Vice de marketing detalha a situação financeira que encontrou no Vasco

O vice-presidente de marketing do Vasco, Marco Antônio Monteiro, reclama das condições deixadas por Roberto Dinamite e Victor Ferreira.

Marco Antônio Monteiro, escolhido por Eurico Miranda para a vice-presidência de marketing, vê o Vasco em grande desvantagem diante de adversários em relação a negócios. O dirigente volta ao cargo após tê-lo ocupado na última gestão de Eurico, encerrada em 2008, e reclama das condições deixadas por Roberto Dinamite e Victor Ferreira, presidente e vice de marketing da gestão anterior. Em entrevista ao blog por telefone, o dirigente detalha a situação que encontrou e o que há de errado com o Vasco.

Receitas de contratos já assinados foram antecipadas integralmente. Não havia certidões negativas de débito, documento que comprova não haver dívidas em aberto com o governo e que é exigido para patrocínio da Caixa ou para captar recursos via leis de incentivo – problema que Eurico solucionou antecipando mais verba de contratos como o da Umbro. O sócio-torcedor, direcionado só para o torcedor que reside no Rio de Janeiro, inexiste, na opinião do dirigente. Para piorar, o clube era desorganizado internamente, e ações básicas não eram executadas porque Ferreira, vice de marketing, não se dava bem com Márcio Santos, então vice de comunicação que depois se candidatou à presidência.

– A gente meio que entende como chegou a essa situação – resume o cartola. Leia, a seguir, a entrevista na íntegra com desafios e planos do novo vice de marketing vascaíno para 2015.

O que Eurico Miranda, na presidência, e o senhor, na vice-presidência de marketing, fizeram no primeiro um mês e meio de gestão no Vasco?

– Estamos fazendo ações estruturantes. Pegamos um clube com três meses de salários atrasados. Não dá para imaginar como deixaram o clube. Para quem já passou por aqui, como eu, e viu como as coisas eram… É assustador. Dentro da lógica do patrocínio, fizemos um esforço para levantar R$ 14 milhões e tirar as certidões negativas de débito. Podíamos ter investido no time, trazido jogadores, mas isso nos dá a estrutura para receber da Caixa e procurar patrocínios com leis de incentivo. É uma ação estruturante.

De onde saíram os R$ 14 milhões? Do novo contrato com a Umbro?

– Foram várias ações. Patrocinadores ajudaram, adiantaram cotas para nós. Negociamos com TV, parceiros comerciais e, sim, também com a Umbro.

O patrocínio da Caixa já acabou há bastante tempo e havia até uma parcela a receber que não entrava no caixa por falta das certidões. Como está a renovação para esta temporada?

– Na verdade, o contrato com a Caixa terminou em 31 de agosto. Numa situação normal, o Vasco prestaria contas em 1º de setembro, receberia a última parcela e trataria da renovação. Só que o Vasco não tinha as certidões e não prestou contas. Recebemos essa situação. Por isso fomos atrás das certidões. Sem regularizar o clube, com o patrimônio que tem, inclusive em outros esportes, não conseguiríamos tentar verba com o Ministério do Esporte, leis de incentivo ou Caixa. Tudo isso exige certidões negativas de débito. Como o Vasco é um clube poliesportivo, precisávamos disso. Fechamos a página da Caixa neste primeiro patrocínio literalmente quando terminamos de prestar contas, em 31 de dezembro de 2014. Aí entramos em um período de férias, pessoas voltando a trabalhar, mudanças no governo, então a Caixa está retomando a vida a partir do dia 15 de janeiro. Vamos sentar para negociar agora.

O Eurico conseguiu fazer a FFERJ obrigar clubes a cobrar ingressos entre R$ 5 e R$ 50. O Vasco poderia ter reduzido somente seus ingressos, mas articulou essa mudança na federação. Parece uma ação política para prejudicar Flamengo e Fluminense, que cobram mais que isso. Só que o próprio Vasco vai ter de lidar com esses preços quando tiver de planejar o sócio-torcedor, pois ele costuma ter desconto na entrada. Como o marketing vê essa questão?

– Havia uma enorme crítica no Campeonato Estadual, com razão, sobre o fato de haver muito pouco público. Todo mundo sabe que Estadual é um preparativo para o restante da temporada, feito em tempos de férias e Carnaval. Com preços de R$ 80 ou R$ 100, não há quem vá a partidas que, em geral, têm uma torcida só. A lógica foi: se não vamos levar público porque cobramos muito caro no ingresso, e por causa disso teremos prejuízo, é melhor cobrar menos e colocar gente no estádio para estimular o campeonato. Cada um olha para o seu lado. O Flamengo diz que tem um custo operacional alto. Não é nosso caso. O Fluminense joga por um custo muito menor que ele, então a verdade é que ele negociou mal o contrato dele. O Botafogo, que votou conosco, tem o Engenhão e poderia alegar o custo para ser contra. Não foi assim. A gente tem a visão de que o futebol é um esporte popular e precisa ser o mais popular possível na presença de público. O Flamengo entende que tem que fazer futebol caro para privilegiar o sócio-torcedor, nada contra, mas temos uma visão diferente.

O Vasco vota a favor do ingresso mais barato também porque tem uma casa envelhecida, com um custo mais baixo, e própria, portanto não tem de pagar aluguel a ninguém nem fazer com que alguma concessionária tenha lucro. Isso significa que São Januário será sempre a casa do Vasco? Há interesse seu e do Eurico de jogar no Maracanã?

– Nossa casa é São Januário por uma série de razões. Estamos hoje definindo – para o Carioca ou para o Brasileiro, ainda não sei – quem vai fazer a venda de ingressos. A Futebol Card fazia isso até agora. Eles me contaram que fizeram um investimento no setor premium, com camarotes atrás do gol, na ferradura. São camarotes bem feitos, têm ar condicionado, televisão. No primeiro ano, eles tiveram bons resultados. A partir do segundo, o Vasco começou a não jogar os principais jogos lá, e isso esvaziou o camarote. Esvaziou um produto que é nosso. Nada impede de fazer jogo no Maracanã, porque ele tem apelo enorme, mas sem dúvida para jogar no Maracanã o Eurico vai querer condições melhores. Não será um contrato como se vinha fazendo, de jogar como o Maracanã quer e ter um alto custo.

Como está estruturado o departamento de marketing do Vasco? O que tem sido feito nele?

– Sentei com o Bernardo [Pontes, gerente geral de marketing] para entender como as coisas funcionavam, e os problemas são inacreditáveis. O marketing não tinha interferência nenhuma em site e mídias sociais, que são geridos por outra vice-presidência. A assessoria de imprensa do futebol pertencia só ao futebol, respondia ao Rodrigo Caetano e não se falava com outros assessores. Tivemos de unificar tudo. Site e marketing vão trabalhar juntos e integrados dentro de uma lógica de comunicação. Não adianta só ter boas pessoas se não houver comunicação, processo decisório, se um não falar com o outro. Eu perguntei: por que não temos publicidade no Premiere FC? A Globosat fez um contrato com a gente para divulgarmos o Vasco, mas o vice-presidente de marketing [Victor Ferreira] não conversava com o vice-presidente de comunicação [Márcio Santos], então não usávamos isso. Receber verba da Globo para fazer sua propaganda e não entregar porque não tem acordo interno é inacreditável. Entramos em 1º de dezembro, então estamos aqui há 45 dias e fizemos o básico, mas há necessidades maiores, e o mercado, que hoje está em férias e vai demorar para voltar, também não tem culpa de como estava o Vasco antes.

O sócio-torcedor virou uma das principais fontes de receita em algumas equipes do futebol brasileiro, entre elas o campeão nacional Cruzeiro. Como o Vasco o vem tratando?

– Não dá nem para caracterizar o que temos como sócio-torcedor. Nosso programa não tem as principais características que um sócio-torcedor normalmente tem. Uma coisa é a lógica de vender ingresso mais barato, com antecedência, para quem vai ao jogo. Isso funciona para o torcedor do Rio de Janeiro. Mas nós temos Nordeste, Norte, Brasília, Santa Catarina. Temos pedido às empresas que temos conversado para pensar no cara de fora. Está tudo tão atrasado no Vasco que temos que transformar desvantagem em vantagem.

Com quem o Vasco negocia hoje?

– Futebol Card, CSM e BWA. Precisa ser algo bom, que gere renda para o clube. Hoje temos uma empresa que faz o controle dos pagamentos e produz relatórios, mas o que fazemos com isso? Absolutamente nada. Não é sócio-torcedor, não. Ou seja, quando analisamos a situação do Vasco, vemos três pontos: um, não tínhamos sócio-torcedor de amplitude; dois, não tínhamos projetos ligados a incentivo fiscal, Ministério do Esporte, Confederação de Clubes, ICMS; e, três, tínhamos um processo decisório desorganizado. A gente meio que entende como chegou a essa situação, com tão pouca receita. Ficamos assustados quando vimos que todas as receitas estão comprometidas. O Vasco já recebeu tudo o que tinha para receber da TV não só pelo Estadual de 2015, mas pelo de 2016. Não é que não se pode trabalhar com adiantamentos, mas não pode antecipar tudo. O atraso em relação a adversários é muito grande.

Blog Dinheiro em Jogo

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