Dinamite relembra retorno ao Vasco e 5 gols contra o Corinthians em 80

Roberto Dinamite relembrou seu retorno ao Vasco da Gama e os cinco gols marcados contra o Corinthians no Maracanã em 1980.

Na tarde de 4 de maio de 1980, um dia de domingo, os vascaínos puderam “voltar num sonho lindo”, como diz a canção interpretada por Tim Maia e Gal Costa. Ao receberem, de braços abertos, o “bom filho” que à casa tornava, explodiram de alegria e puderam “outra vez te ver sorrindo”. Há 40 anos, Roberto Dinamite reencontrava a torcida cruz-maltina após passagem pelo Barcelona, da Espanha, e, contra o Corinthians, em um Maracanã lotado, marcava cinco vezes, em jogo que entrou para a História.

Talvez, o combustível maior para aquela partida tenha sido a saudade. E para matá-la foi necessária logo uma chuva de gols. Na vitória por 5 a 2, de virada, pela segunda fase do Campeonato Brasileiro, o ‘Garoto Dinamite’ brilhou.

A reestreia com a camisa cruz-maltina foi contra o Náutico, nos Aflitos, mas o confronto com o Timão foi o que ficou marcado para sempre.

“Só tenho a agradecer. Esse jogo e esses cinco gols simbolizam o retorno para casa. Simboliza estar voltando e ser recebido de braços abertos. Quando você entra em casa e sente essa energia, as coisas acontecem. Acho que foi isso, uma troca de carinho, respeito e saudade. Para mim ficou marcado e também na história do clube”, disse, ao UOL Esporte, o personagem principal daquele dia, que completou:

“Eu jamais poderia imaginar. Acho que nem o torcedor do Vasco, torcedor do Corinthians e eu, principalmente. Voltar e marcar cinco gols contra o Corinthians! Foi um dia muito legal. Foi muito importante para mim e para o torcedor do Vasco. Voltar ao Brasil, para o clube de origem… E, realmente, aonde eu vou, ainda comentam sobre [esse jogo]. Para mim, foi muito especial. Era um clássico, dois times fortes e fazer cinco gols não é normal”.

Ao recordar esta partida, Dinamite ressalta a qualidade que o Corinthians tinha à época, com grandes nomes do futebol.

“Acredito muito nessa coisa da intenção do dia… Claro que [os gols] vêm de um trabalho, um estilo de jogo. Sinceramente, não deu para dimensionar ou pensar sobre aquilo. Poderiam falar antes: “Ah, o Vasco vai vencer o Corinthians”. Ok, até aí seria um resultado que podia acontecer. O Corinthians vivia uma boa fase, mas o Vasco também tinha um bom time. O que fez a diferença foi marcar cinco gols em um jogo contra uma defesa com Jairo, Mauro, Zé Maria, Amaral, Wladimir. Tinha ainda Basílio, Sócrates… O time do Corinthians não era um qualquer. Acho que foi legal por isso também”, afirma.

Aquele retorno teve um gosto ainda mais especial aos vascaínos por um fato: o rival Flamengo quis contratar o atacante, mas ele acabou voltando para São Januário.

Cria do Vasco e amado na Colina, Dinamite foi vendido ao Barcelona, no começo de 1980. Na Espanha, porém, as coisas não caminharam da forma esperada. Márcio Braga, então presidente do Flamengo, foi a Barcelona conversar com o clube e tentar viabilizar a contratação. Ao saber da intenção do Rubro-Negro, o Cruz-Maltino buscou uma solução para repatriar o xodó.

“Só voltei para o Vasco porque o Flamengo foi lá. Lembro que o pessoal do Vasco conversou com o pessoal do Barcelona. Se não me engano, em um primeiro momento, por questão financeira, a coisa não foi resolvida. O Márcio Braga foi lá, conversou com o Barcelona e teve uma pressão muito grande por parte da torcida do Vasco. Houve uma cobrança e os dirigentes sentaram para conversar. Depois, quando abriu essa porta, achei melhor, realmente, voltar para o meu clube de origem, o clube que me projetou”, lembra.

Pode-se dizer, então, que a vitória sobre o Corinthians teve requintes de crueldade. Aquele foi um dia de rodada dupla no Maracanã e o jogo anterior foi uma vitória do Flamengo por 3 a 0 sobre o Bangu. Alguns rubro-negros permaneceram no estádio para torcer para o Timão, formando a “Fla-Fiel”, mas acabaram vendo um show do jogador que preteriu a Gávea.

Um dos nomes que ficou marcado neste enredo da volta de Dinamite foi Eurico Miranda. Na ocasião, Alberto Pires Ribeiro era o presidente cruz-maltino e, como diretor de futebol, Eurico foi à Espanha negociar o retorno, ganhando atenção. Até os dias de hoje, ao falar sobre o episódio, muitos dizem que “Eurico foi buscar o Dinamite”.

Os dois ainda trabalharam juntos por muito tempo no Vasco, um como jogador e outro como dirigente. Em 2002, porém, um ato marcou para sempre a relação entre eles, que nunca mais voltou “às boas”.

Questionado sobre Eurico Miranda, Dinamite lembra, indiretamente, de quando ele e o filho Rodrigo, que tinha 10 anos à época, foram expulsos da tribuna de São Januário a mando de Eurico, que, àquela altura, estava no primeiro mandato como presidente.

Miranda ficaria no poder até 2008, quando a Justiça viu fraude no processo eleitoral de dois anos antes e ordenou novo pleito. Dinamite venceu e assumiu o cargo máximo do Cruz-Maltino, onde ficou até 2014. Em 2015, Eurico retorna à presidência, ficando mais um mandato. No ano passado, o ex-presidente morreu em decorrência de complicações do tratamento de câncer no cérebro.

“Sou uma pessoa que pensa que cada um tem de seguir o seu caminho e temos de respeitar. Tem essa coisa do: “Eurico foi lá te buscar”. Ele foi na função de diretor. Quem trouxe foram outras pessoas, ele estava ali na função dele, mas não é o caso. O que vejo em relação a ele foi que aconteceu uma coisa que eu não gostei, foi deselegante da parte dele. Não faria isso com ele e nem com os filhos dele. A partir dali, acabou que tivemos uma relação profissional, de muitas vezes ter de falar um com o outro. Até comento que nunca o chamei de Eurico, sempre de Doutor Eurico, e era jogador do Vasco, ídolo do Vasco… Mas entendo que as pessoas têm de ser respeitadas, deixar um pouco a vaidade de lado e se respeitarem”, indicou Dinamite.

“Acho que foi um problema de vaidade, de achar que podia tudo dentro do clube, e gerou esse mal-estar. No meu período [de presidente], falávamos de forma institucional [Eurico era presidente do Conselho de Beneméritos]. Depois, não nos falamos mais. Mas é o que falo, o Vasco é maior que o Roberto, que o Eurico. Não levo essa coisa [rancor] para mim de forma alguma”.

Alvo de brincadeira do filho

Durante o bate-papo, Dinamite ressaltou que muitos jovens viram o duelo entre Vasco x Corinthians na internet, anos depois, e o abordam para falar sobre aquela partida. Os jogos antigos, inclusive, têm sido um passatempo do ex-jogador neste período de isolamento social por conta da pandemia de coronavírus. E, mesmo em família, recebe críticas, mas em tom de brincadeira.

“Vejo… Fico vendo meus gols (risos). Até aqui em casa, meu filho me sacaneia, fica dizendo que, se fosse agora, eu não ia fazer tantos gols, que agora correm mais, marcam mais em cima. Com certeza, seria diferente, mas eu também estaria condicionado de outra forma. Respondo para ele: “A diferença sabe qual era? Quando a bola estava chegando, eu já sabia o que ia fazer”. A gente brinca com isso, com relação a essas coisas de gols. Essa coisa das redes sociais proporciona ao torcedor que não viu, voltar no tempo. Acho legal essa interação”

FICHA TÉCNICA
VASCO 5 X 2 CORINTHIANS

Data: 04/05/1980
Competição – Campeonato Brasileiro, segunda fase
Local: Maracanã, Rio De Janeiro – RJ
Arbitro: Carlos Sérgio Rosa Martins
Público: 107.474 pagantes (rodada dupla – preliminar: Flamengo 3 x 0 Bangu)

Gols: Caçapava (11/1ºT), Roberto Dinamite (13/1ºT), Roberto Dinamite (27/1ºT), Roberto Dinamite (37/1ºT), Roberto Dinamite (39/1ºT), Sócrates (43/1ºT) e Roberto Dinamite (27/2ºT).

Vasco: Mazarópi, Orlando, Juan, Léo, Paulo César, Dudu, Guina, Jorge Mendonça, Catinha (Paulo Roberto), Roberto Dinamite e Paulinho (Aílton). Técnico: Orlando Fantoni.

Corinthians: Jairo, Zé Maria, Mauro, Amaral, Wladimir, Caçapava (Djalma), Basílio, Sócrates, Piter, Geraldão (Toninho) e Wilsinho. Técnico: Jorge Vieira.

Uol

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