Dodô relembra passagem pelo Vasco e funk da torcida: ‘Muito marcante’
O ex-jogador Dodô relembrou sua passagem pelo Vasco da Gama, goleada sobre o Botafogo e funk da torcida cruzmaltina.
Foram apenas seis meses de Colina, mas suficientes para marcar Dodô e os torcedores vascaínos que acompanharam de perto a temporada de 2010. Um amor de verão que será sempre lembrado por um funk que explodiu graças a uma atuação de gala contra a antiga paixão.
Em 24 de janeiro daquele ano, Dodô entrava em campo para fazer seu terceiro jogo oficial após cumprir suspensão de 15 meses – testou positivo em exame antidoping realizado em 2007. Tal polêmica, aliás, causou uma saída com arranhões do Botafogo, onde era muito ídolo.
E adivinhem contra quem o Artilheiro dos Gols Bonitos resolveu desencantar? O Botafogo, no Estádio Nilton Santos. Dodô marcou de todas as formas possíveis. No primeiro, driblou e chutou de fora da área. Depois, deu uma espetada oportunista. E fechou o hat-trick com um lindo toque que encobriu Jefferson.
Ficou só nisso? Não. Sofreu falta no quarto e deu assistência para Philippe Coutinho fazer o primeiro dele como profissional do Vasco. Uma goleada de 6 a 0 na casa do rival.
Este foi o resumo positivo da ópera de seis meses de Dodô no Vasco. Aliás, ópera não. Funk. Na segunda-feira seguinte ao sacode, todas as resenhas esportivas foram encerradas com os versos “É o poder, Dodô é o poder, Artilheiro da Colina, faz um gol pra gente ver” e “Artilheiro do gol bonito, veja só como é que é, o Dodô é a mistura do Garrincha com Pelé”.
– A recepção que eu tive foi surpreendente, eu não esperava o carinho da torcida. A música que cantaram para mim logo quando a gente foi para a pré-temporada no Espírito Santo é muito legal. O torcedor carioca é muito criativo em relação a canções no estádio. Eu tive algumas muito maneiras, mas essa do Vasco sem dúvida foi muito diferente.
– Foi surpreendente por eu não ter um histórico no clube e por eu ser sempre rival, de jogar muitas vezes contra, principalmente pelo Botafogo. Então foi especial experimentar esse gostinho de ter jogado com uma camisa pesada como a do Vasco e com tantos jogadores que apreciei enquanto jogavam no Vasco.
Confira o papo com Dodô na íntegra abaixo:
Dodô, sua passagem pelo Vasco foi curta, porém bastante marcante. Qual a importância do clube na sua vida?
Minha passagem pelo Vasco sem dúvida nenhuma foi muito marcante e muito bacana porque eu estava num período muito longo sem jogar futebol, já estava para atingir meus 35 anos. Quando soube do interesse do Vasco, fiquei muito feliz. O Vasco estava jogando a Série B quando começamos a conversar e acertamos.
Fiquei muito lisonjeado de voltar a jogar e num time grande como o Vasco sabendo das dificuldades que o clube enfrentava. A recepção que eu tive foi surpreendente, eu não esperava o carinho da torcida. A música que cantaram para mim logo quando a gente foi para a pré-temporada no Espírito Santo é muito legal.
Tem um verso dela que diz “Artilheiro do gol bonito, veja só como é que é, o Dodô é a mistura do Garrincha com Pelé”. Qual foi sua reação quando ouviu essa parte da música pela primeira vez?
É Garrincha com Pelé para rimar, só por isso. Não tem nada a ver com talento de futebol (risos). Mas com certeza foi muito criativo. E foi comigo, né, cara? Posso guardar com muito carinho, muitos torcedores me mandam e lembram daquela música.
Cada jogador tem a sua música. Eu, mesmo sem ter feito história no Vasco e com todos os problemas que enfrentei, posso guardar com carinho essa música. Acho que isso é por todo o respeito e admiração que ganhei em minha carreira. Por isso fui agraciado com essa grande música.
Por que acha que não ficou mais tempo no Vasco? Aqueles dois pênaltis perdidos contra o Flamengo pesaram?
Em relação ao tempo que fiquei no Vasco, poderia ter sido a temporada toda. Acho que não teve nenhuma correlação com aquele jogo contra o Flamengo em que eu acabei errando os pênaltis. Atuação por atuação, acho que foi a minha melhor pelo Vasco, mas os gols fazem muita diferença. Contra o Botafogo, eu acabei fazendo os gols e contra o Flamengo errei os pênaltis.
Poderia ter ficado a temporada toda, mas sabe como é o futebol, a gente entende. Mudança de treinador, fase difícil, você é uma das referências do clube e acabou que não consegui ficar a temporada toda. Infelizmente porque com certeza eu poderia ter ajudado muito mais do que ajudei. Apesar de não ter ficado a temporada toda, terminei como um dos artilheiros do time no ano.
São coisas que acontecem no futebol. Mas o que fica para mim foi a minha chegada, a minha volta, o fato de eu vestir essa camisa muito pesada no futebol brasileiro e também por poder atuar em alguns jogos muito bem e fazer alguns gols. Então foi muito bacana para mim profissionalmente porque foi meu retorno ao futebol, e eu sempre vou guardar o Vasco com muito carinho.
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Três gols e uma assistência. Foi uma das maiores atuações da sua vida?
Toda vez que você faz três gols é marcante, na Europa o cara leva a bola para casa. Aqui a gente não tem essa tradição, poderíamos rever isso. Apesar que eu não jogo mais, só na pelada (risos). Com certeza é uma atuação que, se eu pudesse levar a bola para casa, ela estaria com outras aqui em casa dos outros jogos em que fiz três gols. É um jogo que guardo muito carinho, é marcante sim.
Como foi o pré-jogo: estava ansioso por pegar o Botafogo ou foi algo normal? E a recepção da torcida botafoguense?
Não fiquei tão ansioso, porque já tinham acontecido amistosos na pré-temporada com o Vasco. O Carioca estava na terceira rodada. O período que fiquei sem jogar me preparou muito para voltar. Minha preocupação era voltar em bom nível, e isso aconteceu porque fiz toda a pré-temporada e não senti muito.
Coincidência que o primeiro clássico foi com o Botafogo, e todo mundo sabe da minha identificação com o Botafogo. E também dos motivos da minha saída do Botafogo em 2007, pelo doping. Senão eu não teria saído do Botafogo jamais. Foram tranquilos os dias antes do jogo. Claro que a torcida sempre pegou no meu pé sempre que voltei a jogar contra o Botafogo por Fluminense e Vasco. Mas a gente entende o torcedor, faz parte.
O jogo teve vários fatores importantes: estreia de Loco Abreu, primeiro gol de Coutinho como profissional e o seu primeiro pelo Vasco. Foi um dia marcante na sua carreira ainda mais por isso tudo?
Foi o primeiro gol do Coutinho como profissional. Quando cheguei no Vasco, todo mundo me comentava: “Você vai gostar de jogar com esse garoto, porque ele é inteligente”. Eu tinha o visto jogar na Série B no ano anterior. Realmente depois comprovou toda a expectativa que a gente tinha em relação a ele. O primeiro gol que ele fez pelo Vasco foi com assistência minha, então isso também foi muito legal. O meu foi especial porque foi o gol da volta. Minha posição pede isso. Teve a estreia do Loco Abreu, que depois virou ídolo do Botafogo. O jogo teve alguns ingredientes que marcaram e o tornaram especial.
Ninguém esperava um placar tão elástico. O que você lembra do jogo? O Botafogo teve um jogador expulso (Eduardo, aos 14 minutos).
Claro que você nunca espera que vai acontecer uma goleada desse tipo, 6 a 0 num clássico, ainda mais no começo da temporada e com dois times que se equivaliam pelos elencos que tinham. O jogo foi acontecendo, não lembro exatamente o momento em que o Botafogo teve um jogador expulso. Isso contribuiu para que o Vasco pudesse fazer seis gols, mas você nunca espera. Já cansei de jogar esse clássico e dificilmente acontecia um 6 a 0 ou uma goleada muito grande. Era um clássico de muitos gols, mas 6 a 0 você nunca espera.
O Vasco tinha um meio de qualidade com Carlos Alberto e Coutinho. Como era jogar com eles?
Era um momento de transição do Vasco, tinha acabado de jogar a Série B e estava planejando um 2010 melhor. E fui contratado mesmo depois de muito tempo sem jogar. Coutinho, Carlos Alberto e Souza, que ficaram da Série B, tinham muito talento e potencial.
Foi muito bom jogar com os meninos Coutinho e Souza, depois vimos o que aconteceu com eles. Carlos Alberto eu já conhecia de jogar contra. Foi um cara que me ligou quando eu estava esperando a punição passar e decidindo o time que eu ia jogar. Me falou do Vasco e do que o clube pretendia.
Foram pessoas com quem tive o prazer de jogar, jogadores que tinham qualidade e que contribuíram bastante para que eu pudesse voltar aos gramados e não sentisse tanta dificuldade assim.
Globo Esporte