Vascaína com doença rara realiza sonho de conhecer Castan

Portadora de ELA, a vascaína Melissa Julye Soares realizou o sonho de conhecer o ídolo Leandro Castan e outros jogadores.

Vocês estão preparados para conhecer uma história incrível? Então, hoje vocês vão conhecer a Melissa!

Melissa Julye Soares tem 21 anos, é vascaína há quase tudo isso e portadora de ELA (esclerose lateral amiotrófica). Considerada muito rara, a doença é neurodegenerativa, afeta as células nervosas e tira a capacidade de o cérebro iniciar e controlar o movimento dos músculos do corpo. Dependendo do estágio, o paciente praticamente não se mexe e precisa de auxilio de um aparelho para respirar. É o caso: ela só mexe o braço esquerdo e só respira com o BiPAP, que ventila o ar para seu pulmão.

Junto da paixão pelo Vasco e dos cadernos cruz-maltinos no lugar dos coloridos desde a adolescência, Melissa sonha acordada, a todo momento, em ser médica. Antes de ser diagnosticada com ELA, a jovem estudava para cursar medicina – e tudo ia perfeitamente bem. Num dia de aula do curso pré-vestibular, porém, a jovem começou a apresentar os primeiros sintomas, como uma queda repentina num dia de aula que chamou atenção dos amigos. Foi aí que tudo começou a mudar.

– Eu sou a prova viva de que tudo pode mudar. Um dia eu estava 100% saudável, bem, vivendo meu sonho. Você aprende a se adaptar – valoriza Melissa.

Ainda sem saber que tinha ELA, mas já com muitos dos sintomas, como dificuldade para pegar objetos e andar, Melissa conseguiu nota suficiente, aos 18 anos, para cursar medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro e achou que os próximos passos seriam bem diferentes dos que ela trilhou. A falta de condições da UFRJ adiou o sonho – a instituição foi procurada pela reportagem e até a publicação não retornou.

– Eu não cursei pela questão da acessibilidade. A UFRJ não tinha a estrutura para me receber. Não é só ser deficiente, eu só tenho um braço funcionando. E a universidade não tinha a estrutura. Eles dizem que tem elevador, total acesso às aulas, mas na prática não é assim. Tem o elevador, mas não funciona. E as salas não têm essa acessibilidade. Eu preferi não fazer a matrícula, porque seria um sofrimento muito grande – explica Melissa.

Em meio às decepções e os anseios de uma jovem cheia de vontades, Melissa nutriu a paixão pelo Vasco. Com a inseparável gata, costuma ouvir os jogos no rádio – mas só quando não está estudando para manter vivo o sonho de se tornar médica. A dedicação é tanta, que ela sequer passa o número de telefone para muita gente, porque não quer se desconcentrar., ou se importa com televisão

Há quase duas semanas, porém, Melissa abriu uma exceção. Largou os cadernos para conhecer um ídolo: Leandro Castan. A história do zagueiro do Vasco se encontra com a da torcedora. Aos 26 anos, em 2014, ele descobriu que tinha um cavernoma (malformação vascular do sistema nervoso central, um tumor de três centímetros no cérebro). Passou por cirurgia, parou de jogar e teve até de reaprender a andar. Dois anos depois, retomou a carreira. E é nisso em que Melissa se apega para acordar todos os dias motivada e sem desistir.

– Ele teve de reaprender a jogar futebol, coisa que ele fazia muito bem já antes. Quando conheci a fundo a história dele, eu pensei: eu sei o que ele passou. Eu gosto dele não só como jogador, mas como pessoa. Eu fico muito feliz quando vejo ele com a camisa do meu time. É um presente – contou.

Melissa, então, teve a oportunidade de realizar um de seus sonhos. Com a mãe e uma amiga, trocou os cadernos, a cama e os estudos por um dia especial: ir ao CT do Almirante só acompanhar um dia de treinamentos do seu time do coração – isso era o que ela pensava. Mal sabia a torcedora do Vasco o que lhe esperava. Sentada em sua cadeira de rodas, de costas para o campo, não viu Leandro Castan se aproximar.

– Boa tarde. Você é a Melissa? – perguntou o capitão do Vasco.

– Ai, meu Deus do céu. Gente… – respondeu, quase que sem palavras, a Melissa.

– Eu fiquei sabendo que você é vascaína e gosta de mim. Então, eu trouxe uma camisa com o meu número – disse Castan, entregando o presente.

– Eu posso te abraçar? Caramba, você é de verdade. Ele é de verdade mesmo. Eu estou muito emocionada. O ar está me faltando. É uma emoção muito forte. Eu estou realizando um desejo de estar aqui, é algo muito emocionante.

Nascia, ali, uma amizade. Em quase uma hora de bate-papo, Leandro Castan e Melissa conversaram sobre tudo. Trocaram experiências.

– Eu fiquei muito lisonjeado de saber que você gosta da minha história. E me deu uma energia muito boa por saber que você está superando, que passou no vestibular. Você é uma guerreira. Eu me identifico muito, também. Acredito que esses desafios aparecem para pessoas que são fortes mesmo, que são guerreiras. Tenho certeza que você vai conseguir superar esses problemas – disse Castan.

– Pode contar comigo, agora que a gente se conhece, que vamos fazer o que estiver ao meu alcance. Como falavam para mim quando eu estava doente, que eu nunca estaria sozinho, pode ter certeza que você está ganhando uma família – completou o capitão cruz-maltino.

A surpresa, porém, aumentou. Pikachu, Rossi, Fellipe Bastos e Talles Magno se juntaram a Leandro Castan, fizeram uma verdadeira roda de resenha e ganharam presentes da Melissa, que avisou: “vocês vão me matar do coração”. Ela levou suspiros embrulhados dois a dois e broches para os jogadores do Vasco.

“Seja a melhor versão de você mesmo”, dizia o broche entregue para Leandro Castan.

– É o melhor presente que eu poderia ganhar. Tem de relembrar isso sempre, para toda vez que você passar por algo ou esquecer da sua história – disse o zagueiro.

Melissa e Leandro Castan

As risadas, os suspiros e as doses extras de energia continuaram. Entre uma história e outra, Melissa recebeu um convite especial de Leandro Castan: ir a São Januário assistir a um jogo do Vasco. Isso, inclusive, já estava nos planos da torcedora.

Depois do diagnóstico e sem poder realizar um de seus sonhos, Melissa iniciou acompanhamento psicológico e escreveu, em uma cartinha, os seus desejos. Entre eles, estava “assistir a um jogo do Vasco em São Januário”. E ela vai, uniformizada com a camisa autografada por todo o elenco com a qual o clube a presenteou. A torcedora vai à Colina nesta segunda-feira ver de perto os seus novos amigos em ação contra o Cruzeiro, às 20h30, pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro.

E que esse seja só mais um dos tantos sonhos que Melissa tem para realizar, porque no dia 8 ela tem vestibular para tentar, mais uma vez, dar o primeiro passo para virar médica.

Globo Esporte

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