Euller define passagem pelo Vasco: ‘Realização completa’
O ex-jogador Euller, hoje treinador do Safor Club, relembrou com carinho sua rápida passagem pelo Vasco da Gama.
A passagem de Euller pelo Vasco fez jus ao apelido do ex-atacante: foi rápida. Pela bola que o Filho do Vento jogou com a Cruz de Malta no peito, o período entre agosto de 2000 e junho de 2002 passou voando aos olhos do torcedor vascaíno. Cabia mais, porém deu tempo de marcar o nome na história, virar ídolo e se tornar figura crucial para as conquistas do tetracampeonato brasileiro e da Mercosul.
E o GloboEsporte.com resolveu voltar ao primeiro dia de Euller no Vasco e o mostrou, via Whatsapp, reportagem do jornal “O Globo” publicada no dia seguinte à apresentação dele como reforço vascaíno, realizada em 24 de agosto de 2000. Depois da visita ao passado, a reportagem perguntou: “O que vem à cabeça quando você vê essa imagem e o que representava a chegada ao Vasco?
Hoje treinador do Safor Club de Fútbol, da sétima divisão da Espanha, o ex-atacante de 49 anos deu longo e carinhoso depoimento sobre a passagem pelo Vasco. Leia abaixo (após o depoimento ainda há um bate-bola com o Filho do Vento):
“Quando olho essa imagem o que vem à cabeça é responsabilidade. Por estar num grande clube como o Vasco da Gama e que vinha formando uma grande equipe com a obrigatoriedade de conquistar títulos, responsabilidade é que vem à cabeça.
Principalmente porque quando tive a proposta do Vasco da Gama, eu comecei a fazer planejamentos na minha cabeça. Um deles era o sonho de jogar ao lado do Romário. Outro era vestir a camisa da seleção brasileira. Por isso, recusei muitas propostas de voltar para o Japão e jogar na Europa, para ainda realizar alguns sonhos.
Estar ao lado do Romário era um dos meus sonhos porque tinha comigo que a minha característica ia casar com a dele e que a gente poderia fazer uma grande dupla. De fato aconteceu, conquistamos títulos.
Na minha primeira convocação pelo Vasco, jogamos juntos contra a Venezuela e também fiz gol. Para mim, o Vasco foi motivo de muito orgulho, de muita satisfação. Representou muito na minha carreira.
Conquistei títulos importantes, participei de jogos memoráveis que entraram para a história. Formei uma grande dupla com o Romário, foi pelo Vasco que fui convocado para a seleção brasileira. Então foi uma realização completa, e eu dou graças a Deus por isso. Por ter realizado tudo o que planejei”.
Confira outros tópicos do papo com Euller, ídolo que marcou 28 gols em 83 jogos pelo Vasco:
Foi uma passagem rápida, mas marcante demais. O Vasco foi o clube onde você teve maior sucesso ou foi no Palmeiras?
Sempre digo que o ano de 2000 foi o melhor da minha carreira. Metade do ano no Palmeiras, metade no Vasco. Disputei todos os títulos do Brasil. Fui campeão do Rio-São Paulo pelo Palmeiras e chegamos à final da Libertadores (vice para o Boca Juniors). Teve também a Copa dos Campeões (vencida pelo Verdão). Fui para o Vasco e ganhei o Brasileiro e a Mercosul. Então, sem dúvidas, o ano de 2000 foi o meu melhor ano.
Você era um cara de muitas assistências em campo, mas voou como goleador na reta final do Brasileiro de 2000. Foi o vice-artilheiro do Vasco no mata-mata. Qual a importância daqueles cinco gols contra Bahia (dois) e Cruzeiro (três)?
Fui para o Vasco da Gama com um objetivo: servir o Romário, esse era o meu propósito. Em todos os clubes pelos quais passei, nunca tive a pretensão de ser artilheiro, mas sempre quis ser aquele garçom do artilheiro. E isso me levou para o Vasco da Gama. Em 2000, foi artilheiro do Brasileiro, artilheiro da Mercosul. Foi o maior artilheiro do mundo com mais de 70 gols. Dentro dessas assistências que eu dava, também não deixava de fazer os meus golzinhos.
Alguns deles foram muito importantes, principalmente na reta final do Brasileiro. Nos jogos contra Bahia (dois em São Januário) e Cruzeiro (dois no Rio e um em Belo Horizonte) tive a felicidade de fazer gols importantes.
O Vasco de 2000 é o melhor time em que jogou na carreira?
O Vasco de 2000 é o melhor time em que joguei. O Palmeiras de 1999 tinha um grande elenco, mas eu não era titular absoluto. No Vasco sim eu estava jogando como titular. Formamos uma equipe maravilhosa, um elenco espetacular e com jogadores importantíssimos no banco. Conquistamos tudo o que podíamos conquistar. Então o Vasco de 2000 sem dúvida nenhuma foi a melhor equipe em que joguei.
Você falou daquele jogo com a Venezuela. Como foi participar da SeleVasco naquele 6 a 0 ao lado de Romário e os Juninhos?
É um sonho realizado. Tinha comigo de que gostaria de ser chamado para a seleção brasileira nem que fosse para ser gandula. Mas Deus me deu essa oportunidade de poder ser convocado, ser titular na minha primeira convocação e ainda ao lado do cara com quem eu sonhava jogar, o Romário. Foi o quarteto do Vasco. Fizemos um belíssimo jogo, 6 a 0, com os gols do Vasco da Gama.
Como foi o papo no vestiário na final da Mercosul? É o maior jogo do qual você participou na carreira?
Esse jogo foi algo espetacular e maravilhoso. Um primeiro tempo perfeito do Palmeiras, um 3 a 0, fora o chocolate. Fomos para o vestiário atônitos, mas como dar dura em tantos craques? Veio a palavra do Joel Santana de incentivo, veio a palavra do Eurico Miranda de incentivo. Poderia chegar dando dura, mas nos incentivou.
A mudança na equipe com a entrada do Viola, que foi espetacular. Entrou dando outro ritmo à equipe. O primordial foi ali perto da escada onde nos reunimos antes de entrar para o campo. Deixamos ali todo o nosso ego de supercraques ali embaixo. Todos tinham a mesma palavra, que era de minimizar aquela situação e deixar a humildade tomar conta.
Falamos: “Vamos entrar e não passar vexame porque o Palmeiras poderia continuar no embalo, e a gente passar um vexame fora do comum”. Mas o ego ficou ali. Fomos para o campo e o que se viu foi um Vasco da Gama com gana, vontade e determinação. Um batalhando pelo outro, ajudando o outro e individualmente sabendo o potencial que cada um tinha. Tanto que o Júnior Baiano foi expulso, e a equipe ainda continuou forte.
No decorrer do segundo tempo que vimos que poderíamos realmente fazer algo diferente. Aquela sensação de fazer história veio quando a gente empatou o jogo. Ali nós já sabíamos que tínhamos feito algo maravilhoso e que poderíamos fazer algo a mais espetacular. E aí veio a virada em um jogo marcante para todos nós jogadores, dirigentes, comissão técnica e torcedores, que invadiram o aeroporto no dia seguinte para nos receber. Ficou para a história do futebol.
Como está a vida de treinador aí na Espanha?
Estou vivendo na Espanha junto com a família, meu filho joga futebol, tenho uma filha que faz ginástica rítmica e a pequena está estudando. Estou fazendo cursos de treinador da Uefa. Sou treinador no Safor Club de Fútbol, na cidade de Gandía, perto de Valencia.
Estamos disputando a regional valenciana. Provavelmente a federação vai nos dar o título. Já renovei contrato e agora apenas aguardando para fazer o último nível da Uefa Pro. Espero que minha inscrição possa ser aceita para eu terminar meus cursos aqui e ficar apto para treinar em qualquer lugar do mundo.
Vai treinar o Vasco um dia?
Pretendo um dia voltar ao Brasil. Estou focado em terminar o curso da Uefa, só me falta um nível, e focado no Safor, que é subir todo ano até chegar no mínimo à Terceira Divisão. Mas tenho sim pretensão de voltar ao Brasil e treinar um grande clube. Se esse grande clube for o Vasco da Gama será uma honra e uma satisfação muito grande.
Globo Esporte