Diretor do Consórcio Maracanã ‘anula’ direito do Vasco e defende luta do Flu
Marcelo Frazão, diretor de marketing da Concessionária Maracanã, fala com franqueza sobre a nova realidade.
O primeiro clássico do Campeonato Carioca de 2015, neste domingo, será fora do Maracanã. A polêmica envolvendo o lado das torcidas no estádio é apenas uma das faces de um desafio que o futebol brasileiro ainda tenta vencer: conviver com as novas arenas. Num futebol em que, tradicionalmente, colocar torcedor no estádio é desafio, as novas estruturas, com alto custo de manutenção, aparentam ser desproporcionais à maioria dos jogos.
Em entrevista ao GLOBO, Marcelo Frazão, diretor de marketing da Concessionária Maracanã, fala com franqueza sobre a nova realidade. Admite que as novas arenas impõem uma ruptura cultural e geram uma equação difícil de resolver: pressionam preços dos ingressos para cima em eventos de demanda baixa. Ele explica, ainda, a operação que “reduziu o tamanho” do estádio, para adequá-lo ao Estadual.
Como funciona este Maracanã reduzido no Estadual? Por que não concentrar o público no setor central, oferecendo melhor visão?
Fala-se em Carioquinha. Fizemos um “Maraquinha”. É impossível tornar um estádio de 76 mil lugares viável para estes jogos pequenos do Estadual. A ocupação tem sido 15%, 17%. Fizemos um corte no estádio para 30 mil pessoas. Não abrir o Leste não é um boicote ao produto. Os setores são como prédios distintos. Já tenho que abrir o Oeste, por causa das cativas, da imprensa, por ser o prédio principal. Então, tenho economia total do outro lado. Sei que o Leste é a janela do produto, o que aparece na TV. Mas nem poderia usar a área inferior porque o Gepe não permite organizadas ali. Baixamos em 50% o custo. Você fala em falta de zelo, mas também é muita falta de zelo marcar um Flamengo x Cabofriense, com TV aberta, às 22h, para este estádio. Quem paga a conta? Eu já sangro abrindo só para 30 mil lugares e recebendo 10 mil pessoas. Não posso sangrar mais.
Mas o prejuízo não é dos clubes?
São contratos diferentes, mas eu corro o risco. Não é como em shows, em que a promotora aluga a casa. Aí o risco é dela. Com o Flamengo cobramos algo perto de R$ 10,34 por pessoa presente, até um limite de R$ 300 mil. Mas meu custo é muito maior do que R$ 10,34. Num jogo vazio, todos perdem. O Palmeiras teve R$ 900 mil de custo contra o Corinthians num estádio de 40 mil pessoas. Tenho prejuízo jogo a jogo. O Fluminense, nos jogos dele, tem a receita atrás dos gols. O custo é meu. Ganho no restante do estádio e preciso ter público nos outros setores. No Flamengo x Boavista, com 24 mil pessoas, conseguimos zerar a conta.
Então, abrir só parte do estádio é um alívio para o Maracanã?
Quem tem que minimizar custo sou eu. Já tivemos prejuízo de R$ 250 mil neste Estadual. E isto é 40% a menos do que em 2014. Houve um alinhamento com os clubes para discutir o tabelamento que a Federação impôs. Se a gente não se proteger juntos do produto Campeonato Carioca, é ruim para todos. A intervenção nas nossas relações comerciais, a opressão nos fez dialogar. E há um aspecto simbólico. Colocar estes jogos no Maracanã e na TV ajuda a mostrar que o produto tem problema.
Quem errou no planejamento do último Flamengo x Boavista?
Não houve erro no espaço destinado. Havia 30 mil lugares e vieram 24 mil pessoas. Sobrou. Houve erro conjunto de expectativa de público. Esperávamos 15 a 18 mil. A venda antecipada apontava isso. Mas vendemos 15 mil ingressos em duas horas, já com portões abertos. Totalmente fora do padrão. Abrimos 66 dos 92 guichês, mas mesmo com todos haveria fila. Foi o menor índice de venda na internet em jogos do Flamengo: só 4% e o normal são 15%.
Qual o mundo ideal?
Flamengo e Fluminense com estádio de 20 a 25 mil pessoas e jogando aqui só grandes jogos. O ideal seria só abrir para mais de 30 mil. Como há outras receitas, como camarotes, dá para falar 25 mil.
O Estadual sempre teve muitos públicos pequenos. Caso se pense num plano de recuperação, cobrando barato para encher estádios e valorizar o torneio, como usar o Maracanã?
O Maracanã não poderia fazer parte, nem qualquer outro estádio novo, com a estrutura atual. É a triste realidade, é dura. Quando se adota uma estrutura física deste tamanho para o futebol, é impossível praticar a precificação de antes. É matemática a questão. O estádio não foi feito para isso.
As novas arenas impõem uma nova cultura?
Sem dúvida. Quem paga a conta? Se o governo fizer ingresso estimulado com INSS, ou alguma empresa patrocinar a Federação e pagar conta… Mas aqui é clube e Maracanã pagando a conta. A TV foi a forma de viabilizar financeiramente o campeonato nos últimos tempos. São campeonatos feitos para ser um belo produto de TV. Eu, Maracanã, sou o ente do futebol que mais depende da bilheteria. O Maracanã e os novos estádios. Vivo de bilheteria. Sou estranho à festa e só participo do ônus. A TV, na lógica atual, compensa o baixo público para os clubes. Mas há um novo ente financeiro que não recebe da TV, e nem deveria, e depende da bilheteria. Para nós, o interessante seria receber só os clássicos da primeira fase e as finais. O estádio não foi feito para jogos assim (jogos vazios entre grande e pequeno).
Mas no Campeonato Brasileiro há jogos com menos de 20 mil pessoas.
Mas há grandes jogos que compensam. E menos eventos de TV aberta competindo com o estádio. A gente já compete com opções de entretenimento, falta de serviços, questões de violência… A gente brinca que o cara que chega aqui após 21h para Flamengo x Cabofriense merece um prêmio.
A tradição do futebol brasileiro é de baixa ocupação de estádios. E as novas arenas elevam o preço de ingressos que já encalhavam…
Tem razão. Em 1971, a média do Brasileiro foi de 20 mil. A população se multiplicou e a média está em 16 mil. O futebol já devia ser deficitário no estádio antigo. É natural que na nova estrutura o clube aumente o preço para ser competitiva. Há um histórico encalhe de ingresso e uma base popular que se sentirá frustrada. Não é uma equação fácil.
Existe público para frequentar continuamente os setores mais caros?
Começamos a detectar. Respeitando o lugar marcado no setor central, área mista de torcida, torcedores rivais podendo ver o jogo juntos, há atração de um público novo. E tendo ocupação destes setores, com um público total de 30 a 35 mil, dá para manter preço mais popular atrás do gol.
Por que o Maracanã assinou a nota com Flamengo e Fluminense contra a Federação?
Da forma como o tabelamento havia sido feito, não teria Maracanã no Estadual. Não havia sentido. Por exemplo, o jogo noturno custa mais caro, por causa da luz. E no tabelamento era o mais barato. Nos jogos do Fluminense, não posso cobrar o dobro no meio do campo. Ficaria sem público lá.
Qual a posição em relação ao lado das torcidas de Fluminense e Vasco?
Nossa posição é cumprir o contrato. O Fluminense foi o primeiro clube a negociar conosco. E foi um dos pontos que ele conquistou, ficar do lado direito. E já houve três Fluminense x Vasco aqui desta forma. Eu gostaria de estar recebendo um Vasco x Fluminense. É importante para o Maracanã.
E quando o Vasco for mandante? Ele “alugará” o Maracanã e poderá ficar à direita?
O Fluminense, por contrato conosco, tem direito de ficar à direita sendo ou não mandante. Só poderia ser feito de outra forma com um acordo com o Fluminense.
O Globo