Vasco SAF tem déficit de R$ 594 milhões em ano de arrumação da casa

Débito ja éra esperado nesses primeiros meses de gestão do grupo americano que gere o Vasco da Gama. A ordem é equacionar as dívidas para se tornar autosustentável em 2025.

Sócios da 777 Partners em visita ao CT Moacyr Barbosa
Sócios da 777 Partners em visita ao CT Moacyr Barbosa (Foto: Rafael Ribeiro/Vasco)

A SAF do Vasco publicou esta semana o seu primeiro balanço financeiro desde que foi instituída em agosto do ano passado. O relatório aponta um déficit de R$ 594,5 milhões (resultado da herança das dívidas do clube associativo), explica o que foi feito com o primeiro aporte feito pela 777 Partners e mostra que a prioridade nos primeiros meses de gestão foi colocar ordem na casa.

O período contemplado no balanço vai de 8 de agosto, dia seguinte à aprovação da SAF em votação na Assembleia Geral, até 31 de dezembro. Como a maioria esmagadora dos reforços foi contratada a partir de janeiro, o detalhamento do investimento feito em negociações de jogadores e aquisição de direitos federativos vai ficar para o próximo balanço.

O Vasco SAF fechou os quase cinco meses de gestão em 2022 no vermelho, o que já era esperado. O déficit se dá principalmente pela assunção de dívidas que pertenciam à associação, com teto de R$ 700 milhões. O clube associativo, que também divulgou balanço no último domingo, passou a informar dívida líquida em torno de R$ 25 milhões, um valor irrisório em comparação ao que era antes da venda da SAF.

O relatório da SAF deixa claro que existe neste momento um desequilíbrio financeiro na empresa, com muito mais saídas de caixa do que entradas, e que nos próximos dois anos a dependência dos aportes da 777 Partners para fechar as contas vai seguir existindo. A holging americana, dona de 70% das ações, por contrato precisa aportar mais R$ 120 milhões em setembro e outros R$ 390 milhões até o fim de 2024.

O Vasco da Gama SAF prevê sua autossustentabilidade a partir de 2025.

-Aportes serão necessários nos próximos anos para que o Vasco da Gama Sociedade Anônima do Futebol tenha continuidade em seus negócios – o nível de receitas e resultados atual é incompatível com o nível de dívidas já assumidas por esta SAF. Já há aportes contratados e registrados em balanço no valor de R$ 510 milhões, a serem integralizados nos próximos anos – diz um trecho do parecer do Conselho Fiscal, que recomendou a aprovação unânime das contas de 2022.

Arrumando a casa

De agosto a dezembro, a receita operacional líquida do Vasco SAF foi de R$ 47,4 milhões. A rúbrica considera direitos de transmissão, bilheteria, marketing, programa de sócio-torcedor e outras fontes de renda. A equipe em 2022 disputou a Série B do Brasileirão pelo segundo ano consecutivo.

Por outro lado, o clube desembolsou R$ 88,4 milhões em custos operacionais (salários, direitos de imagem, gastos com jogos…) e despesas gerais – neste, constam R$ 23 milhões apenas em custos “com o dia a dia da operação do estádio de São Januário, dos centros de treinamento, das áreas administrativas que são operadas pelo Vasco SAF e, adicionalmente, de despesas gerais do período de transição”.

Isso acontece porque um dos primeiros atos da gestão da 777 foi regularizar os pagamentos de salários e outros encargos trabalhistas que estavam atrasados. O clube desde então vem pagando em dia e incluiu outros benefícios no pacote dos funcionários, como plano de saúde e vale-presente no fim do ano.

Os custos operacionais do Vasco SAF nos primeiros meses de gestão (Foto: ge)

Dos R$ 120 milhões aportados pela 777 em setembro, o balanço aponta que 32% foram destinados aos custos operacionais (correntes ou atrasados) e que “mais da metade” serviu para pagamento de dívidas. O clube precisou priorizar o acerto com credores como Máxi López, por exemplo, cuja inadimplência poderia acarretar em transferban.

Contratação de jogadores

Com receita muito abaixo das despesas e o aporte da 777 comprometido quase em sua íntegra por custos operacionais e dívidas, como foi então que o Vasco investiu tanto na janela de transferências?

O departamento de futebol comandado por Paulo Bracks atacou o mercado priorizando o pagamento em parcelas para não interferir no fluxo de caixa da empresa. Foram investidos cerca de R$ 110 milhões em 16 reforços, mas a grande maioria das aquisições de direitos foi feita de forma parcelada.

Essa deverá ser uma postura comum do Vasco em negociações, até por orientação do departamento financeiro comandado por Lúcio Barbosa, embora cada caso seja diferente do outro. A prioridade por pagamentos à vista se dará quando houver desconto significativo – como foi o caso de Pedro Raul, pelo qual o clube pagou uma parcela única de R$ 10,4 milhões ao Kashiwa Reysol.

Como dito acima, esse tipo de detalhamento será feito no próximo balanço. Sobre contratações da janela passada, o relatório informou apenas que as negociações geraram um total a pagar de US$ 3,3 milhões (R$ 16,6 milhões) em comissões a agentes e cerca de US$ 1,2 milhão (R$ 6 milhões) em luvas para atletas.

Por fim, o balanço aponta receita de 1,5 milhão de euros (R$ 8,3 milhões) com a cessão de direitos econômicos, mas não especifica de qual negociação essa esse dinheiro é oriundo. A venda de Andrey para o Chelsea será lançada no relatório do ano que vem.

Renegociação das dívidas

O Vasco SAF considera a renegociação das dívidas com credores como essencial para a sobrevivência da empresa.

“O Vasco SAF tem o compromisso de pagar as dívidas que assumiu e, para isso, se reúne constantemente com credores, buscando as melhores condições para ambos os lados. Sabemos que uma das chaves do sucesso para o Vasco SAF, assim como para sua continuidade, é a sua capacidade de renegociar as dívidas assumidas em comum acordo com os credores, assim como a de reestruturar suas finanças”, diz um trecho.

A gestão do Vasco mostra-se bastante preocupada com os juros sobre as dívidas. No âmbito do RCE, o ge informou no mês passado que o clube avalia os cenários e não descarta seguir o mesmo caminho do Botafogo, que está em vias de anunciar novo acordo com os credores para amenizar os impactos da Taxa Selic de 13,75%.

O ge apurou que, até maio deste ano, a SAF abateu cerca de R$ 100 milhões da dívida total herdada da associação. A renegociação é um dos quatro pilares para a sustentabilidade da companhia, como descreve o seguinte trecho do relatório:

  • Aportes de capital do acionista majoritário: que já vem acontecendo desde 2022 e continuarão acontecendo em 2023 e 2024
  • Renegociação da dívida: para a obtenção de descontos em dívidas reconhecidas, redução de juros e alongamento destas.
  • Acompanhamento orçamentário: o acompanhamento orçamentário é crucial para que qualquer empresa (desportiva ou não) alcance o equilíbrio econômico-financeiro.
  • Estabilização do Vasco SAF na Série A: a estabilização do time na série A do campeonato brasileiro será de suma importância para o fortalecimento da marca e para a geração das receitas esperadas para os próximos anos.

Trocas entre clube e SAF

A SAF e o clube associativo, por obviedade, trocaram muitas informações nos meses que compreenderam a transição e também para a elaboração dos balanços financeiros.

O clube, no entanto, anexou uma nota de esclarecimento em seu relatório pontuando que algumas informações ficaram incompletas porque ficou sem resposta da SAF.

“Até o momento do encerramento dos trabalhos para essa publicação, a VGSAF ainda não havia publicado suas Demonstrações Contábeis e também não havia respondido a carta de circularização enviada pela auditoria para confirmação dos saldos contábeis existentes entre a VGSAF e o CVRG. Apesar do conhecimento de que inexistem diferenças relevantes nos referidos saldos entre as Entidades, a não formalização desse panorama levou a BDO a incluir parágrafo de ressalva no parecer publicado. O CVRG tem entendimento de que esse documento deve ser recebido nos próximos dias, cessando os motivos para a manutenção da citada ressalva em seu parecer”, diz um trecho.

Fonte: Globo Esporte

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