Ex-jogador Gian torce pela volta dos tempos gloriosos do Vasco

Professor em uma escolinha de futebol em Castanhal-PA, Gian vê de longe o Vasco retornar para a elite do futebol nacional.

A década de 90 foi especial para o Vasco, sobretudo pela conquista do Campeonato Brasileiro de 1997 e da Libertadores de 1998. A receita para as vitórias tinha nome, ou melhor, uma legião de jogadores que logo ganharia o mundo – Juninho Pernambucano, Felipe, Edmundo, Donizete e um outro, menos conhecido, chamado Gian. Lá se foi cerca de 20 anos, e o ex-meia, atualmente professor em uma escolinha de futebol e assessor na prefeitura de Castanhal-PA, vê de longe o Gigante da Colina recomeçar, como ele define o momento da equipe carioca ao retornar para a elite do futebol nacional.

– É um recomeço. Espero que o Vasco coloque os pés no chão, que olhe o (Campeonato) Brasileiro como prioridade para permanecer na Série A e não ser rebaixado novamente, e depois, sim, vislumbrar algo maior. O Doriva é uma aposta do clube, apesar de ser um bom treinador. Espero que ele possa ter as peças certas no elenco para iniciar um trabalho legal. A torcida do Vasco é muito grande e precisa voltar aos tempos gloriosos – disse o ex-jogador, que desde 2003 mora no Pará.   

O reinício em 2015 contrasta com o Vasco que o ex-jogador encontrou em 1993. Gian afirma que a fase da equipe, àquela altura, era diferente não apenas dentro das quatro linhas. E percebe, no passado, maior comprometimento da diretoria com o futebol profissional e com a base – apesar de dizer que conheceu duas versões diferentes de Eurico Miranda, o todo-poderoso do clube naquela época.

– Cheguei ao Vasco vindo do Matsubara. Existia esse planejamento, esse comprometimento… O supervisor da base trabalhava também na seleção, ou seja, existia essa integração grande. Isso me ajudou a chegar à seleção sub-20, com a qual conquistamos o Mundial. Também foi nesse período que conheci o Eurico Miranda. O primeiro Eurico Miranda que conheci durou até 95. Um cara que sempre ajudava todos os jogadores e lutava pelo Vasco. Não deixava salário atrasar, era um cara espetacular. Depois, o Vasco começou a ter problemas financeiros, e ele passou a prometer e não cumprir. Em 97, lembro que ele não atendia mais as pessoas, ficou mais sério, soberbo – disse.

Gian atribui a volta de Eurico ao comando do Vasco – ele reassumiu em dezembro de 2015 – à carência no surgimento de novos dirigentes comprometidos com a causa do futebol. Ficaram, segundo ele, as lembranças de um passado bom, com títulos, porém, que deixou marcas e dívidas trabalhistas que talvez não cheguem ao fim.    

– Eu não sei dizer ao certo o motivo do retorno dele. Acompanhei pouco o trabalho do (Roberto) Dinamite (ex-presidente), mas o time foi rebaixado (em 2013), ele não conseguiu montar uma equipe competitiva. E o que os caras (torcedores) querem? Ele (Eurico Miranda) de novo. Tem o Eurico, mas deveriam ter outras pessoas com ideias novas, justamente para substituir essas outras. Isso acontece em todo lugar. Aqui (no Pará) não é diferente – opinou.   

Gian deixou o Vasco depois de oito anos para se transferir à Suíça. Jogou por três temporadas consecutivas e retornou ao Brasil a pedido de Julio Cesar Leal, o técnico do ex-meia nos tempos da seleção de base. Foi quando ele encontrou seu verdadeiro clube do coração, maior inclusive que o Vasco: o Clube do Remo.   

– O treinador do Remo era o Júlio Cesar Leal na época. Ele me ligou e disse: “Quero que você venha para cá”. Ele pediu que o ajudasse no Remo, me disse que o salário era pouco e o contrato era de quatro meses. Topei o desafio. A transferência demorou e só chegou perto de um jogo contra o Paysandu. Fui para o jogo, saímos perdendo, até que aos 44 eu recebo a bola na área e faço o gol. Já tinha pedido para ser substituído umas três vezes do jogo… A minha história com o Remo começou aí. O Vasco foi muito importante na minha carreira, aprendi muito, mas o Remo foi o clube que me fez, é o meu grande clube. Quando eu cheguei, aquela torcida enorme… Não consegui mais sair do Remo e fiquei. É paixão. Foi onde vivi os melhores momentos da minha carreira – reitera.   

O ex-jogador encontrou um dos grandes momentos de sua carreira logo no começo dela. Em 1993, foi campeão mundial sub-20 com a seleção brasileira. Fez, nos últimos minutos de jogo, o gol do título sobre Gama – em vitória de virada por 2 a 1. O primeiro foi marcado por Yan, seu parceiro no Vasco. 

Vida no Pará, amigos do futebol e mais sobre a carreira   

Nascido em Sertaneja, no Paraná, desde 2003 Gian escolheu o Pará para viver, primeiro em Belém – quando foi contratado pelo Remo – e agora em Castanhal, distante cerca de 70 quilômetros da capital. Aos 40 anos, a vida nova é pacata, dividida entre a casa em que mora, a função de assessor da Secretaria de Esportes da prefeitura e a escolinha de futebol para crianças no clube que leva o nome do município. Parar de trabalhar? Voltar para a terra natal? Nada disso passa pela cabeça do ex-vascaíno. 

– Hoje em dia não dá para parar de trabalhar. Primeiro que eu gosto de trabalhar com os garotos. Segundo que eu tenho filhos, quatro filhos. Estou morando em Castanhal, trabalho de manhã na prefeitura, dou aula para a garotada também. No final de semana, curto meus filhos, três são do Paraná e um aqui de Belém. Hoje é difícil eu ir embora do Pará, a maioria dos meus projetos é para cá.  Meus negócios no Paraná estão andando sem eu estar presente. Tenho um negócio de telefonia lá com a minha irmã, que fizemos sociedade, e uns terrenos também. Hoje, dá para viver sossegado. O futebol me deu essa oportunidade.   

Do futebol, além da vida sossegada, ficaram algumas amizades que são cultivadas pelas redes sociais. Também são do futebol, claro, as boas, más e curiosas histórias vivenciadas ao longo de quase 20 anos de carreira.  Matsubara, Goiás, América-RN, Portuguesa Santista, Luzern-SUI, Castanhal e Independente Tucuruí, todos tiveram um papel especial na vida do jogador. 

– Eu atravessei muitos clubes depois da minha saída do Vasco. Todos os times têm histórias boas. Foram 19 anos de carreira. Passei três anos na Suíça, joguei no Luzern. Em 91, pela  seleção sub-17, nós pegamos Gana e eles tiraram a gente da competição nas quartas de final. Depois de dois anos, chegamos até a final e ganhamos deles. Passei por Ceará e Goiás, duas vezes. Em uma delas, dei azar. Eu cheguei para ser 10 e logo em seguida o Geninho trouxe o Petkovic. Aí não teve jeito. Tive que sentar no banco e assistir ao cara jogar.   

Globo Esporte

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