Desafeto de Eurico, Juninho não conta com despedida pelo Vasco

Prestes a completar 40 anos, nesta sexta-feira, o ex-jogador de Vasco, Lyon e seleção ainda tenta se acostumar à nova vida.

Metódico por natureza, Juninho admite que uma coisa não consegue organizar: seus sentimentos um ano depois da aposentadoria dos gramados. Prestes a completar 40 anos, nesta sexta-feira, o ex-jogador de Vasco, Lyon e seleção ainda tenta se acostumar à nova vida. Hoje comentarista da Globo, não descarta virar treinador. E enxerga com otimismo o horizonte do futebol brasileiro, mesmo após o 7 a 1 para a Alemanha:

– Se você não aprender com algo assim, é melhor parar.

Como é não ser mais jogador?

O trabalho como comentarista está ocupando meu tempo. Mas dizer que eu tenho realização igual à que eu tinha no futebol… ainda não tenho. Ainda tenho o choque de ficar me perguntando o que quero fazer da vida. Estou correndo atrás para fazer um curso de treinador, para, se um dia eu decidir ser treinador, que eu tenha autorização para ser. Mas que é duro parar de ser jogador, é. Você sente falta da competição, de jogar, de participar de momentos fortes, mesmo que difíceis. A primeira vez que joguei bola depois da despedida foi no jogo de fim do ano Zico. Estar lá no Maracanã foi estranho. Por um lado, você lembra dos momentos bons que passou lá. Por outro, pensa que aquilo já passou e você não aproveitou o tanto que poderia.

Uma partida de despedida está fora de cogitação?

Não temos essa cultura no Brasil. Isso parte muito mais do clube, de reconhecer e fazer acontecer. O Vasco é um clube de relacionamento muito difícil, nem sei como vai ser se eu entrar em São Januário hoje. Pelo Lyon, sei que eles dariam um jeito.

Acha que hoje seria mal recebido no Vasco?

O respeito existe porque as pessoas evoluem. O respeito é importante em todos os sentidos, independentemente de qualquer coisa. Mas a sensação que tenho é que há um lado sombrio dentro de São Januário que não aparece, mas que tem poder, tem infiltração em parte da mídia, é um lado ruim. O Vasco é um clube de que gosto, para o qual torço. Gostei do jogo contra o Flamengo. Isso não vai impedir que o Vasco ganhe, que eu torça pelo time, mas não vou negar que existe um lado sombrio no clube.

O que está achando da função de comentarista?

Gosto do debate, de discutir ideias sobre futebol. É sobre o que me interessa, é o que vivi a vida inteira. Mas ainda estou pegando as manhas.

Por ser ligado ao Vasco, qual é a reação das outras torcidas?

Pelo lado dos flamenguistas, há uma certa resistência, mas sou sincero. A partir do momento que começa o jogo, sou imparcial o máximo que eu puder. Torço para o Vasco assim como o Júnior torce para o Flamengo; o Caio, para o São Paulo; o Casagrande, para o Corinthians. Com o tempo, talvez isso mude. O Júnior não tem resistência do torcedor vascaíno.

E como está vendo o futebol carioca para 2015?

Sinto que há uma boa vontade ou a obrigação, por não ter mais escolha, de se tentar fazer a coisa certa. O problema é que a conquista de títulos permite a certas pessoas uma imunidade por um certo período. Acho que os clubes do Rio chegaram à conclusão de que as coisas não estão funcionando como deveriam. O caminho é longo, mas você já percebe uma cobrança maior de todo mundo. Acompanhei mais o Bom Senso FC, a parte da responsabilidade fiscal. Esse ponto de ter acordo sem ter contrapartida… ainda bem que foi vetado. Tem de ter alguma coisa que, se não for feito, o clube é punido. Isso tudo já mostra que o resultado da Copa do Mundo não vai passar em vão.

Acredita então que estamos aprendendo algo com o 7 a 1?

Com certeza. Neste começo de ano, os clubes estão tendo mais tempo para treinar, se preparar. Estamos começando a ver que chapéu e caneta não ganham jogo. É legal ver a torcida gritar, mas isso não ganha jogo. Ninguém esperava que a lição fosse dada em casa, na Copa do Mundo. Esperávamos até a derrota, mas não esperávamos ser engolidos por um tsunami. Se você não aprender com algo assim, pelo amor de Deus, é melhor parar.

Se o futebol brasileiro está evoluindo, como encara o retorno de Eurico Miranda à presidência do Vasco?

Eurico só voltou porque aconteceu uma coisa muito ruim com o Vasco, que foi cair de novo para a Série B. O Vasco foi campeão da Copa do Brasil, foi vice-campeão brasileiro, e ninguém cogitava a volta dele. Eurico nunca saiu do Vasco, mas ele só iria aparecer se o barco afundasse. Ele tem uma história no clube, participou da montagem de equipes vitoriosas. As coisas estão mudando, o Vasco não fez loucuras, está fazendo um time mais barato, mas a escolha do treinador foi acertada. Doriva é promissor, você sente nele que ele busca fazer a coisa certa.

Extra Online

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