Opinião: Vasco precisa de sabedoria para contar com ajuda da base para voltar à elite

Mesmo dia em que o Vasco da Gama amargou seu quarto rebaixamento, a equipe Sub-20 ganhou força ao conquistar título da Supercopa do Brasil.

Jogadores celebram conquista da Supercopa do Brasil 2020
Jogadores celebram conquista da Supercopa do Brasil 2020 (Foto: Twitter de João Menezes)

Não dá para imaginar que o torcedor vascaíno possa ter sua tristeza pelo quarto (vou repetir: QUARTO) rebaixamento na Série A profissional amenizado pela relevante conquista da taça da Supercopa do Brasil sub-20. Mas, curiosamente, talvez esse título conquistado pelos meninos da Colina em cima do Atlético-MG ganhou muita relevância justamente porque neste momento de crise do clube qualquer taça é relevante, qualquer conquista afaga o ego dos deprimidos vascaínos. Além da faixa no peito, os campeões têm uma ótima perspectiva de aproveitamento no profissional em 2021 porque, na Série B, o Vasco não terá recursos para investir muito, e será obrigado a recorrer a sua excelente base. Bem mais, por exemplo, do que o vice Atlético, cujo bom time dificilmente terá espaço num clube que virou comprador, e onde a fila é enorme.

Contextos externos à parte, o jogo em Cariacica foi muito bem disputado e teve mais emoção do que vários jogos do time profissional vascaíno. Marcos Valadares, técnico do Atlético-MG, trabalhou dois anos em São Januário e conhecia muito bem o adversário. Sabia quão perigoso o rival podia ser e quão talentoso na criação do meio-campo vascaíno é. Assim, sem seu principal atacante (Guilherme Santos, acometido de Covid-19), o Atlético entrou com quatro jogadores no meio, dois essencialmente marcadores. E na primeira meia hora teve êxito. Não correu riscos e andou rondando muito perigosamente a área adversária.

O time vascaíno parecia inseguro, como se estivesse pressionado pelo virtual rebaixamento do time profissional no Brasileiro. Mas, se na organização estava difícil, o Vasco começou a se aproximar do título no talento individual. Aos 36, Vinícius recebeu na esquerda, avançou, deu uma caneta em Talison e bateu para fazer 1 a 0. O Atlético sentiu, desarrumou-se e deixou, três minutos depois, o Vasco fazer o segundo com MT, livre na pequena área, sem goleiro. Detalhe: o central Hiago Ribeiro, do Galo, teve responsabilidade técnica nos dois lances. Antes deles, ele dera um bote errado que deixou MT livre – Gabriel Delfim salvou a escanteio. No primeiro gol, demorou a cobrir Talison, e no segundo, nem aparece na foto – onde estava um central que não marca o adversário na pequena área, pelo meio?

O Vasco voltava, então, do intervalo, com o jogo na mãos. Marcos Valadares, obviamente, trocou o 4-4-2 pelo 4-3-3 colocando Luis Eduardo no meio (mais ofensivo e talentoso do que Iago Campos). E, também óbvio, o time mineiro cresceu, em ofensividade e confiança. E o Vasco, incrivelmente, não apenas aceitou a pressão como, nas poucas vezes em que roubava a bola, simplesmente não conseguiu articular nada. A bola queimava, era chutão para cima, para a frente, para o lado. O trabalho do Galo foi muito facilitado pelos nervos em frangalhos – a expulsão de Arthur, depois de um pontapé no adversário quase na área defensiva do Atlético mostrava essa tensão desmedida.

Aos 20, Valadares começou a ser recompensado. Luis Eduardo recebeu na entrada da área e bateu bem de canhota, descontando. O gol aumentou a confiança do Atlético, e seu treinador foi ainda mais ousado ao entrar com um atacante (Pedro Henrique) na vaga de um meia (Julio Cesar). E aos 41, na batida de uma falta, ou seja, de uma bola parada, o “sistema” defensivo do Vasco foi todo na mesma bola. Cadu rebateu nos pés de Mateus Alisson. Matias levou séculos para combater e o atleticano chutou. A bola foi na direção de Pedro Henrique (com Figueiredo olhando, sem se mover), que, livre, só escorou para empatar. O Vasco pediu para sofrer o empate.

Nos pênaltis, contudo, o time carioca trocou o estresse pela extrema frieza. Assim, acertou as sete cobranças que lhe tocaram, enquanto seu goleiro, Cadu, que quase pegara alguns dos 6 que o Galo converteu, defendeu a cobrança de Alisson. Parabéns ao Vasco, e também ao Atlético, campeão nacional da categoria, que perdeu com valentia e dignidade.

É bom para o futebol brasileiro ouvir o hino do Vasco sendo executado após uma conquista esportiva. É bom ver uma nova geração de bons jogadores surgindo no clube – e, de resto, também no Atlético-MG. O que é preciso agora, e isso caberá à administração do Vasco, é usar com critério e sabedoria esses campeões para ajudar o clube a voltar à elite. Não dá para jogar os garotos aos leões e achar que eles, sozinhos, terão força para carregar nas costas um gigante como é o Vasco. Será fundamental juntar experiência ao talento deles. Porque se o Vasco não for cirúrgico nessa transição, vai queimar um geração de qualidade e ainda correrá um risco concreto de não voltar à Série A.

Fonte: Blog entre as Canetas

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3 comentários
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    Não dá para jogar os garotos aos ” leões ” e achar que sózinhos vão resolver tudo, MAS, também não da para achar que jogadores que completam 18/19 anos e vão para o profissional terão sucesso em equipes desorganizadas, mal treinadas, COM JOGADORES VICIADOS como vem sendo o Vasco de PIKACHU, FERNANDO MIGUEL, LEANDRO CASTÃ, HENRIQUE, MARCO JUNIOR, jogadores sem criatividade, velocidade e limitados tecnicamente !! Futebol moderno é conjunto, INTENSIDADE, começa com a saída de bola do goleiro e passa por toda a equipe ! O Vasco não tem isso desde o Time que foi campeão brasileiro em 2011 !!!

  • Responder

    O grande problema é o aproveitamento dos garotos! Qd joga alguma coisa é vendido rápido e a preço de banana: Douglas Luis, Luan, Danilo Barbosa, Philippe Coutinho, Allan e Alex Teixeira ou simplesmente dispensado Diogo Barbosa, Renato Kayser. E alguns muito badalados na base mesmo com muitas oportunidades não se firmam: Andrey, Thales, Lucas Santos, Evander etc. O Vasco faz um péssimo serviço de transição da base para o profissional.

  • Responder

    Não, essa guriada só querem festa, sobem para o time principal, acham que são os bons, são forte na base apenas.

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