e colocou na primeira página ‘O garoto Dinamite explode o Maracanã’. Título dado pelo Aparício (Pires) e pelo Sérgio Cabral Pai. Com isso, passei a ser conhecido como Dinamite”, lembra o ex-jogador, para oGol.

Dinamite, porém, não explodiu assim, do nada. Foi ganhando, aos poucos, espaço em um time do Vasco que entraria para a história. Só no terceiro ano de profissional o atacante ia ser titular.

“Fui entrando em um jogo ou outro, começando a marcar mais gols… Mas só vim a ser titular em 1973, em 1974 titular absoluto. Foi o primeiro ano que fui artilheiro do campeonato (1974), o Vasco foi campeão… Foi a primeira vez que um clube carioca foi campeão brasileiro, primeira vez que eu me tornava artilheiro… Hoje, falando contigo, de lá para cá, ainda continuo com essa marca de ser o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro, com 190 gols. Uma marca muito legal”, recorda.

Nos dois primeiros anos como profissional, Dinamite conseguiu apenas sete gols em 28 jogos. Já em 1973 foram 51 partidas e mais que o dobro dos tentos: 18. Em 1974, o Dinamite explodiu, com 17 gols em 20 jogos no Carioca e 16 em 26 no Brasileiro, do qual foi artilheiro e campeão.

Os números de Dinamite só foram crescendo. Em 1975 o atacante teve média de 0,79 por jogo, conseguindo 42 gols em 53 jogos somando Carioca, Brasileiro e Libertadores.

No ano de 1979, a média foi ainda melhor: 0,88, com 43 gols em 49 jogos entre Carioca e Brasileiro. O goleador conseguiu uma sequência de sete jogos seguidos marcando, alcançando quatro hat-tricks no ano (contra Uberlândia, Flamengo, Fluminense e Goytacaz), dois deles em clássicos cariocas. A fase artilheira chamou a atenção do Barcelona, mas Roberto, como lembra, não conseguiu ser feliz na Catalunha.

“Não foi como eu gostaria. Quando cheguei no Barcelona, o Barcelona não vivia um grande momento. O importante naquele momento foi a minha valorização, mas lamento profissionalmente não ter tido a oportunidade de ficar no Barcelona. Logo depois entrou o Heleno Herrera, que dizem que não gostava de jogador brasileiro”, recorda.

Dupla com Zico poderia ter sido também na Gávea

Foram apenas 11 jogos, com três gols marcados. Sem o aval de Herrera, Dinamite teve de deixar a Catalunha e quase parou na Gávea para jogar com Zico…

“Houve a possibilidade de eu sair do Barcelona e ir para a Inglaterra. Logo a seguir o Flamengo foi em Barcelona, se mostrou interessado. Isso gerou ao torcedor do Vasco uma cobrança, para eu não voltar para o Flamengo”, confessou.

Segundo Dinamite, “o coração falou mais alto”, acertando o retorno para São Januário. Mas jogar com Zico na Gávea seria “um prazer”.

“Imaginar jogar com o Zico, seria um prazer. Até porque quando jogamos na seleção brasileira, a gente nunca perdeu jogando juntos. Mas jogar com ele, ou no Flamengo, ou no Vasco… Surgiu essa possibilidade, mas meu coração falou mais alto. A decisão final foi minha e o Vasco me fez uma proposta e, dentro dessa proposta, optei voltar para o Vasco, que foi o clube que me projetou”.

Com Zico, por sinal, foram 21 jogos, com 16 vitórias e cinco empates. Roberto fez 15 gols, Zico 16. Uma dupla e tanto… O ex-vascaíno guarda com carinho os tempos de seleção, embora não tenha tido a chance de jogar na icônica equipe de 1982.

“Apesar de nunca ter sido titular absoluto. Sempre, nas convocações, eu era o reserva de alguém. Na primeira vez que fui convocado, no Torneio Bicentenário, em 1976, nos Estados Unidos (já havia sido convocado para a Copa América um ano antes), fui como reserva do Neca, atacante do Grêmio. Entrei em um jogo no segundo tempo contra a Inglaterra, fiz o gol e, dali, fui titular e ganhamos o torneio contra a Itália, 4 a 1, fiz um gol no final. Depois Eliminatórias e tal e em 1978 o Reinaldo foi titular (da Copa) em 1978 e disputei com o Nunes (do Flamengo) a posição de reserva. Consegui ficar como reserva. No terceiro jogo, entrei, fiz o gol que classificou o Brasil e fiquei como titular durante toda a Copa. Em 1982 foi a segunda Copa, infelizmente o Telê não me deu a chance de jogar naquela grande seleção. O primeiro titular era o Careca, o Serginho reserva. O Careca se machucou, eu fui convocado, mas não tive a oportunidade de jogar. Lamento não ter jogado na seleção de 1982, porque achava que poderia ser muito útil ao Brasil”, garante.

Volta triunfal para casa

Se na seleção, Dinamite nunca foi titular absoluto, apesar de ter marcado 26 gols em 47 jogos, no Vasco o atacante foi sempre o grande nome do time. Após ter voltado da Catalunha, ele lembrou bem isso ao torcedor vascaíno com a maior atuação da carreira, marcando cinco gols contra o Corinthians pelo Campeonato Brasileiro. Foi a única vez que o atacante fez cinco gols em um jogo oficial.

“Eu voltava ao Brasil desacreditado em razão daquilo que aconteceu em Barcelona. Chego no Maracanã, Maracanã cheio, torcida do Vasco presente, torcida do Corinthians… E acontece aquela coisa de fazer cinco gols no Corinthians. Um dia memorável, uma volta triunfal. Tudo deu certo, jogando contra o Corinthians de Sócrates, Wladmir, Amaral, Zenon, Caçapava… Foi uma volta triunfal. Depois, recebi o jornal de Barcelona falando: ‘Dinamita vuelve al Brasil y hace cinco goles’. Mesmo como grande jogador, jamais poderia imaginar que marcaria cinco gols contra o Corinthians no Maracanã”.

De gol em gol, Dinamite foi se tornando uma lenda. O melhor ano foi 1981, quando conseguiu a média de 0,98 gol por jogo com 45 gols em 46 jogos entre Carioca e Brasileiro. O atacante conseguiu, mais uma vez, uma sequência de sete jogos seguidos marcando, como em 1979, com cinco hat-tricks (Londrina, Americano 2x, Fluminense e Campo Grande).

O dia que Dinamite enfrentou o Vasco

Até quando jogou longe da Colina, Roberto brilhou. No Brasileiro de 1989, o então atacante participou de uma grande campanha da Portuguesa, conseguindo nove gols em 17 partidas.

“O que aconteceu foi que em 1988 eu tive um problema na panturrilha. Não joguei muito e surgiu essa situação do Lopes (Antônio), de ir para a Portuguesa. A Portuguesa me recebeu muito bem, time muito bom, melhor campanha da Portuguesa até ali. Foi muito legal ter participado naquele ano, sendo um dos artilheiros da Portuguesa, quase cheguei na artilharia do campeonato”.

No dia 21 de outubro daquele ano, um sábado, Dinamite viveu algo novo na carreira: enfrentou o Vasco. O placar do jogo, em São Januário, acabou 0 a 0, em dia complicado para o ídolo da Colina.

“Muito difícil, uma experiência nova. Nunca tinha vivido aquilo. Foi um jogo difícil para mim, pela primeira vez vestir uma outra camisa em São Januário contra o Vasco. Não dormi bem a noite. Tive uma oportunidade no final do jogo, em passe de Toninho, e, quando virei para finalizar, girei o corpo e a impressão que tive foi que alguém me deu uma rasteira, uma ‘banda’, e eu caí e a bola foi embora. Os jogadores da Portuguesa brincaram: ‘Você não quis fazer o gol’. Eu falei: ‘Não, parece que alguém me derrubou’, não deu para explicar. Mas não consegui marcar em São Januário. Coisas que acontecem, é o sobrenatural”.

Gol histórico de Roberto Dinamite

Artilheiro sem substituto

Dinamite não fez parte do elenco campeão brasileiro com o Vasco naquele ano, e garante não guardar nenhuma mágoa sobre isso. Depois, o artilheiro ainda voltou para a Colina para somar mais alguns gols.

O ex-atacante é o maior artilheiro da história do Campeonato Carioca, com 284 jogos em 415 partidas pelo Vasco (Roberto jogou a competição em 1991 pelo Campo Grande, mas não chegou a marcar); além de ser, com 190 gols em 328 jogos, o maior goleador da história do Campeonato Brasileiro (somando Vasco e Portuguesa).

Dinamite acredita que hoje, muito por conta da saída de jogadores ainda jovens para fora do país, dificilmente alguém pode alcançar seu feito, com apenas uma exceção.

“Nessa geração que está aí, o único jogador que pode atingir a minha marca é o Fred. Mas a gente vê que o jogador brasileiro sai muito rápido do país, então vejo só o Fred em condições de alcançar essa marca”.

No Vasco, então, nem se fala… Dinamite é o maior artilheiro da história do Cruz-Maltino, com 475 gols em partidas oficiais. Para se ter uma ideia, Cristiano Ronaldo, maior goleador do Real Madrid, somou menos tentos pelo clube (foram 450 gols). Por isso que Roberto virou Dinamite. O resto é história…

O Gol

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