Juninho revela que já sugeriu ao Vasco a contratação de Jorge Sampaoli
Sugeri no Vasco a contratação do Jorge Sampaoli, quando ele estava no Universidad de Chile e ganhava menos de US$ 30 mil por mês.
Até o ano passado, aos 38 anos, Juninho jogava no Vasco, batia faltas na “gaveta”, comandava o time com craqueza rara, mas não resistiu à troca de técnicos, estruturas precárias e falta de organização. Deixou o futebol após 23 anos de carreira, com dois títulos nacionais, uma Libertadores, sete campeonatos franceses e uma Copa da França, pelo Lyon.
Foi durante o período de 10 anos no clube francês que ele “abriu a cabeça” e entendeu o atraso do futebol brasileiro. Hoje comentarista esportivo, estarrecido com a derrocada da Seleção na Copa, ele defende com veemência a importação de técnico estrangeiro porque, em geral, “nós não queremos aprender”.
Você é a favor do técnico estrangeiro na Seleção e no futebol brasileiro?
Sou completamente a favor. É preciso abrir o mercado. Não importamos jogadores argentinos, uruguaios, chilenos nos clubes? Havia necessidade, e buscamos os talentos. Por que não trazer técnicos? Chega desse clube fechado, temos de adotar o merecimento. Sugeri no Vasco a contratação do Jorge Sampaoli, quando ele estava no Universidad de Chile e ganhava menos de US$ 30 mil por mês. Agora está aí na seleção chilena.
Não há possibilidade de boicote?
Corremos o risco, sim. E nisso o ambiente do futebol contribui, de técnicos, jogadores a gente de imprensa. Teria acontecido assim com o argentino Passarella no Corinthians, não é?
Você cresceu como profissional quando jogou na Europa?
Só abri a minha cabeça quando saí do Brasil. Entendi que não podemos mais nos esconder nas cinco estrelas de Pelé, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho e Romário. A gente parou no tempo. Grande parte da culpa é dos técnicos. Falta autocrítica e há excesso de confiança. Usam a desculpa que trabalham três jogos e são demitidos, que o resultado tem de ser imediato. Assim eles pegam três clubes por ano, se tornam os profissionais mais bem pagos do país e se fecham num grupo restrito. O Felipão treinou o Chelsea com 23 craques e saiu de lá criticando jogadores. Os brasileiros não querem aprender.
Qual a diferença?
Eu joguei nove temporadas na Europa. Foram oito Liga dos Campeões. Disputei tudo e assistia a tudo. Lá se trabalha por grupo de 23 jogadores, no máximo 25 — e nunca os 30, 35 como no Brasil. O Vasco em 2013 usou 35 a 36 jogadores. Também não existe a cultura do titular, com os reservas esperando a vez atrás do campo. É claro que todo o time tem sua base. Quando eles entram na Liga dos Campeões, a rotação está feita, os clubes sabem a quem recorrer. Outra: jogador tem de ser versátil. Essa é a principal dificuldade de adaptação do brasileiro. Claro, com um Messi, Cristiano Ronaldo, caras de 40, 50 gols por ano, isso não vale. Mas, em geral, é preciso cumprir várias funções em campo.
E a ideia de abrir centros de treinamentos no país e incentivar o intercâmbio de técnicos brasileiros no Exterior?
Boa ideia, mas quero ver. Passada a Copa do Mundo, nenhum clube do Rio sai com centro de treinamento e estádio. Saí do Vasco em 2001 e fui para o Exterior. Quando voltei, 10 anos depois, em 2011, eu com 36 anos, tive de treinar atrás da goleira porque tinha de preservar o gramado do São Januário, que já estava castigado. Isso não existe. Sobre o intercâmbio, os técnicos tinham de se relacionar melhor com os estrangeiros, buscar novas práticas diárias.
Você coloca todos os técnicos brasileiros na mesma situação?
Não. Por favor, não generalizo. Respeito quem se dedica. Há gente com boa cabeça, que usa variações, como Tite, Osvaldo de Oliveira, Abel Braga. Sou contra a gente com cadeira cativa na Seleção. Olhem o Parreira: ganhou em 1994 e ainda está aí com ideias antigas. O Sampaoli trouxe para a Copa a seleção chilena Sub-20 para treinar com o time principal. O que acham da ideia? O Cuca fez um belo trabalho e foi parar na China. Ele não podia estar na Europa?
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